Augusto Nunes – Jornal do Brasil
"Ninguém bateu no ar, tá?", zangou-se Denise Abreu, diretora da Agência Nacional da Aviação Civil, no meio da entrevista concedida à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. "Então, o acidente não tem nada a ver com o número de vôos
Denise sempre se zanga quando confrontada com questões incômodas. Em outubro passado, dias depois da queda do Boeing da Gol na selva de Mato Grosso, perdeu a paciência com as perguntas de parentes que teimavam em enterrar seus mortos. "O avião caiu de 11 mil metros de altura", esbravejou. "Vocês são inteligentes. O que esperavam? Corpos?".
Em março, a advogada favorecida pelo amigo José Dirceu com o empregão na Anac mostrou que, por trás da irritadiça vocacional, há uma festeira das boas. Em todos os aeroportos, multidões amargavam a escala na estação do calvário imposta por controladores de vôo amotinados. Numa alegre noitada em Salvador, Denise fumava um charutão. Estava feliz.
Tão feliz quanto na quinta-feira passada, menos de dois dias depois da tragédia
"Estamos todos com o coração sangrando", juraria horas mais tarde o presidente Lula. Nem todos, ressalvara o meio sorriso da diretora da Anac. Além da medalha no peito, Denise tinha a alma
Não necessariamente: as coisas às vezes se confundem. Em princípio, por exemplo, um dirigente da Anac é um dirigente da Anac, um idiota é um idiota. A tentativa de desvincular o colapso aéreo do horror em Congonhas comprova que Denise é dirigente da Anac e é idiota também. Uma genuína idiota-do-cerrado.
Sejam fêmeas ou machos, não é difícil identificar os exemplares da subespécie que encontrou seu perfeito habitat no território administrado pelo Palácio do Planalto. Em público, idiotas-do-cerrado vivem prontos para a guerra. Em particular, comemoram até a desgraça alheia. Uma notícia ruim para os outros pode ser boa para o governo. E vale uma festa.
A fêmea Denise Abreu, depois de ter repreendido parentes de mortos insepultos, celebrou com baforadas o motim dos controladores. Era a prova de que o sistema aéreo vai bem. O problema estava nos salários dos sargentos, aviltados por governos anteriores. O macho Marco Aurélio Garcia, uma boca à espera de um dentista, saudou com o mais ultrajante top-top-top a descoberta do defeito mecânico no avião que explodiu. Era a prova de que o sistema aéreo vai bem. Se o culpado fora o piloto, o problema é da TAM, não do governo. Quanto aos parentes das vítimas, que se queixem à empresa. Ou aos governos anteriores. Ou ao bispo.
Os idiotas-do-cerrado são primos e parceiros dos cretinos fundamentais, instalados numa ala vizinha do zoológico federal. Ali se ouvem zurros de Milton Zuanazzi, uivos de José Carlos Pereira, miados de Waldir Pires ou gorjeios de