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Central de Boatos


Jessé Souza

O nome do quadro não poderia ser outro: “Central de Boatos”. E o tema de domingo foi “Devemos temer a Venezuela?”. Trata-se de uma dupla de paletó preto que passa no Fantástico, aos domingos, tentando fazer humor, se esforçando para ser engraçada.

Os dois vieram a Roraima e se dirigiram para Pacaraima, onde simularam cães de guarda e a construção de um muro com arames farpados para impedir que Hugo Chávez invada o Brasil.

Eram alternativas nada engraçadas para os brasileiros se defenderem de um ataque militar do exército venezuelano.

O que eles fizeram foi corroborar com os boatos que surgem por aqui, a respeito de invasões pela fronteira, ocupação de terras por estrangeiros e guerras imaginárias numa teoria da conspiração que transforma os que lutam por seus direitos em lesa-pátria.

Quem mora em Roraima e visita Santa Elena de Uairén sabe que a invasão é inversa: são os brasileiros que se atiram na BR-174 para comprar gasolina e cerveja, e voltam com seus “carrosbombas” em alta velocidade e se matam e matam os outros.

O Exército venezuelano apronta das suas, se excede muitas vezes, exige propina para não ser rigoroso na fiscalização e não faz questão de ser gentil. Nós, os brasileiros, também aprontamos das nossas, usamos o antigo jeitinho brasileiro em terras bolivarianas e sabemos falar a linguagem da propina.

Aprendemos rapinho a construir “transmoambeiras”, a transformar descaminho de combustível em um bom negócio e contrabando de cerveja em máquina de fazer dinheiro rápido e fácil. E ainda temos os argumentos na ponta da língua: “Não temos emprego”.

E não temos mesmo. Porque o governo local nunca efetivou um projeto consistente e os produtores de pescoço grosso que alardeiam geração de emprego e renda, na verdade, só geraram riqueza para eles mesmos. Estão ricos, enquanto o povo está pobre e o Estado minguado.

Sem opção, o roraimense invade a Venezuela para comprar seus eletrônicos pela metade do preço praticado aqui, sua gasolina infinitamente mais barata do que o da Petrobras e sua cerveja ruim, que não desce redondo, mas é vendida a preço de banana.

Chávez pode ter a língua solta, mas é o único presidente da América Latina que enfrenta o poderio norte-americano e que luta para que no seu país não ocorra o que se vê com os demais: a perda da soberania monetária – e por isso é alvo de ataques da mídia que defende as políticas ditadas pelo Banco Mundial e com o Fundo Monetário Internacional.

A Central de Boatos caiu como uma luva para os falsos nacionalistas que temos por aqui. Porque o que essa gente quer é enraizar na cabeça dos roraimenses o pânico e as teorias da conspiração para que os deixemos em paz, livres para praticar o que sempre praticaram: ganhar mais dinheiro e voto à custa da ignorância do povo.

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