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Livro no qual José Genoino se defende das acusações do mensalão vence concurso de ensaio social da Biblioteca Nacional


Cláudia Lamego *

RIO - O livro "José Genoino - Escolhas políticas", sobre o deputado petista José Genoino - um dos investigados pelo Supremo Tribunal Federal por envolvimento direto no escândalo do mensalão como então presidente do PT - ganhou o prêmio Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Biblioteca Nacional na categoria ensaio social. A autora, Maria Francisca Pinheiro Coelho, professora de sociologia da Universidade de Brasília, que diz já ter sido filiada ao PT, conheceu Genoino no movimento estudantil e chegou a ser presa, com ele, no Congresso da UNE em Ibiúna. O prêmio, concedido também em outras sete categorias, é de R$ 12.500.

A maior surpresa foi o resultado do prêmio Machado de Assis, conferido ao melhor romance do ano. A vencedora foi a tradutora e poeta Idalina Azevedo da Silva, por "O tempo físico" (Scortecci). Pouco conhecida no meio literário brasileiro, ela é professora do Departamento de Letras da UFRJ, onde é colega de um dos jurados, Manuel Antônio de Castro. Ele diz que o livro de Idalina foi escolhido pelo "modo de narrar aliciante" e por uma "oralidade muito difícil de realizar". (Confira a lista de premiados)

No júri que escolheu o livro de Genoino havia pelo menos duas pessoas próximas a Maria Francisca: Maria Angélica Madeira, sua colega no departamento de sociologia da UnB, e Barbara Freitag, com quem editou em 1993 o livro "Marx morreu: Viva Marx!" (Papirus) e sobre quem co-organizou um livro, "Itinerários de Bárbara" (Editora Universidade de Brasília). A terceira jurada foi a historiadora Isabel Lustosa.

Maria Francisca não quis comentar o prêmio e conta que o livro já estava quase pronto em 2002, mas que decidiu ampliá-lo durante o período em que Genoino estava na presidência do PT e que então petistas como Heloísa Helena foram expulsos do partido. Sobre a crise do mensalão, a autora nada escreveu, dizendo que "é um processo que está em julgamento". Ela limitou-se a publicou entrevista com Genoino, na qual ele se defende das acusações:

- Acrescento três entrevistas com ele no fim do livro. Não falo da crise. Dei voz a ele.

Segundo a autora, que começou a produzir o livro em 1997, a obra nasceu de uma iniciativa da UnB de retratar políticos importantes no país. Cristovam Buarque (PDT) e Roberto Freire (PPS) já foram retratados na série. Sobre as possíveis críticas, diz que Genoino foi um personagem importante da história.

- Não é um livro encomendado, não tenho compromisso com a pessoa. A história dele é interessantíssima, é a história de uma época. Ele se entregou a uma causa libertária, foi preso, torturado, e depois se tornou um parlamentar que era considerado uma unanimidade.

Isabel Lustosa diz que Maria Francisca é uma socióloga conhecida e respeitada e que seu livro era conhecido no meio acadêmico, mas foi "atropelado pelos fatos", numa referência à crise do mensalão.

- É um livro sobre uma época, e é anterior a tudo isso que aconteceu.

Barbara Freitag, que foi orientadora da autora na UnB (da qual já é aposentada) e é amiga de Maria Francisca, afirma que o livro atendia aos critérios da premiação e que é um "extraordinário trabalho de pesquisa e reconstrução histórica de um período negro do país", referindo-se à ditadura militar. Ela não vê impedimento ético na participação do júri:

- A crítica pode vir do lado de vocês (imprensa). Dou muitos pareceres. Se fosse levantada a questão de alguém que conheço estar sendo julgado, aí não teria como eu constituir nenhum júri. Enquanto professora e autora conheço muita gente. Esse é o meu métier.

O presidente da Biblioteca Nacional, Muniz Sodré, diz que o júri é soberano para decidir o prêmio.

Biografia de Dom Pedro II era uma das concorrentes

A biografia de José Genoino venceu outros dois concorrentes: "Dom Pedro II - Ser ou não ser", do historiador José Murilo de Carvalho, e "A passagem do três ao um", do sociólogo Leopoldo Waizbort, que aborda a obra do crítico literário Antonio Candido. Segundo Barbara Freitag, os três faziam parte de uma lista tríplice escolhida pelas três juradas. Ela admite que Genoino é um personagem controverso, mas diz que a pesquisa histórica do livro pesou na escolha:

- O livro do Leopoldo está na fronteira entre um trabalho de sociologia e crítica literária. A categoria era ensaio social. Gostei muito do livro do José Murilo, mas ele não é exatamente um trabalho de pesquisa.

Em outra premiação controversa, a Funarte concedeu, entre outros escolhidos, uma bolsa literária de R$ 30 mil a um dos ex-assessores do Ministério da Cul$, Luiz Arthur Toríbio. Hoje assessor do senador Adelmir Santana (DEM-DF), Toríbio diz que foi assessor do MinC até janeiro de 2005, que não há nada no regulamento que impeça a participação de ex-funcionários do governo e que não conhece os jurados. Celso Frateschi, presidente da Funarte, diz que a "decisão dos jurados é soberana".

No caso da Biblioteca Nacional, outros premiados tinham relações de amizade ou profissional com membros do júri.

* COLABOROU Miguel Conde

Comentários

Luiz Maia disse…
É piada, né! Não pode ser sério. A Biblioteca Nacional não se prestaria a esse papel ridículo, vergonhoso... Um criminoso nacional é edificado por um prêmio que, parecia, ser sério e honesto. Fala sério!

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