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''Fui impedido de fazer carreira por ato de força''

Para ex-radiotelegrafista, guerrilheiros de esquerda e agentes do Estado se equipararam e devem ser tratados de modo igual



Vannildo Mendes

Radiotelegrafista "dos bons", como se define, o ex-cabo da Aeronáutica Waldir da Silva Camêlo atuou em várias frentes da repressão política nos anos de chumbo, inclusive na base montada pelas Forças Armadas no município de Aragarças (GO), para combater a guerrilha do Araguaia (1971-1974). Ele diz que agiu só em operações de inteligência.

De qualquer forma, defende igualdade de direitos, pois a seu ver guerrilheiros de esquerda e agentes do Estado que combatiam a subversão se equiparam. "Se um lado fazia em nome do Estado, o outro fazia por convicção ideológica", afirma. "Uma coisa compensou a outra."

Em 1962, Waldir tentou carreira de fuzileiro naval no Rio, mas diz que não gostou da "bagunça", referência às agitações políticas da Marinha nos anos do governo João Goulart, que antecederam o golpe militar de 1964. Três meses antes, ele entrou na Aeronáutica, em Brasília, num grupo recrutado para substituir um pelotão revoltoso, preso em setembro de 1963 no episódio conhecido como "revolta dos sargentos". Após 8 anos e 9 meses servindo à ditadura, foi afastado da carreira, atingido pela Portaria 1.104, do Comando da Aeronáutica.

A portaria fixava em 8 anos o prazo máximo de permanência no posto para soldados e cabos das Forças Armadas. Segundo os comandos militares, a medida era de cunho administrativo para forçar a progressão na carreira e combater a crônica estagnação funcional.

Oficial aposentado da Polícia Militar do Tocantins, hoje Waldir é próspero advogado em Goiânia, especializado em anistia de militares. Suplente de deputado do DEM, ele não revela sua renda, mas ostenta elevado padrão social.

Como o senhor qualifica o movimento de 1964?

Para mim não foi golpe ou ditadura. No máximo, foi um governo de punho, ou - diria - de pulso um pouco acima do normal.

Por que reivindica a anistia?

O Exército puniu seus comunistas, expulsando, prendendo ou eliminando. A Aeronáutica foi mais truculenta porque não puniu só os comunistas, herodizou toda a tropa de soldados e cabos.

Como assim?

A Portaria 1.104 foi um ato de violência generalizada, de natureza exclusivamente política, para prevenir presumidas rebeliões futuras de cabos e soldados. Foi também uma revanche do regime contra rebeliões anteriores. Colocaram todos na vala comum. Eu fui injustiçado porque queria fazer carreira e fui impedido por um ato de força.

Mas a anistia é destinada a reparar quem foi perseguido pelo regime, não os perseguidores.

A lei não pode ter pesos diferentes para situações iguais. Guerrilheiros de esquerda e agentes do Estado que combatiam a subversão se equivalem. A anistia foi concedida de forma gradual, mas virou geral e irrestrita e abarcou a todos, lá e cá. O que dá para rir dá para chorar. Se de um lado houve pessoas que pesaram na mão, torturaram, de outro houve pessoas em pé de igualdade, como os que praticaram crimes de terrorismo. Uma coisa compensou a outra.

O senhor acha justificável o terrorismo de Estado?

É verdade que morreram mais pelas mãos da revolução, mas o outro lado também fez vítimas. O fato é que se um lado era ruim, o outro não era bom. De diabo a capeta, tudo era cão. Se um fazia em nome do Estado, o outro fazia por convicção ideológica.

O senhor participou das ações de repressão política?

Não diretamente. Mas como radiotelegrafista, dos bons como eu fui, muita coisa passou por mim. Atuei em Carolina (MA) e por um bom tempo em Aragarças (GO).

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