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Governo quer barrar orçamento impositivo

Presidente e ministros traçam estratégia para evitar aprovação do projeto no Congresso

João Villaverde / O Estado de SP

Brasília

O governo federal está muito preocupado com as chances, cada vez maiores, de que já em 2014 comece a ser executado o “orçamento impositivo”. A presidente Dilma Rousseff conduziu na segunda-feira uma reunião com quatro ministros – Guido Mantega (Fazenda), Miriam Belchior (Planejamento), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) – para definir uma estratégia de defesa da visão do governo. 


Em entrevista ao Estado, a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, afirmou que o projeto que está na iminência de ser votado pelo Plenário da Câmara cria “condições ainda piores” para a execução orçamentária, já “muito amarrada” por conta de gastos exigidos por lei. Cerca de 88% das despesas do orçamento, segundo Miriam, são obrigatórias e, portanto, engessadas. Ou seja: o governo não pode deixar de fazer. 


A ordem é evitar, a qualquer custo, que os deputados aprovem o projeto de emenda constitucional (PEC) que altera totalmente a forma como o Orçamento é executado. Mas, caso o Congresso Nacional aprove, o governo vai entrar no Supremo Tribunal Federal acusando de inconstitucional o projeto.

Novas amarras

 
O “orçamento impositivo” fixa duas grandes regras novas para o governo federal. O Executivo será obrigado a gastar 1% das receitas correntes líquidas em emendas parlamentares. E, caso a lei de diretrizes orçamentárias (LDO) não seja aprovada pelo Congresso até dezembro do ano anterior, o governo só poderá gastar por mês 1/12 das despesas de custeio obrigatórias, o que restringe ainda mais a situação vigente hoje. 


“Ou seja, se os parlamentares não aprovarem o orçamento, que é atribuição deles, não é minha, o governo não poderá executar as políticas públicas no País que não sejam obrigatórias”, disse a ministra do Planejamento. Ela citou como exemplos as políticas de combate ao crack, “que não poderão ser feitas”, o fato de Exército não poder comprar comida para as tropas, a Previdência não poder fazer atendimentos nos postos do INSS ou o Brasil Sem Miséria pagar o Bolsa Família, “que é obrigatório, mas não faz as demais atividades”.

Emendas

 
Por outro lado, o governo será obrigado a empenhar recursos nas emendas parlamentares, de forma a cumprir a exigência de gastar 1% da receita corrente líquida (cerca de R$ 7 bilhões) com essas transferências voluntárias. 


“Se a entidade ou a prefeitura objeto da emenda não apresentar um projeto bem feito, como muitas vezes ocorre, eu tenho de contratar mesmo assim? Com o novo orçamento, sim. Se surgirem problemas, não será o parlamentar que vai responder, mas o gestor de cada ministério ou órgão federal que liberar o recurso. Será o CPF do gestor público que estará em jogo”, disse Miriam. 


De acordo com a ministra do Planejamento, o governo trabalha para ampliar a flexibilidade do Orçamento, e pretende inserir na LDO de 2014 um dispositivo que permita ao Executivo desempenhar também 1/12 de investimentos em caso de o Orçamento não ser aprovado até dezembro, e não apenas com despesas de custeio. 


“Estamos indo na direção de ampliar os investimentos e os gastos cruciais, e não no sentido de amarrar ainda mais o governo, como ocorrerá com o orçamento impositivo. Essa não é uma boa proposta, definitivamente”, afirmou Miriam. 


O relatório da PEC que cria o “orçamento impositivo”, de autoria do deputado Edio Lopes (PMDB-RR), conta com o apoio direto do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).


O texto deve ser aprovado nos próximos dias na comissão especial que analisa o tema, e em seguida vai para o Plenário da Câmara. 


Prioridade para emendas


O orçamento impositivo modifica completamente a forma como o governo federal administra seus gastos. Quase 90% de todas as despesas do orçamento são engessadas, isto é, referem-se a gastos obrigatórios, como salários e encargos de servidores, benefícios do Bolsa Família e manutenção da máquina federal. Quando é necessário apertar o cinto, o governo opta, sempre, por reter no caixa federal os recursos que irrigariam as emendas parlamentares. 

Cada parlamentar tem o direito de empenhar R$ 15 milhões em emendas, direcionadas a prefeituras e entidades, como ONGs, em suas bases eleitorais. Em 2012, o governo pagou menos da metade disso – em média, cada parlamentar teve R$ 6 milhões em emendas. Neste ano, o ritmo é semelhante. 


Esta é a mudança fundamental colocada pelo “orçamento impositivo”. Com ele, os parlamentares invertem a lógica orçamentária tradicional e o gasto com as emendas passa a ser obrigatório.


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