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Câmara aprova pôr na Constituição doação de empresas a partidos políticos

Decisão visa evitar que STF vete financiamento de empresas a campanhas.

Emenda aprovada permite que candidato receba doação só de pessoa física.


Nathalia Passarinho | G1, em Brasília

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (27) incluir na Constituição Federal autorização para que empresas façam doações de campanha a partidos políticos, mas não a candidatos. As doações a candidatos serão permitidas a pessoas físicas, que poderão doar também para partidos. O texto foi aprovado por 330 votos a favor e 141 contra.



A proposta de emenda à Constituição que altera o sistema eleitoral e político do país começou a ser votada na Câmara nesta terça (27). Um acordo entre líderes partidários definiu que cada trecho da PEC, como o financiamento de campanha, seria votado individualmente no plenário. Para ir ao Senado, a proposta, com todos os trechos que forem aprovados, precisa passar em dois turnos na Câmara, com os votos de pelo menos 308 deputados.

No início da madrugada de quarta, o plenário rejeitou emenda de autoria do PMDB que previa doação de pessoas jurídicas tanto a partidos quanto a campanhas de candidatos. A derrubada foi considerada uma derrota do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do vice-presidente Michel Temer, que negociaram pessoalmente a votação do artigo da PEC.

O PMDB, então, se empenhou para aprovar, pelo menos, uma emenda que garantisse a doação de empresas aos partidos políticos. Outras siglas da base aliada e da oposição defenderam a proposta, como o PR. “Esse é o texto mais equilibrado que temos. Impede a doação a varejo aos candidatos, mas permite a doação aos partidos. Posteriormente as leis estabelecerão limites a essas doações”, disse o líder do PR, Maurício Quintella Lessa.

O PT, porém, se posicionou contra. O vice-líder do partido Alessandro Molon (PT-RJ) defendeu a derrubada da emenda para que negociassem, posteriormente, uma solução em projeto de lei que garantisse maior “equilíbrio” na distribuição de recursos de campanha.

“Se derrotarmos, teremos tempo para conseguir uma solução para todos nós. Hoje, pela regra, qualquer um de nós pode receber, partidos e candidatos. Se essa emenda for aprovada, só os partidos poderão receber recursos. Vamos encontrar uma solução que estabeleça uma distribuição equânime”, defendeu.

Já o deputado Celso Russomanno (PRB-SP), autor da emenda, defendeu que a proposta de permitir doação de empresa apenas a partidos tornaria mais "justa" a distribuição dos recursos. "É uma forma mais justa de financiamento, afinal de contas a distribuição do que será doado pelos empresários aos partidos poderá ser distribuído aos seus candidatos", afirmou.

Mais cedo na sessão desta noite, a Câmara derrubou duas outras propostas de financiamento, uma que previa doação de pessoas físicas a partidos e candidatos e outra que instituía o financiamento exclusivamente público de campanha.

O uso somente de dinheiro público para pagar campanhas eleitorais é defendido pelo PT, mas o próprio partido, sentindo que não havia clima para aprovar o texto, não fez uma defesa enfática da proposta em plenário.

Como é hoje

Atualmente, o financiamento de campanha no Brasil é público e privado. Políticos e partidos recebem dinheiro do Fundo Partidário (formado por recursos do Orçamento, multas, penalidades e doações) e de pessoas físicas (até o limite de 10% do rendimento) ou de empresas (limitadas a 2% do faturamento bruto do ano anterior ao da eleição).

Essas regras, porém, não estão previstas na Constituição Federal e foram questionadas por uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adi) que tramita no STF. Em abril de 2014, o Supremo interrompeu o julgamento da ação quando a maioria dos 11 ministros da Corte já havia votado a favor da proibição de doações de empresas a partidos políticos e campanhas eleitorais.

A interrupção foi provocada por um pedido de vista (mais tempo para analisar a matéria) do ministro Gilmar Mendes. Desde então, o magistrado ainda não levou o voto ao plenário, e o julgamento permanece suspenso. A intenção do PMDB em incluir a autorização de doação na Constituição era evitar que o STF pudesse vir a vetar esse tipo de financiamento quando prosseguir com o julgamento.

Discussão

A discussão sobre financiamento eleitoral causou polêmica no plenário e gerou bate-boca entre os deputados quando Cunha anunciou que colocaria em votação o modelo que permite doações por empresas para partidos.

Parlamentares do PT, PSOL e PCdoB protestaram contra a manobra argumentando que essa modalidade já havia sido rejeitada na noite de terça-feira quando foi votada uma emenda que previa doações de empresas tanto para partidos quanto para candidatos.

“Não é correto, não é democrático. É antiético”, criticou o líder do PSOL, deputado Chico Alencar (RJ). “Não se pode votar matéria vencida”, emendou a líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ).

O líder do PT, Sibá Machado (AC), tentou argumentar que Cunha tinha deixado claro na noite de quarta que a rejeição da emenda, por tabela, já derrubava o texto do relator.

Cunha rebateu afirmando que havia se equivocado, mas que ainda seria preciso votar o texto do relator, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que estabelece doações de pessoas jurídicas somente para partidos (excluindo candidatos). Partidos como PSDB e PSD o apoiaram.

Sistema eleitoral

Na noite de terça (26), primeiro dia de análise da reforma política em plenário, a Câmara decidiu manter o atual modelo de escolha de deputados federais, deputados estaduais e vereadores.

O PMDB defendia o modelo chamado "distritão", que institui eleição majoritária. Seriam eleitos, assim, os candidatos mais votados em cada estado ou município, sem levar em conta os votos para o partido ou a coligação.

Já o PT fechou questão contra a proposta, o que, pelo regimento interno da sigla, significava que os parlamentares que descumprissem a orientação de votar contra o “distritão” poderiam ser punidos internamente ou até expulsos do partido.

Apesar dos esforços do PMDB pelo “distritão”, o PT acabou vencendo a disputa, e a proposta de alteração no sistema eleitoral foi derrubada.Com isso, Cunha anunciou a manutenção do atual sistema proporcional de lista aberta. Pelo sistema atual, mantido pelos deputados, é possível votar tanto no candidato quanto na legenda.

Os votos nos candidatos e na legenda são somados, e é calculado um quociente eleitoral, que determina o número de vagas ao qual o partido ou a coligação terão direito. Essas vagas são preenchidas pelos candidatos do partido ou da coligação que obtiveram mais votos.

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