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A portas fechadas, Renan se complica e não explica

“Em seu último gesto antes de ser julgado pelo Conselho de Ética, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou, segundo os relatores, que seu motorista sacava periodicamente pequenos montantes de dinheiro na Costa Dourada Veículos, em Maceió.


Renan falou a portas fechadas, por cerca de duas horas, aos relatores -Renato Casagrande (PSB-ES), Marisa Serrano (PSDB-MS) e Almeida Lima (PMDB-SE)- e ao presidente do conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO). A intenção era sanar inconsistências em seus documentos apontadas na perícia da PF.


Segundo os relatores, ele não forneceu nenhum documento novo e só apresentou versões, a maioria já conhecida, sobre os pontos contestados pela PF.


"Pode ser que até o dia 30 [data da apresentação do relatório] me convença, mas hoje não estou convencida", disse Marisa Serrano. "Ficaram muitas dúvidas", disse Casagrande.


Do outro lado, o aliado do presidente do Senado, Almeida Lima, anunciou sua posição. "Não tenho elementos para cassar o senador Renan Calheiros", disse, antecipando que fará um relatório alternativo.

Empréstimo: O ponto mais polêmico na explanação de Renan foi sobre o empréstimo de R$ 178 mil que ele tomou da locadora Costa Dourada Veículos, de propriedade de Tito Uchôa, suspeito de ser laranja do senador. Segundo a PF, Renan não declarou no Imposto de Renda nem registrou em cartório as duas notas promissórias - R$ 214,89 mil e R$ 294,56 mil - referentes ao empréstimo. A Costa Dourada recebeu dinheiro de empresas públicas de Maceió.


O argumento de Renan é que o dinheiro do empréstimo serviria para arcar com pequenas despesas no Estado e não teriam sido declaradas por discrição, da mesma forma que teria feito com a pensão paga à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.


Segundo os relatores, ao dizer que o motorista sacava periodicamente pequenos montantes do empréstimo na empresa, Renan complicou mais sua vida financeira "paralela". Ao deixar a reunião, o senador disse estar satisfeito com o laudo e sentenciou: "Ele não fala sequer em irregularidade, fala em incongruências e inconsistências, que são desencontros de informação. Não tem a ver com quebra de decoro".

Escolta: Renan chegou ao depoimento escoltado por 14 seguranças -a média costuma ser três. Para surpresa dos relatores, que aguardavam explicações técnicas, ele iniciou sua fala dizendo estar vivendo um "calvário", e disse que a crise "atinge não só ele, mas a instituição".


Sobre outro ponto crucial o laudo, que trata dos rendimentos com gado e do custeio das fazendas, Renan alegou, segundo os relatores, que "é um setor desorganizado em Alagoas".


Argumentou que somente 22 produtores no Estado, ao qual se inclui, emitem notas fiscais. "A atividade rural é primária. Muitas das pessoas que trabalham nela não têm informação adequada, por isso há inconsistências", disse em entrevista.


Na questão das despesas das fazendas, afirmou que estão inseridas no espólio do seu pai. Também rechaçou irregularidades na alta taxa de fecundidade do seu rebanho e rebateu as inconsistências apontadas entre GTAs (guia para transportar gado) e notas fiscais. Segundo ele, elas não podem ser sobrepostas porque as GTAs não geram efeito tributário.”

Escrito por Josias de Souza

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