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PMDB troca história pelo poder

Nascida por decreto no regime militar para ser oposição, legenda domina governos desde a redemocratização



João Domingos

Registrado em 24 de março de 1966, logo depois da extinção dos partidos imposta pelo Ato Institucional nº 2 (AI-2), o MDB - que em 1980 passaria a ser PMDB - nasceu da tentativa do governo militar de imitar o bipartidarismo norte-americano. Por decreto, coube ao Movimento Democrático Brasileiro fazer oposição; a Aliança Renovadora Nacional (Arena) ficou com o papel de ser governo.

A fórmula deu certo por 16 anos. Em 1980, o fato de abrigar todas as correntes de oposição e a constante adesão de arenistas ao MDB levaram o então presidente João Figueiredo a reinstalar o pluripartidarismo para enfraquecer seus opositores. O MDB virou o PMDB.

"Pelos registros da nossa história recente, surpreende que o PMDB tenha resistido a tantas pressões de governos ditatoriais, divisões internas, esvaziamento, crescimento, novas divisões e se mantenha como a legenda de maior base no território nacional. É possível explicar. Sofrida, com maus e bons momentos, a história do PMDB é a história do Brasil que continuou pulsando a partir de 1964. Se manteve em movimento, com contradições, abrigou vários tipos de ideologias e tendências políticas, instigou, gestou outros partidos, mas se manteve no centro das discussões durante, na queda e após o regime militar", diz o texto de abertura da história do PMDB feito pela Fundação Ulysses Guimarães, mantida pelo partido.

Nada mais correto para explicar as origens do MDB, cujo papel era o de ser apenas opositor, inofensivo ao poder, e a guinada do PMDB. Eleita a chapa Tancredo Neves/José Sarney, em 1985, o PMDB jogou fora seu passado de oposicionista. Imediatamente se entranhou de tal forma no poder que todos os governos seguintes dependeram dele para governar. Fernando Collor (1990-1992) foi o que se manteve mais distante. Acabou sendo cassado, num processo por crime de responsabilidade.

Esse apego ao poder fez com que o partido abrisse mão de disputar a Presidência da República - concorreu em 1989, com Ulysses Guimarães, e em 1994, com Orestes Quércia, sem nenhuma perspectiva de vitória, e apanhou feio. Preferiu, sempre, se fortalecer em Estados, municípios, câmaras de vereadores e no Congresso. Tornou-se a força que dá a garantia da governabilidade a qualquer presidente. E soube cobrar um preço alto por isso, em qualquer governo.

No governo do PT, domina seis ministérios, estatais no setor de petróleo e energia, comunicações e saúde, além do controle de delegacias regionais nos Estados. Administra um orçamento de R$ 251 bilhões, quase duas vezes o da Argentina.

O partido consegue ainda fazer com que o governo Lula faça vista grossa em relação a seus membros encrencados com a Justiça e ainda lhes dê guarida política. É o caso, por exemplo, do senador Romero Jucá (RR). Nomeado ministro da Previdência, em 2005, ficou apenas três meses no cargo. Saiu depois de uma enxurrada de acusações, entre elas até a de ter oferecido fazendas fantasmas como garantia de um empréstimo de R$ 12 milhões no Banco da Amazônia. Jucá saiu do ministério para o cargo de líder do governo no Senado, negando sempre as suspeitas sobre seus negócios.

No raciocínio de qualquer partido e de qualquer peemedebista, o PMDB estará com Dilma Rousseff ou José Serra, prováveis candidatos à sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva, ou qualquer outro nome que eventualmente venha a disputar - e ganhar - a Presidência.

De um lado, ninguém é mais defensor da candidatura de Dilma Rousseff do que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP); de outro, ninguém apoia mais José Serra do que Orestes Quércia, presidente do PMDB de São Paulo. Este, ao lado de Pedro Simon (RS), formou a dupla solitária que se solidarizou com as críticas do senador Jarbas Vasconcelos (PE) ao partido.

Nesse jogo, a ordem de toda a cúpula do partido foi abafar qualquer repercussão da entrevista de Jarbas Vasconcelos à revista Veja do dia 11. Nela, sem detalhar inquéritos ou processos que estão na Polícia Federal ou nos tribunais, o senador disse que "boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção" e que "a maioria de seus quadros se move por manipulação de licitações e contratações dirigidas".

Desavisado, o senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC) subiu à tribuna para reclamar dos ataques. Levou uma bronca dos colegas, entre eles o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o presidente da Câmara e do partido, Michel Temer (SP). Fora disso, nada abalou o PMDB. Pelo contrário, a entrevista de Jarbas acabou unindo as duas alas adversárias, a da Câmara e a do Senado.

No campeonato de silêncio disputado pelos peemedebistas, apenas um, Michel Temer, aceitou falar sobre o partido. Ao Estado, disse que o PMDB não é decadente: "O povo brasileiro não pensa assim. Nas eleições, tem votado sempre nos governadores, prefeitos, senadores, deputados e vereadores do partido. É a prova de que povo brasileiro confia nos serviços prestados pelo PMDB ao País".

Formado por todo tipo de políticos - dos que respondem a processos por uma variedade de crimes, como o casal Anthony e Rosinha Garotinho, Renan Calheiros, Romero Jucá (RR), Joaquim Roriz (DF), Jader Barbalho (PA) e Odílio Balbinotti (PR), aos que não respondem a nenhum processo, como Pedro Simon - o PMDB não é um partido, mas dois. Um é dominado pela Câmara; outro pelo Senado. Se a Câmara tem três ministros, o Senado também os tem. Desta ala são Hélio Costa (Comunicações), Edison Lobão (Minas e Energia) e José Gomes Temporão (Saúde); daquela, Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), Nelson Jobim (Defesa) e Reinhold Stephanes (Agricultura).

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