Do UOL, no Rio*
Os manifestantes que protagonizaram cenas de vandalismo no centro do Rio de Janeiro após o quinto ato contra o aumento da tarifa de ônibus, que reuniu mais de cem mil pessoas, nesta segunda-feira (17), deixaram um rastro de destruição nas ruas próximas à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). Agências bancárias e lojas foram quebradas e saqueadas.
Na rua da Assembleia, pelo menos cinco agências bancárias foram totalmente destruídas. Os atos de vandalismo não ficaram apenas na destruição dos vidros das fachadas dos prédios. Um grupo pichou as paredes com palavras de ordem, arrancou mesas e cadeiras, destruiu os caixas eletrônicos e ainda colocou parte do mobiliário no meio da rua.
Várias lojas comerciais foram arrombadas, um carro estacionado na Rua da Assembleia foi completamente destruído, pichado e teve as portas amassadas. Vários bares e restaurantes foram obrigados a fechar as portas rapidamente, com medo de depredações.
Na rua São José, em frente à Alerj, um homem ficou preso no segundo andar de um estacionamento, e viu toda a ação de um grupo de cerca de 50 pessoas. "Eles entravam e saíam das lojas à vontade. Das 19h30 às 22h, não tinha policiamento. Eles tiveram tempo de agir, não estavam sendo reprimidos. Foi terrível de ver. A rua virou uma praça de saque", contou ele, que preferiu não se identificar.
"Se a Tropa de Choque tivesse vindo antes, não teria acontecido. Vi eles saindo com TVs de LCD, malas novas. Chocante", completou.
Algumas barricadas de material plástico colocadas pela PM em frente às escadarias da Assembleia Legislativa foram arrastadas pela multidão até a esquina da Rua da Assembleia, que fica cerca de cem metros de distância, e muitas delas foram incendiadas.
Muitas lixeiras foram arrancadas e sacos plásticos com lixo deixados pelos comerciantes para recolhimento pela limpeza urbana foram colocados na rua, onde os manifestantes atearam fogo. Um rolo de fumaça negra podia ser visto de longe.
Cenas de terror
Funcionários da Alerj que ficaram presos na Casa enquanto os manifestantes invadiam o prédio por uma janela lateral disseram ao UOL que houve destruição generalizada nas dependências do Palácio Tiradentes. De acordo com o supervisor dos ascensoristas, Robert Rodrigues, afirmou que os manifestantes tacaram pedras e bombas dentro do prédio.
"Tacaram pedregulho, objetos com fogo e bomba. Está tudo destruído lá dentro. Teve gente que entrou em pânico, mas a maioria ficou calma", disse ele, que ficou preso em uma sala com uma outra funcionária, identificada apenas como Nazaré, e três PMs feridos.
"Jogaram muita bomba. Tacaram muita pedra", disse ela, que mal conseguia conter o choro. "Eu moro em São Gonçalo. Agora não tem condução, como é que a gente faz?", disse.
Choque retoma Alerj
O Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro retomou o controle do prédio da Alerj (Assembleia Legislativa) e das ruas no entorno algumas horas depois da invasão. Muitas balas de borracha e bombas de efeito moral foram disparadas pelos PMs, e os manifestantes dispersaram rapidamente.
Os 20 PMs feridos que aguardavam socorro dentro do prédio da Alerj foram retirados do local, assim como os funcionários da Casa.
Na tentativa de entrar no Palácio Tiradentes, construído em 1917, os manifestantes utilizavam rojões com o objetivo de destruir os cadeados. Em um determinado momento, eles fizeram uma fogueira na porta da Alerj. As chamas já foram apagadas pelo Corpo de Bombeiros.
Até o momento, além dos 20 PMs, os confrontos com a Polícia Militar já provocaram ferimentos em sete manifestantes. Um deles, atingido por uma bala de borracha no braço, estava caído na frente da Alerj. Ele foi atendido pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
Havia vários sinais de vandalismo no Palácio Tiradentes, o que incluiu pichações e vidros quebrados. O clima também foi tenso para os jornalistas. Um repórter do Terra foi agredido e assaltado no momento em que registrava imagens de vândalos quebrando uma agência do Banco Itaú.
Campo de batalha
O entorno da Alerj se tornou um campo de batalha depois que manifestantes que participavam do quinto ato contra o aumento da tarifa de ônibus se envolveram em uma confusão generalizada. Os cincos PMs acabaram se ferindo no confronto.
O corre-corre teve início após a explosão de uma bomba na rua Araújo Porto Alegre, nas imediações da ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Os manifestantes soltavam fogos de artifício no momento em que a bomba explodiu.
Segundo informações da PM, grupos de jovens tentam invadir o prédio da Alerj. Um coquetel molotov foi lançado em direção ao edifício e atingiu a porta da Alerj. Policiais militares do Batalhão de Choque utilizaram balas de borracha, bombas de gás e spray de pimenta na tentativa de dispersar os manifestantes, mas não houve sucesso.
O operador de áudio Fabrício Ferreira afirmou ao UOL ter ficado desesperado quando, da janela do edifício da Rádio Manchete, na rua da Assembleia, viu seu carro explodir após ser incendiado pelos manifestantes que participavam do quinto ao contra o aumento da tarifa de ônibus.
"Explodiram o carro de um trabalhador. Acho que a gente tem que correr atrás dos nossos direitos, mas de uma forma pacífica, ordeira. Se eu tiver que me manifestar, vou fazer isso, mas não virando e colocando no fogo no carro de outra pessoa", disse.
O carro de Ferreira, um Ford Versailles 1993, foi comprado no ano passado, e ele ainda estava pagando as prestações. "Eu vi tudo. Assisti tudo sem poder descer do prédio. É claro que bate o desespero", afirmou. "Assim eles [manifestantes] estragam o movimento. Eles acabam perdendo a razão porque estão forçando a barra", completou.
De acordo com a publicitária Arícia Lúcio, que buscou refúgio em um prédio da rua da Assembleia, que fica a poucos metros da Alerj, muitos tiros são ouvidos neste momento. "Eles [manifestantes] estavam soltando fogos e, de repente, uma bomba explodiu. Foi muita correria", disse.
Agentes à paisana da Polícia Civil detiveram uma pessoa logo no começo da confusão. Um grupo de PMs chegou a ser encurralado pelos manifestantes, mas os agentes conseguiram dispersá-los utilizando balas de borracha.
Pelo menos cem mil pessoas, segundo a PM, participaram da manifestação no Rio. Os manifestantes, que iniciaram o protesto às 17h23, fecharam a avenida Rio Branco e caminharam em direção à Cinelândia.
Mais cedo, ainda na Cinelândia, houve um princípio de confusão depois que um grupo de punks queimou uma bandeira do Brasil nas proximidades do Theatro Municipal. O protesto seguia pacífico até então.
Houve correria e uma discussão acalorada entre os próprios manifestantes, que repreenderam a atitude dos jovens que colocaram fogo na bandeira. Passado o susto, centenas de pessoas vaiaram os punks e gritaram palavras de ordem contra a violência.
Os manifestantes reclamam do aumento de R$ 2,75 para R$ 2,95, cujo reajuste entrou em vigor no dia 1º de junho. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), já sinalizou publicamente não pretender revogar o aumento, pois o mesmo está "dentro de regras estabelecidas em contrato".
"Não são R$ 0,20. Isso é uma demanda reprimida, reflexo da falta de perspectiva dos jovens. O transporte também é péssimo. Andamos em chassi de caminhão travestido de ônibus", disse o desempregado Carlos Piragibe, 56, que participa de sua segunda passeata. "Vim em duas e voltarei em todas que tiverem", completou.
Acompanhados por três carros da Polícia Militar e mais de 150 agentes do 5º BPM (Praça Tiradentes), os manifestantes entoavam palavras de ordem e cânticos de protesto. Uma das canções tinha a seguinte mensagem: "Se a passagem não baixar, o Rio vai parar". Os organizadores da passeata improvisaram uma banda formada por jovens ritmistas.
O primeiro pelotão de manifestantes carregava uma grande faixa amarela que diz: "Não é por centavos, é por direitos". Além disso, muitas pessoas exibem flores brancas e pedem para que os curiosos tomem a avenida Rio Branco: "Vem, vem, vem para a rua vem", gritam eles.
Além da principal reivindicação, a do aumento da passagem, há pessoas que expõem suas opiniões em relação a outros assuntos polêmicos, tais como a aprovação da PEC 37, a paralisação do bondinho de Santa Teresa, as péssimas condições do sistema público de ensino, entre outros.
(Com informações de Julia Affonso, de Hanrrikson de Andrade e da Agência Brasil)
Manifestantes deixam rastro de destruição após protesto no Rio; na Alerj, funcionários relatam pânico
junho 18, 2013
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