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PF faz operação para desarticular suposto esquema criminoso em fundos de previdência

FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA - FOLHA DE SP

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta-feira (19) uma operação para desarticular um suposto esquema de lavagem e desvio de dinheiro de fundos de previdência de servidores municipais que movimentou mais de R$ 300 milhões em 18 meses.

Entre os suspeitos estão policiais civis do DF, um doleiro e até um ex-dirigente de fundo de pensão investigado pela CPI dos Correios (2005-2006), que investigou o mensalão.

"São duas organizações distintas com membros em comum, por isso deflagramos uma única operação. Os líderes são os mesmos e ficam em Brasília", explicou a delegada responsável pela operação, Andréa Pinho.

Batizada de Miquéias, a operação conta com a participação de mais de 300 policiais que desde o início da manhã cumprem 102 mandados judiciais no DF e em nove Estados. Foram apreendidos carros de luxo, entre eles um Porche, e uma lancha inicialmente avaliada em R$ 5 milhões.

Somente no DF foram mobilizadas 38 equipes para cumprir 17 mandados de prisão temporária e cinco de prisão preventiva.

Segundo informações da PF, a investigação começou há um ano e meio para apurar o uso de contas bancárias de empresas de fachada ou fantasmas, abertas em nome de "laranjas" ou "testas-de-ferro", para ocultar a verdadeira origem do dinheiro e também os beneficiários de saques que ultrapassaram os R$ 300 milhões.

Foram identificadas 30 empresas de fachada, 35 "laranjas", sete sacadores contumazes e quatro eventuais. "Prestavam serviço de levagem para quem quisesse. Tem um caso, por exemplo, de um traficante", disse a delegada.

Ao apurar o crime de lavagem de dinheiro, a PF se deparou com outro esquema, de desvio e gestão fraudulenta de RPPS (Regime Próprio de Previdência Social) de servidores de diferentes Estados e municípios.

Segundo a polícia, integrantes do grupo aliciavam prefeitos e gestores de fundos de previdência por meio de lobistas para investir em "papeis podres" do próprio grupo, com rentabilidade baixa e alto risco de investimento.

"A aplicação era feita simplesmente porque o prefeito ou o gestor recebiam vantagem indevida. Quem realizasse investimento naquele fundo estaria fazendo um péssimo investimento", disse a delegada, observando que a maioria dos fundos tinham investimentos apenas dos fundos de pensão de servidores abordados pela quadrilha.

Foram identificados desvios de R$ 50 milhões desses fundos previdenciários. "Pegamos só aponta do iceberg, o esquema é muito maior", atesta a delegada.

Nessa investigação, foram verificadas irregularidades especificamente nos Regimes Próprios de Previdência Social das seguintes prefeituras: Manaus/AM, Ponta Porã/MS, Murtinho/MS, Queimados/RJ, Formosa/GO, Caldas Novas/GO, Cristalina/GO, Águas Lindas/GO, Itaberaí/GO, Pires do Rio/GO, Montividiu/GO, Jaru/RO, Barreirinhas/MA, Bom Jesus da Selva/MA, Santa Luzia/MA.

PROTEÇÃO POLICIAL

A polícia identificou três núcleos distintos do esquema que contava com a participação de policiais civis do DF que ofereciam proteção à quadrilha. Dois delegados e dois agentes do DF foram presos durante a operação.

Os policiais são suspeitos de ameaçar, coagir e vazar informações sigilosa.

O superintendente da PF, Marcelo Mosele, explicou que a nova lei que qualifica o crime quadrilha impede a polícia de revelar os nomes dos investigados.

A Folha apurou que entre os alvos estão o ex-policial civil do DF Marcelo Toledo e o doleiro Fayed Traboulsy, ambos já foram investigados em outras operações policiais. Também está na mira da PF Carlos Eduardo Carneiro Lemos, um operador de mercado que teve seu nome envolvido na CPI dos Correios, que investigou o mensalão.

Lemos assumiu, em maio, ser dono de cerca de R$ 470 mil apreendidos na cueca de dois homens, no aeroporto de Brasília.



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