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Em e-mail, Venina fala em sobrepreço de 272% em contratação para Abreu e Lima

'Os desvios são grandes e isto me preocupa muito', disse ela



Cleide Carvalho | O Globo

CURITIBA - A Comissão Interna de Apuração da Petrobras, que investigou irregularidades no setor de Abastecimento, analisou dois e-mails da ex-gerente Venina Velosa da Fonseca reclamando de irregularidades. Além de um endereçado a Costa, ela também se queixou sobre o procedimento na contratação do projeto da Casa de Força da refinaria Abreu e Lima, em setembro de 2009. Primeiro Venina pediu explicações à área de Engenharia e afirmou que o valor do empreendimento (US$ 4,056 bilhões) não estaria compatível a contratação da obra da casa de força por R$ 966 milhões (cerca de US$ 568 milhões), a ser feita pela Alusa. O preço era 272% acima do valor orçado e ela encaminhou e-mail a Francisco Pais, assistente de Costa (atual gerente geral de gestão tecnologica) e a Paulo Cezar Amaro Aquino, então gerente executivo do Abastecimento-Petroquímica:

"Somente ontem a noite tomei conhecimento destes números. Quando assinei a pauta da DE isto não foi citado. Peço que da próxima vez estas informaçães sejam incluídas no DIP que vai para a DE. As comparações dos orçamentos, na minha opinião devem ser feitas com a estimativa da Engenharia e com a estimativa do ABAST, no caso em questão , estimativas de FEL 2 da RNEST. Os desvios são grandes e isto me preocupa muito. Hoje na reunião com o Barusco abordaremos esta questão”, disse Venina.

A Comissão atribui à Venina o fato de um desconto negociado com a Alusa não ter sido aplicado integralmente. O desconto oferecido pela empresa era de R$ 34,2 milhões, mas foram aplicados apenas R$ 9,2 milhões. Ou seja, a Petrobras deixou de economizar R$ 25 milhões. Mas a Casa de Força acabou custando para a Petrobras R$ 1,215 bilhão aos cofres da estatal depois de 15 aditivos autorizados.

Antecipação de obra aumentou custos

Marcelino Guedes, presidente da Refinaria Abreu e Lima e atual gerente de capacitação da área de Abastecimento, que também será ouvido pelo Ministério Público Federal, afirmou à Comissão que a antecipação da refinaria, encomendada por Costa, foi danosa para a empresa: "O Programa de Antecipação causou a quebra do conceito geral de EPC e a antecipação das contratações sem que o projeto tivesse um nível de maturidade suficiente, gerando aditivos e elevação dos custos.”

A Comissão afirma que os pedidos foram assinados por Barusco e Venina e encaminhados à Diretoria Executiva por Duque e Costa, mas que os diretores executivos não foram comunicados sobre mudança na estratégia das contratações.

Na contratação do consórcio Odebrecht/OAS teriam sido autorizados três licitações em datas anteriores à aprovação de abertura de certames pela diretoria executiva. Na primeira licitação, o consórcio apresentou preço 61,2% acima da estimativa da Petrobras e o processo foi cancelado. A estimativa prévia da estatal era de R$ 2,653 bilhões, mas acabou aumentada para R$ 2,692 bilhões. O Consórcio Odebrecht-OAS apresentou uma nova proposta de R$ 3,190 bilhões, que acabou sendo aceita.

VENINA ESTÁ EM LISTA DE RESPONSÁVEIS

A Comissão Interna de Apuração da Petrobras, que investigou irregularidades no setor de Abastecimento, incluiu Venina na lista dos responsáveis por irregularidades na contratação de serviços para a Refinaria Abreu e Lima ao lado de Costa, do diretor de Engenharia Renato Duque e de Pedro Barusco Filho - Costa primeiro cumpre prisão domiciliar, Duque é investigado e Barusco, a exemplo de Costa, assinou acordo de delação premiada e acertou a devolução de US$ 100 milhões que estavam em nome dele em contas no exterior. Além dos quatro, são responsabilizados Francisco Pais, Luiz Alberto Gaspar Domingues, Glauco Legatti, Carlos Alberto Carletto, Omar Antônio Kristocheck Filho, Luis Carlos Queiroz de Oliveira e Ricardo Luis Ferreira Pinto Távora Maia.

De acordo com a Comissão, Venina e Barusco encaminharam juntos o pedido de aprovação do Plano de Antecipação da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, para a diretoria executiva, que havia sido encomendado por Costa e que acarretou diversos custos adicionais para a Petrobras, Barusco Filho era o responsável pela instauração das licitações, contratação e montagem da refinaria - entre abril de 2007 e outubro de 2009.

De 23 contratos selecionados para averiguação por amostragem, a Comissão identificou irregularidades em 10 - seis deles assinados com empresas investigadas na Operação Lava Jato: Alusa Engenharia, Consórcio Camargo Correa/CNEC, Odebrecht/OAS, Consórcio Queiroz Galvão/IESA, Consórcio Egesa/TKK, Consórcio Engevix/EIT, Consórcio Enfil/Veolia, Orteng Engenharia e Invensys. Executados entre julho de 2007 e julho deste ano, os projetos tiveram aumento de valor de R$ 3,979 bilhões.

O contrato com a Engevix, assinado em 2009 por R$ 591,3 milhões, teve 14 aditivos e seu custo alcançou R$ 774,91 milhões.

Em 12 projetos, o valor das propostas apresentadas pelas fornecedoras ficou acima da estimativa da estatal. Enquanto a Petrobras estimava R$ 15,013 milhões, as propostas, somadas, chegaram a R$ 22,017 milhões e seis licitações tiveram de ser canceladas.

Venina e Barusco assinaram juntos vários documentos.

E-MAIL A COSTA

Gerente executiva do Abastecimento-Corporativo entre 2005 a outubro de 2009, Venina Velosa da Fonseca enviou email ao então diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, seu superior hierárquico, no qual deixa claro a existência de conflitos entre eles. Na mensagem, enviada a Costa em janeiro de 2009, poucos 10 meses antes de deixar o posto, Venina relata viver momentos difíceis e situações de conflito de valores: "..Não vou entrar em detalhes porque sei que você sabe do que estou falando... No entanto, tem sido difícil entrarmos num acordo. Quando me deparei com a possibilidade de ter que fazer coisas que supostamente iriam contra as normas e procedimentos da empresa, contra o código de ética e contra o modelo de gestão que implantamos não consegui criatividade para isto. Foi a primeira vez que não consegui ser convencida a fazer, não consegui aceitar a forma. No meio do diálogo caloroso e tenso ouvi palavras como "covarde", "pular fora do barco " e "querer me pressionar". Confesso que eu esperava mais apoio e um pouco mais de diálogo (...) durante o período que trabalhei no ABAST eu "cresci" e entendo perfeitamente o contexto político do nosso negócio. Naquele momento em que expus meu ponto de vista eu queria dizer que aquela forma poderia nos colocar numa situação de risco e numa exposição desnecessária.”

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