Candidato do PT ao Senado em Sergipe foi presidente da empresa entre 2003 e 2005
Empresas bancaram 68% da campanha do petista; mineradora controlada pela Vale doou R$ 300 mil
RUBENS VALENTE
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL - FOLHA DE SÃO PAULO
Dutra presidiu a Petrobras entre 2003 e 2005 e tentava retornar ao Senado, onde exerceu mandato entre 1995 e 2003.
Uma das doadoras, a FSTP Brasil, é o consórcio que administra a construção das plataformas de exploração de petróleo P-51 e P-52. As obras prevêem US$ 780 milhões apenas em financiamentos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
A FSTP escolheu ajudar três candidatos no país, todos do PT. Dutra recebeu R$ 150 mil - os outros foram Luiz Sérgio (PT-RJ), com R$ 150 mil, e Rodrigo Neves (PT-RJ), que ficou com R$ 50 mil.
Duas outras empresas só fizeram doações para Dutra, entre todos os candidatos a cargos nas eleições deste ano.
O nome do escritório de advocacia Tauil & Chequer, sediado no Rio, foi grafado como "Tavil & Chegner" na prestação de contas enviada ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
O escritório assinou três contratos com a Petrobras, no valor total de R$ 1,16 milhão somente entre 2005 e 2006 (único período tornado público pela Petrobras em seu site na internet). Todos os contratos foram feitos sem licitação, sob o argumento de que a disputa era "inexegível".
A empresa ACV Tecline Engenharia, que assinou R$ 73 milhões em contratos com a estatal no período 2005-2006, também só doou para o ex-presidente da Petrobras, R$ 25 mil, segundo a prestação oficial de contas do candidato.
Vale do Rio Doce
Em entrevista à Folha, ontem, Dutra afirmou que partiu dele a iniciativa de procurar as empresas. Contou que a doação da Caemi Mineração, de R$ 300 mil, na verdade partiu da siderúrgica Vale do Rio Doce, que a controla. A Vale, pela lei eleitoral brasileira, é impedida de fazer doações a políticos, por ser concessionária de serviço público.
A Vale mantém negócios com a Petrobras -além de compra e venda de óleo, no início do ano se uniram para estudar o uso de gás natural em Moçambique.
A assessoria de comunicação da Vale informou que as doações registradas na Justiça em nome da Caemi e outras empresas mencionadas foram definidas pelo conselho de administração da Vale.
Indagado se havia adotado um "atalho" para receber os recursos da Vale, Dutra negou: "Meu amigo, a minha doação é feita por uma empresa que pode doar [Caemi]. Como você está vendo na prestação de contas, foi a Caemi. Ponto."
O candidato contou ter obtido a doação após um encontro com o presidente da Vale, Roger Agnelli.
A Caemi distribuiu R$ 7,69 milhões para candidatos do PT e de partidos da base aliada e R$ 4,55 milhões para políticos do PFL e do PSDB.
Outra doadora de Dutra, a construtora Camargo Corrêa atua na construção de estaleiro para transporte de combustíveis da Petrobras. Doou R$ 4,2 milhões para PT e base aliada e R$ 2,9 milhões para os dois maiores partidos da oposição.
O ex-presidente da Petrobras considerou normal sua disposição em procurar as empresas e disse serem "ridículas" dúvidas levantadas pela reportagem. "Prestei contas à Justiça Eleitoral, como manda a lei. Não tenho nenhuma satisfação a dar à Folha de S.Paulo sobre essa prestação de contas", disse Dutra.
Entre os doadores está o atual presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, com R$ 10 mil. Indagada sobre o critério da escolha, a assessoria da Petrobras informou que "a Petrobras não tem nada a comentar sobre atos que não dizem respeito à companhia, como é o caso de doações de pessoas físicas".
Outros funcionários do segundo e terceiro escalões da empresa fizeram doação a Dutra - assessores de comunicação, diretores de área e consultores jurídicos.
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