Depoimento de advogado de jornalista complica situação de Renan, diz oposição
GABRIELA GUERREIRO
RENATA GIRALDI
da Folha Online, em Brasília
O depoimento do advogado da jornalista Mônica Veloso, Pedro Calmon Filho, ao Conselho de Ética do Senado complicou a situação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) na avaliação de senadores ouvidos pela Folha Online. Ao afirmar que Renan pagava "por fora" R$ 9.000 mensais à jornalista como complemento à pensão oficial de R$ 3.000, o advogado levantou a suspeita de que Renan não declarou os valores adicionais ao Fisco.
"Uma certa provocação dos advogados [de Renan e Mônica], a revelação de um trecho da petição que deveria estar em segredo de Justiça mostra que o senador, em determinado momento, teria ocultado parte de seu rendimento à própria Justiça", disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
Segundo o senador, Renan declarou à Justiça que recebia pouco mais de R$ 9.000 em seus rendimentos do Senado --mas não deixou claro se teria incluído nesse período seus lucros com a venda de gado, como alega Renan. "Quem tem boi também é agropecuarista", disse Demóstenes.
Em sua defesa, Renan afirmou que tinha recursos próprios para pagar pensão e aluguel a Mônica Veloso --que seriam provenientes de sua renda como senador e de seus negócios agropecuários em Alagoas.
Depois de reconhecer a paternidade da filha, em dezembro de 2005, Renan disse que passou a descontar pouco mais de R$ 3.000 de seu contracheque para pagar pensão para Mônica. O relato do advogado da jornalista, no entanto, aponta que o senador repassava recursos adicionais a Mônica informalmente além do valor que declara oficialmente.
O senador responde a processo no Conselho de Ética do Senado por suspeita de utilizar recursos da empreiteira Mendes Júnior nos pagamentos a Mônica Veloso. O lobista da empreiteira, Claudio Gontijo, disse em depoimento ao Conselho de Ética nesta segunda-feira que sempre repassou dinheiro de Renan à jornalista.
"Eu pegava o dinheiro das mãos de Renan", disse Gontijo ao conselho negando que Renan tenha recorrido à Mendes Júnior para pagar parte de suas despesas pessoais.
Complicação
Um senador disse à Folha Online que o depoimento do advogado complicou a situação de Renan porque exige dele novas explicações ao conselho. Apesar de críticas veladas a Renan, muitos senadores evitam comentar oficialmente a situação do presidente do Senado para preservarem a imagem da instituição.
A expectativa é que o Conselho de Ética adie por alguns dias a votação do relatório do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que inocenta Renan das denúncias. A oposição exige perícia detalhada nos documentos encaminhados por Renan ao conselho sobre seus rendimentos agropecuários.
A PF realiza perícia nos documentos de Renan desde o último sábado, mas a oposição cobra que a análise não constate apenas se os documentos de Renan são verídicos.
"Só uma perícia detalhada pode solucionar dúvidas que permanecem nesse caso", disse Demóstenes.
Amanhã, o presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), prometeu escolher o relator substituto de Cafeteira até que o senador retorne ao Senado.
Cafeteira apresentou atestado médico de dez dias depois de sentir-se mal no último sábado, em Brasília, com uma infecção. O conselho adiou para quarta-feira a votação do relatório de Cafeteira, inicialmente marcada para amanhã.
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