Roberval Belinati, da 1ª Vara Criminal, diz que suplente do ex-senador Joaquim Roriz também está envolvido no inquérito da Operação Aquarela, que apura desvio de dinheiro público
Marcelo Rocha
Da equipe do Correio Braziliense
O suplente do ex-senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), Gim Argello (PTB-DF), aparece na condição de investigado no inquérito da Operação Aquarela, apuração do Ministério Público e da Polícia Civil do Distrito Federal contra esquema de desvio de dinheiro do Banco de Brasília (BRB). Procurado ontem pelo Correio, o juiz Roberval Belinati, da 1ª Vara Criminal, onde tramita o caso, confirmou a informação, mas se negou a comentar o teor do que existe contra Gim. Restringiu-se a dizer que houve menção ao nome do suplente em escutas telefônicas colhidas durante a investigação.
Belinati pediu aos promotores de Justiça e policiais encarregados do caso uma varredura nos documentos e computadores apreendidos durante a Operação Aquarela. São pelo menos 300 caixas de papéis e 150 computadores, recolhidos no dia 14 de junho e levados para a Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deco) da polícia, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Com a ajuda de técnicos do Judiciário, as autoridades procuram no material qualquer referência sobre o ex-distrital.
Sabe-se de pelo menos uma até o momento. Monitorado pela polícia e pelo MP, o empresário Nilson Wanderlei — um dos 20 presos durante a operação — conversou por telefone, em 9 de março, com Deodomiro Alves Silva, a quem chamou de Miro, sobre encontro para discutir algo de interesse comum. Na conversa, Deodomiro disse que se a Polícia Federal fosse ao escritório prenderia a todos porque ali só “tinha bandido”, numa referência a Gim Argello e ao empresário Nenê Constantino.
O diálogo levantou suspeitas sobre um negócio milionário, transação investigada pelo Ministério Público e a Polícia Civil. Um terreno de 80 mil metros quadrados no Setor de Áreas Isoladas Sudoeste, em frente ao Carrefour Sul, foi comprado por R$ 15,2 milhões em agosto do ano passado e vendido por R$ 47,1 milhões. Uma valorização de 210% em menos de um ano, graças a uma lei de autoria do governo do DF, aprovada pela Câmara Legislativa, no final de 2006, que alterou o uso do solo.
Negócio
De centro de treinamento, a área passou a ser destinada a comércio varejista, negócio que rendeu lucro de mais de R$ 31 milhões. Quem oficialmente faturou foi a Alphaville Marketing Imobiliário, do ex-distrital Wigberto Tartuce, o Vigão (PMDB), e representada no negócio por Deodomiro Silva. Nenê Constantino demonstrou interesse em comprar o terreno de Vigão, mas a transação imobiliária foi fechada pelo dono da construtora Antares, com quem Constantino tem investimentos no Guará e em Águas Claras. O MP e a polícia investigam se essa transação tem alguma relação com a conversa gravada no dia 9 de março, na qual Deodomiro faz as referências a Gim e a Nenê. O ex-distrital, corretor de imóveis antes de exercer cargos políticos, confirmou o encontro com o empresário Constantino, mas alegou que não se envolveu no negócio do terreno.
Na última sexta-feira, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), adiantou que há elementos para abrir investigação contra Gim no Congresso, assim que ele tome posse, e defendeu a abertura de processo por quebra de decoro. Segundo Tuma, nas escutas telefônicas da operação, que levaram o senador Joaquim Roriz a abrir mão do mandato, foram também registradas conversas entre pessoas investigadas que sugerem o recebimento de propina em nome do ex-distrital.
As eventuais informações contidas no inquérito da Operação Aquarela sobre o suplente de Roriz serão remetidas pelo juiz Belinati ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, tão logo o ex-distrital tome posse como senador da República. O chefe do Ministério Público Federal é a autoridade competente para investigar e pedir a abertura de ação penal contra deputados e senadores suspeitos de cometer algum crime. Aconselhado a não conceder entrevistas, Gim nega as irregularidades.
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