Antonio Werneck - O Globo
O deputado estadual Ávaro Lins (PMDB), ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, usou caixa dois em sua campanha, revela relatório da Polícia Federal.
O documento foi enviado ao Procurador Geral da República, Antônio Fernando de Souza, anexado ao inquérito com o indiciamento, por crime eleitoral, dos ex-governadores Rosinha e Anthony Garotinho; do deputado federal Geraldo Pudim e do próprio Lins, onde são acusados de beneficiar um grupo de excedentes de um concurso na Polícia Civil.
Segundo o relatório da PF, uma relação de despesas, supostamente omitida na prestação de contas de Lins enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi apreendida na casa do inspetor da Polícia Civil Mário Franklin Leite Mustrange de Carvalho, o Marinho, durante a Operação Gladiador.
Marinho, de acordo com a PF, atuou como caixa e administrador financeiro da campanha de Lins.
Ainda segundo o relatório, há indícios de suposto crime eleitoral também na prestação de contas do deputado federal Leonardo Picciani (PMDB), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ele é filho do deputado Jorge Picciani, presidente da Assembléia Legislativa do Rio (ALERJ).
Valor de despesas passa de R$ 200 mil
Na relação de despesas apreendida na casa do inspetor Marinho, são citados gastos com aluguel de ônibus, viagens, publicidade, gasolina, cabos eleitorais, comida e, até, bicicletas.
Nada disso, diz a PF, foi declarado a Justiça Eleitoral. No relatório assinado pelos delegados federais Tácio Muzzi Carneiro e Paula Ortega Cibulski, do Setor de Inteligência da corporação, há indícios de que Lins usou um jatinho na campanha.
A despesa com aluguel não consta de sua declaração de gastos ao TSE. O uso da aeronave foi tratado numa conversa, grampeada pela PF, entre auxiliares do ex-chefe da Polícia Civil.
Organizado, Marinho anotou tudo, num total detalhado de 150 itens de despesa e as datas em que elas teriam sido feitas. Havia recibos dos gastos também. A PF constatou, comparando a prestação oficial (entregue ao TSE) com a relação de doadores apreendida na casa do inspetor, que Lins e Marinho "omitiram, na prestação de contas apresentadas à Justiça Eleitoral, a declaração de despesas em valores superiores a R$ 200 mil.
Segundo a PF, "também há indícios que também foram omitidas, na prestação de contas do referido candidato (Álvaro Lins), receitas auferidas para o financiamento de sua campanha eleitoral". Oficialmente, Lins declarou ao TSE ter arrecadado, durante sua campanha, R$ 375.903,32 e gastado R$ 375.891,07.
De acordo com a PF, o documento apreendido na casa de Marinho teria registrado, também, gastos de R$ 147.150 na dobradinha Álvaro/Leonardo Picciani. O valor, segundo a PF, "não foi contabilizado na campanha de Álvaro Lins e nem mesmo na de Leonardo Picciani".
Polícia recorreu a grampos telefônicos
Segundo a PF, o "documento intitulado Dobradinha Leonardo Picciani/Álvaro Lins, além de indicar fortes indícios de cometimento do crime previsto no artigo 350 do Código Eleitoral, também por parte do deputado federal Leonardo Carneiro Monteiro Picciani, foi objeto de diálogo entre o inspetor de Polícia Civil Marinho, administrador financeiro da campanha de Álvaro Lins, e o igualmente inspetor de Polícia Civil Vicente". O suposto envolvimento de Picciani na prática de crime eleitoral foi tratado em conversas gravadas pela PF no dia 21 de agosto de 2006, com autorização judicial.
A PF acrescentou em seu relatório que, naquele dia e hora (segunda-feira, 9h21m), em tese, "Marinho e Vicente estariam trabalhando em suas respectivas lotações na Polícia Civil, conforme folha de ponto". Mas, segundo as interceptações telefônicas, o inspetor Vicente estava trocando um carro alugado (cujo motor fundira) no Aeroporto Internacional Tom Jobim, que supostamente seria usado na campanha de Picciani e Álvaro Lins. Na conversa entre os dois, Marinho diz que teria uma reunião com Picciani naquele dia: - Beleza. Olha só, cara, eu tô passando uma planilha aqui que eu vou para uma reunião agora com o Picciani.
(...) são 50 pessoas para o Boris? Tem que ir cedo? Boris, segundo a PF, foi identificado como o homem que comandaria cabos eleitorais na região da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes, que contaria com 50 pessoas, 5 carros e 5 bicicletas.
Os policiais federais também apreenderam notas fiscais de compra de bicicletas. O CPF do comprador, no entanto, é inexistente. Os agentes federais constataram que as bicicletas adquiridas foram entregues no comitê eleitoral do então candidato Álvaro Lins.
Segundo o relatório da PF, foram encontrados, ainda, na casa de Marinho, "diversos recibos de pagamentos de despesas de campanha realizados pelo delegado de Polícia Civil Luiz Carlos dos Santos, cuja soma supera a quantia de R$ 50 mil, despesas também não declaradas na Justiça Eleitoral".
A PF lembra ainda, no relatório, que, "não bastando essas robustas provas, também se interceptaram diálogos, no curso da Operação Gladiador, que transparecem a captação de recursos não-contabilizados". Um publicitário, atualmente lotado no gabinete do deputado Álvaro Lins, e o inspetor Fabinho, um dos "inhos" presos na Operação Gladiador, tiveram conversas gravadas em que fazem referência à "dinheirama do Garotinho (ex-governador Anthony Garotinho), em nítida menção à doação de campanha não declarada feita por esse nacional (Garotinho).
A invetigação da PF que acabou com o indiciamento de Rosinha, Garotinho, Pudim e Lins por crime eleitoral durou um ano e cinco meses.
Os quatro são acusados de beneficiar um grupo formado por excedentes de um concurso para inspetor de Polícia Civil, em troca de votos nas últimas eleições. Cada um dos aprovados teria se comprometido, segundo as investigações, a conseguir até 50 votos para os candidatos Pudim e Lins. Pelo menos 300 excedentes, segundo a PF, foram incorporados aos quadros da Polícia Civil.
O caixa 2 do deputado estadual Álvaro Lins e do deputado federal Leonardo Picciani, ambos do PMDB
julho 17, 2007
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