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Walfrido dos Mares Guia agrega a seus bens R$ 23,5 milhões nos últimos 2 meses



Crescimento veio com abertura de capital da holding que gerencia rede de educação que tem o ministro como sócio


Já empresário do ramo do ensino, o ministro ingressou na política como secretário de Planejamento de Belo Horizonte, no ano de 1982

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Investigado pela Polícia Federal por suspeita de participação no valerioduto mineiro, o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) construiu carreira no setor de educação, em Minas Gerais, antes mesmo de ingressar na política. Fundou o grupo Pitágoras, em 1966, até hoje conhecido como o "colégio do Walfrido".

Nos últimos dois meses, Walfrido agregou R$ 23,5 milhões ao patrimônio com a abertura do capital da Kroton Educacional, que administra a rede de educação Pitágoras, uma das três maiores do país.

Segundo Júlio Cabizuca, sócio e amigo de adolescência de Walfrido, o ministro "sempre teve um dom especial para lidar com finanças". "Isso é muito mais fácil com ele", disse o amigo, referindo-se a como o ministro tratava pais de alunos nos anos 80, quando a inflação impunha planilhas para negociar mensalidades escolares.

Walfrido é um dos políticos mineiros sob investigação por ter sido apontado como participante do suposto esquema financeiro ilegal montado para a campanha à reeleição do então governador de Minas Eduardo Azeredo (PSDB), hoje senador. O ministro, vice de Azeredo em seu primeiro mandato (1995-1998), nega participação nas finanças da campanha.

O esquema operado por Marcos Valério, segundo a PF, ocultou origem e destino de ao menos R$ 28,5 milhões em recursos ilícitos que financiaram a campanha de Azeredo.

Professor de cursinho

De seu tempo de professor de cursinho pré-vestibular em uma sala para 35 alunos emprestada por um frade franciscano até a entrada na política como secretário de Planejamento de Belo Horizonte, em 1982, foram 16 anos.

A expansão do grupo tem três momentos. Em 1972, surgiu o primeiro colégio. Em 1979 e em 1980, a convite da construtora Mendes Júnior, foram montados três colégios no Iraque para filhos de brasileiros.

Nos anos 90, nasceu a rede Pitágoras. Hoje são 595 colégios no país que usam tecnologia e método de ensino da rede. Há mais seis colégios no Japão e dois próprios em Belo Horizonte. São cerca de 184 mil alunos. Os anos 2000 assinalam a entrada do Pitágoras no ensino superior -são nove faculdades e 14 mil estudantes.

Abertura de capital

Em 23 de julho, o Pitágoras abriu suas ações ao mercado. Os sócios-fundadores -Walfrido, Cabizuca e Evandro Neiva- tiveram as participações reduzidas, mas detêm o controle do grupo, com 51,6% das ações. Ampliaram o patrimônio pessoal, e o capital social da holding Kroton saltou de R$ 58,7 milhões para R$ 455 milhões.

O patrimônio de Walfrido está registrado na Samos Participações, empresa usada por ele para obter empréstimo de R$ 511 mil no Banco Rural para pagar dívida do caixa dois da campanha de Azeredo em 1998.

O valor do patrimônio do ministro não é revelado por sua assessoria, que só informa que a declaração de bens dele à Justiça Eleitoral em 1998 -quando foi eleito deputado federal pelo PTB- é pública. Naquele ano, registrou R$ 3.580.340,62.

A Samos, segundo sua assessoria, foi criada em 2002 por causa da venda da Biobrás, produtora de insulina sintética, para a empresa dinamarquesa Novo Nordisk. O negócio, de R$ 55 milhões, foi aprovado com restrições pelo governo, porque a venda concentrou 75% do mercado de insulina do Brasil.

A Biobrás foi criada com incentivos fiscais da extinta Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste). Dela participaram Walfrido, seu cunhado Guilherme Emrich e seu irmão Marcos, médico que morreu logo depois.

Marcos foi também fundador do Pitágoras. Tinha a mesma profissão do pai, José Maria dos Mares Guia, servidor que gostava de política, embora não fosse militante partidário.

O ingresso de Walfrido na política gerou desconfiança entre os empresários do setor, que temiam favorecimentos ao Pitágoras, afirma Roberto Dornas, presidente da Confenen (Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino). "Sempre cria uma desconfiança de que, tendo uma posição política, algum tipo de beneficiamento pode acontecer."
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