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Tráfico a favor da dengue

Por estarem em áreas dominadas pela criminalidade, 84 dos 145 postos de saúde não podem abrir 24h. Segundo a prefeitura, funcionamento das unidades à noite coloca médicos em risco



André Bernardo e Pâmela Oliveira

Rio - O tráfico de drogas é uma das razões que impedem a Prefeitura do Rio de abrir os postos de saúde em tempo integral para receber pacientes com sintomas de dengue. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, 84 unidades básicas funcionam em áreas dominadas por traficantes, como Caju, Jacarezinho, Senador Camará e Bangu. No posto de saúde de Del Castilho, médicos já disseram que, após às 17h, moradores não saem de casa com medo de tiroteios.

“A princípio, até cogitamos aumentar o número de postos abertos no próximo fim de semana, mas essa decisão ainda precisa ser bem avaliada. Abrir um posto de madrugada significa colocar em risco tanto a vida do médico quanto a do paciente. Muitos profissionais já me disseram que, à noite, a população de certas comunidades evita sair de casa por medo da violência. E, quando sai, não leva o filho ao posto e, sim, à emergência mais próxima”, afirmou o secretário municipal de saúde, Jacob Kligerman.

Termina segunda-feira o prazo dado pela Justiça Federal para que a Prefeitura do Rio cumpra integralmente a liminar que determina a abertura de todos os postos do município por 24 horas, inclusive aos sábados e domingos, enquanto a epidemia de dengue não acabar. No mesmo dia, haverá reunião de representantes da Justiça Federal e da Procuradoria do Município para discutir o assunto. No último final de semana, apenas sete unidades permaneceram abertas em horário integral. Além destes sete postos, 88 funcionaram no sábado e 21 no domingo. Outra razão alegada pela prefeitura para não abrir os postos é a falta de profissionais.

Ontem, a Secretaria Municipal de Saúde confirmou a morte de mais três pessoas por dengue na cidade: uma criança; uma mulher de 55 anos, de Vila Isabel; e um homem de 81, do Méier. Com isso, subiu para 48 o número de vítimas fatais da doença em 2008 na capital e 81 no estado. Ao todo, 75.399 pessoas ficaram doentes no estado e 47.012 na cidade. Apenas ontem, houve mais 1.549 novos casos.

EPIDEMIA EM 2009

Em todo o País, 16 estados, entre eles o Rio, já apresentam alto risco de enfrentar epidemia em 2009, segundo o Ministério da Saúde. O ministro, José Gomes Temporão, estuda a criação de Força Nacional para situações de emergência e estratégia de mobilização de governadores, prefeitos e escolas.

Uma das preocupações de Temporão é o risco elevado de desmobilização das prefeituras devido às eleições municipais deste ano. O ministro alertou para o risco de prefeitos demitirem agentes de endemias que atuam no controle da dengue nos municípios, o que aumentaria o risco de epidemia. O governador Sérgio Cabral disse ontem, em São Paulo, que o pior já passou: “Conseguimos mudar a curva dramática da situação, mas ainda estamos na crise”.

Tecnologia contra a doença

Pesquisadores da Coppe-UFRJ apresentaram ontem uma contribuição na luta contra a dengue, já adotada com sucesso em parte de cidades como Fortaleza (CE). Professor de Engenharia de Sistemas e Computação da instituição, o professor Adilson Elias Xavier e sua equipe desenvolveram um modelo computacional para prevenir e controlar a doença, além de diminuir a subnotificação de casos. O modelo prevê a distribuição de palm tops para agentes de saúde, que avisariam seus gestores em tempo real sobre o encontro de focos e sobre residências e imóveis que não foram abertos para a inspeção. A notificação de casos em unidades de saúde também seria agilizada ‘on line’, através de um programa instalado no computador do local. “Se fosse detectado um foco, ele seria lançado imediatamente no sistema. No modelo atual, há uma defasagem”, explica Adilson, que desenvolveu as ferramentas em parceria com a Universidade do Estado do Ceará e da Universidade de Avignon, na França.

O superintendente de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual de Saúde, Victor Berbara, disse que está avaliando a iniciativa. O vice-governador, Luiz Fernando Pezão, também se reunirá com os responsáveis.

Criança foi internada em Niterói

Entre os mais recentes mortos pela dengue no Rio de Janeiro, está Rafaella Cavalcante, de apenas 6 anos, que morreu quarta-feira, após lutar contra a doença desde o dia 21 de março, quando começou a apresentar os primeiros sintomas. Moradora de Senador Camará, a menina só conseguiu vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital Beneficiência Portuguesa, em Niterói. “A princípio, os médicos desconfiaram que ela estivesse com uma crise de bronquite. O médico olhou para a Rafaela e disse que o problema era de garganta”, protesta a tia Leda Cavalcante.

Até segunda-feira, pelo menos mais dois centros de hidratação deverão ser inaugurados para tentar evitar mais mortes no Rio: um em Campo Grande, próximo ao Hospital Eduardo Rabello, e outro em Realengo, ao lado do Albert Schweitzer. O secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, anunciou que as tendas do Méier e da Gávea, abertas terça-feira, passarão a receber também pacientes encaminhados pelo Carlos Chagas e Rocha Maia, respectivamente.

Ontem, 92 médicos fluminenses foram convocados para ajudar no atendimento a pacientes com sintomas da doença. Deste total, 76 — entre pediatras, intensivistas e clínicos gerais — foram credenciados através do site do Estado. Os outros 16 são pediatras e fazem parte da lista entregue pelo Cremerj. A previsão é que estes médicos reforcem o atendimento nas tendas de Campo Grande, Caxias e São Gonçalo. O secretário refutou a idéia de transferir os médicos de outros estados para ajudar no atendimento a pacientes nas emergências das grandes unidades. “Não podemos aproveitar um momento de epidemia para tentar resolver o problema de superlotação. Se transfiro esses profissionais para as emergências, fico sem especialistas nas tendas para socorrer os pacientes com dengue”, argumentou.

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