BNDES
Brasil Telecom
CPI do Grampo
Daniel Dantas
delegado
Gamecorp
Kroll
Lula
Oi
Operação Satiagraha
Opportunity
Paulo Lacerda
PF
Polícia Federal
Protógenes Queiroz
PT
"A operação foi, sim, missão presidencial"
Protógenes revela detalhes sobre rompimento com Paulo Lacerda
VASCONCELO QUADROS, Brasília
O delegado federal Protógenes Queiroz transita pelo país como um franco atirador que não escolhe alvo para mirar e disparar. Na semana passada, pressionado pelos deputados da CPI do Grampo, mas protegido por um hábeas corpus, o delegado não respondeu perguntas que soavam impertinentes. Mas abriu o jogo numa entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil, revelando o que não quis contar aos deputados.
– A Operação Satiagraha foi, sim, uma missão presidencial! – diz.
Protógenes ouviu de seu antigo chefe, o delegado Paulo Lacerda, ex-diretor da Polícia Federal e exdiretor da ABIN, hoje Adido Policial em Portugal, que a investigação em torno de Dantas era do interesse do Palácio do Planalto, ou seja, tinha, sim, segundo ele, o crivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A razão era lógica: não satisfeito em espionar todo o primeiro escalão do governo, o banqueiro ainda distribuiu à revista Veja um dossiê, publicado em maio de 2006, onde insinuava que o presidente e três exministros (Luiz Gushiken, Marcio Thomaz Bastos e Antonio Palocci), além de Lacerda e o senador Romeu Tuma (PTB-SP), eram titulares de contas em paraísos fiscais.
Além disso, teria orientado seus assessores a negociar com o filho de Lula, Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, o caso Gamecorp, numa atitude que o Planalto interpretou como cooptação para constranger o presidente. Dantas também contratou e passou a fazer negócios com personagens que estavam no coração do partido do governo, o PT, entre os quais o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh e o ex-ministro José Dirceu. No entendimento das autoridades que cuidam da segurança, a intenção do banqueiro era mostrar seu poder e pressionar o governo para levar vantagem na guerra pelo controle das teles. Acabou ofendendo o mais importante símbolo da República, a figura do presidente.
– É só prestar atenção na estrutura que colocaram à minha disposição na época em que as investigações ganharam força – lembra o delegado.
A história da espionagem começou em 1994, foi repassada à Veja em 2005 e publicada em 2006. Era, na verdade, uma fraude. O banqueiro contratou a empresa Kroll para investigar, mas caiu na armadilha dos adversários e mandou para a frente uma falsa denúncia. A revista rompeu o off e revelou que foi Dantas quem entregou o dossiê.
Para desvendar a rede de Dantas, Protógenes diz que chegou a contar com 26 policiais federais especializados em investigação financeira, dois peritos, 10 viaturas caracterizadas, três carros blindados e os recursos financeiros necessários para dar cabo à investigação.
– Por que me dariam essa estrutura se não houvesse o interesse do governo? Foi a maior operação da história da PF. O que até hoje eu não consegui entender é por que as coisas mudaram de uma hora para outra. As investigações se voltaram contra os policiais que investigavam o caso – reclama o delegado.
Federais e agentes da ABIN – cuja missão é servir o gabinete do presidente – encararam a Satiagraha como razões de Estado. O cenário mudou, segundo ele, a partir de setembro de 2007, quando Lacerda deixou a PF.
– Em agosto de 2007 perguntei ao Paulo se permaneceria no cargo e ele me garantiu que sim. Logo depois caiu. Fiquei sozinho – afirma.
O delegado diz que a saída de Lacerda coincidiu com uma mudança de postura do governo, que deixou de se interessar pelas atividades criminosas do banqueiro quase ao mesmo tempo em que mudava a lei e se abriam as torneiras do BNDES para garantir a fusão da Brasil Telecom com a OI – operação que tirou Dantas do comando da empresa, mas engordou o Opportunity com mais de US$ 1 bilhão.
Relação
Em outubro de 2007, Lacerda assumiu a direção da ABIn e, diante das reclamações de Protógenes sobre a falta de apoio na PF, decidiu bancar toda a Operação Satiagraha.
– Ele (Lacerda) colocou à minha disposição todos os recursos que a ABIN tinha. Conversávamos todos os dias e ele estava a par de tudo – conta Protógenes, que hoje se diz profundamente decepcionado com seu antigo chefe.
O problema é que assim que veio à tona a real participação da ABIn na Satiagraha, Lacerda tratou a operação como filho bastardo: em vez de assumir sua participação, adotou um comportamento dúbio, enquanto a CPI do Grampo e a PF cercavam Protógenes e desgastavam Lacerda. Os dois se encontravam pela última vez há um mês, quando Lacerda já estava de malas prontas com passagens compradas para Lisboa.
– Ele me recebeu por apenas 15 minutos e fez questão de encerrar logo a conversa. Parecia angustiado e triste por deixar o país.
Erros
Integrantes do grupo que dominou durante cinco anos a PF (2003 a 2007), Lacerda e Protógenes se enrolaram na mesma teia em que tentaram aprisionar o banqueiro e, involuntariamente, deixaram escapar a oportunidade de fazer uma faxina no mercado financeiro.
Protógenes deixou a operação vazar para a TV Globo e cometeu uma série de trapalhadas, entre elas o patrulhamento de jornalistas que cobriam o mercado e, por força das circunstâncias, conversavam com Dantas e os executivos do Opportunity. Fez um relatório caótico, com delirantes acusações. Hoje o delegado flerta com o PSOL e com o PDT para sair candidato a deputado.
– Rachei o Brasil – diz, ao revelar ter recusado uma oferta de US$ 5 milhões de Daniel Dantas para abandonar o inquérito.
A proposta incluía sua nomeação como superintendente da PF no estado que escolhesse. Ele simulou que aceitaria a proposta, colocou outro delegado na falsa negociação e conseguiu pegar Dantas por tentativa de suborno, no único inquérito em que o empresário foi condenado.
VASCONCELO QUADROS, Brasília
O delegado federal Protógenes Queiroz transita pelo país como um franco atirador que não escolhe alvo para mirar e disparar. Na semana passada, pressionado pelos deputados da CPI do Grampo, mas protegido por um hábeas corpus, o delegado não respondeu perguntas que soavam impertinentes. Mas abriu o jogo numa entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil, revelando o que não quis contar aos deputados.
– A Operação Satiagraha foi, sim, uma missão presidencial! – diz.
Protógenes ouviu de seu antigo chefe, o delegado Paulo Lacerda, ex-diretor da Polícia Federal e exdiretor da ABIN, hoje Adido Policial em Portugal, que a investigação em torno de Dantas era do interesse do Palácio do Planalto, ou seja, tinha, sim, segundo ele, o crivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A razão era lógica: não satisfeito em espionar todo o primeiro escalão do governo, o banqueiro ainda distribuiu à revista Veja um dossiê, publicado em maio de 2006, onde insinuava que o presidente e três exministros (Luiz Gushiken, Marcio Thomaz Bastos e Antonio Palocci), além de Lacerda e o senador Romeu Tuma (PTB-SP), eram titulares de contas em paraísos fiscais.
Além disso, teria orientado seus assessores a negociar com o filho de Lula, Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, o caso Gamecorp, numa atitude que o Planalto interpretou como cooptação para constranger o presidente. Dantas também contratou e passou a fazer negócios com personagens que estavam no coração do partido do governo, o PT, entre os quais o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh e o ex-ministro José Dirceu. No entendimento das autoridades que cuidam da segurança, a intenção do banqueiro era mostrar seu poder e pressionar o governo para levar vantagem na guerra pelo controle das teles. Acabou ofendendo o mais importante símbolo da República, a figura do presidente.
– É só prestar atenção na estrutura que colocaram à minha disposição na época em que as investigações ganharam força – lembra o delegado.
A história da espionagem começou em 1994, foi repassada à Veja em 2005 e publicada em 2006. Era, na verdade, uma fraude. O banqueiro contratou a empresa Kroll para investigar, mas caiu na armadilha dos adversários e mandou para a frente uma falsa denúncia. A revista rompeu o off e revelou que foi Dantas quem entregou o dossiê.
Para desvendar a rede de Dantas, Protógenes diz que chegou a contar com 26 policiais federais especializados em investigação financeira, dois peritos, 10 viaturas caracterizadas, três carros blindados e os recursos financeiros necessários para dar cabo à investigação.
– Por que me dariam essa estrutura se não houvesse o interesse do governo? Foi a maior operação da história da PF. O que até hoje eu não consegui entender é por que as coisas mudaram de uma hora para outra. As investigações se voltaram contra os policiais que investigavam o caso – reclama o delegado.
Federais e agentes da ABIN – cuja missão é servir o gabinete do presidente – encararam a Satiagraha como razões de Estado. O cenário mudou, segundo ele, a partir de setembro de 2007, quando Lacerda deixou a PF.
– Em agosto de 2007 perguntei ao Paulo se permaneceria no cargo e ele me garantiu que sim. Logo depois caiu. Fiquei sozinho – afirma.
O delegado diz que a saída de Lacerda coincidiu com uma mudança de postura do governo, que deixou de se interessar pelas atividades criminosas do banqueiro quase ao mesmo tempo em que mudava a lei e se abriam as torneiras do BNDES para garantir a fusão da Brasil Telecom com a OI – operação que tirou Dantas do comando da empresa, mas engordou o Opportunity com mais de US$ 1 bilhão.
Relação
Em outubro de 2007, Lacerda assumiu a direção da ABIn e, diante das reclamações de Protógenes sobre a falta de apoio na PF, decidiu bancar toda a Operação Satiagraha.
– Ele (Lacerda) colocou à minha disposição todos os recursos que a ABIN tinha. Conversávamos todos os dias e ele estava a par de tudo – conta Protógenes, que hoje se diz profundamente decepcionado com seu antigo chefe.
O problema é que assim que veio à tona a real participação da ABIn na Satiagraha, Lacerda tratou a operação como filho bastardo: em vez de assumir sua participação, adotou um comportamento dúbio, enquanto a CPI do Grampo e a PF cercavam Protógenes e desgastavam Lacerda. Os dois se encontravam pela última vez há um mês, quando Lacerda já estava de malas prontas com passagens compradas para Lisboa.
– Ele me recebeu por apenas 15 minutos e fez questão de encerrar logo a conversa. Parecia angustiado e triste por deixar o país.
Erros
Integrantes do grupo que dominou durante cinco anos a PF (2003 a 2007), Lacerda e Protógenes se enrolaram na mesma teia em que tentaram aprisionar o banqueiro e, involuntariamente, deixaram escapar a oportunidade de fazer uma faxina no mercado financeiro.
Protógenes deixou a operação vazar para a TV Globo e cometeu uma série de trapalhadas, entre elas o patrulhamento de jornalistas que cobriam o mercado e, por força das circunstâncias, conversavam com Dantas e os executivos do Opportunity. Fez um relatório caótico, com delirantes acusações. Hoje o delegado flerta com o PSOL e com o PDT para sair candidato a deputado.
– Rachei o Brasil – diz, ao revelar ter recusado uma oferta de US$ 5 milhões de Daniel Dantas para abandonar o inquérito.
A proposta incluía sua nomeação como superintendente da PF no estado que escolhesse. Ele simulou que aceitaria a proposta, colocou outro delegado na falsa negociação e conseguiu pegar Dantas por tentativa de suborno, no único inquérito em que o empresário foi condenado.
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