Caio de Menezes
Além da superlotação nas emergências dos hospitais públicos, que provoca um longo tempo de espera por parte dos pacientes, uma situação vem completar o quadro de precariedade no atendimento da população com sintomas de gripe suína. Um dos quatro hospitais do Rio de Janeiro apontados pelo Ministério de Saúde como centro de referência no tratamento da gripe suína não tem atendido as pessoas doentes. Trata-se do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Uerj, em Vila Isabel.
Segundo um funcionário da instituição, o Hupe não tem estrutura para receber pacientes contaminados com a gripe suína. Segundo ele, a instituição funciona como uma espécie de "entreposto": os doentes que chegam são encaminhados para outros três hospitais de referência. São eles: o Clementino Fraga Filho (Fundão), da UFRJ, o Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (Iaserj) e o Hospital Evandro Chagas, que fica no campus da Fiocruz.
– Falta uma área isolada onde esses doentes possam ser isolados e tratados. Além de faltar material para que sejam feitos exames nos pacientes com suspeita de gripe suína, falta qualificação do pessoal para lidar com esses casos – diz o funcionário.
Já no Hospital municipal Miguel Couto, no Leblon, o atendimento é feito – mas demora bastante. Que o diga o barman Leandro Martins de Oliveira, de 19 anos, que está com sintomas de gripe:
– Esse é o terceiro dia consecutivo que venho aqui. Depois de quatro horas de espera, só agora conseguirei entrar na sala de espera da emergência, e não sei se serei atendido. Isso me deixa preocupado, já que várias pessoas estão morrendo no Brasil.
No Miguel Couto está havendo um cuidado para evitar a disseminação da gripe. Antes de entrar na sala de emergência, os pacientes recebem máscaras para se protegerem de um possível contágio.
Estrutura paralela
O prefeito Eduardo Paes informou ontem que será montada uma estrutura paralela na rede de saúde para cuidar especificamente dos casos de pacientes infectados com o vírus da gripe, que poderá incluir a montagem de tendas montadas por militares, como na epidemia de dengue em 2008. Disse ainda haverá contratação emergencial de profissionais de saúde para dar conta da demanda.
As declarações do prefeito foram feitas após ele receber denúncias da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, que fez uma vistoria ontem na emergência do Hospital Souza Aguiar. O objetivo era verificar uma sala que teria sido preparada para atender casos de gripe. No entanto, a sala não estava funcionando.
Nas contas de Jorge Darze, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, que acompanhou a vistoria, para aquela sala funcionar são necessários cerca 50 pediatras e outros 50 médicos clínicos e o mesmo número de profissionais de enfermagem.
– O que posso afirmar é que já dei autorização para que se faça qualquer tipo de contratação emergencial – disse o prefeito.
Na sala do Souza Aguiar, havia dez poltronas e equipamentos fechados em caixas, como um aparelho para ajudar a pacientes com dificuldade respiratória. Segundo a comissão, havia cerca mais de 20 mil máscaras encaixotadas.
O presidente da Comissão de Saúde da Câmara do Rio, vereador Carlos Eduardo (PSB), destacou a ausência do medicamento Tamiflu nos estoques do Souza Aguiar. Ele lembra que a medicação tem de ser ministrada em até 48 horas após surgirem os primeiros sintomas:
– É fundamental que a medicação esteja ao alcance dos médicos. A logística de transporte pode demorar e assim causar óbitos.
Pacientes misturados
Outro problema encontrado durante a vistoria no Souza Aguiar foi a falta de um esquema para separar pacientes com suspeita de gripe dos demais.
– Isto pode ser um fator de disseminação da própria doença – diz Darze, acrescentando que a única sistematização no atendimento era o fato de haver uma fila para crianças e outra para adultos.
O prefeito do Rio admitiu a existência de deficiência na rede básica de saúde no Rio de Janeiro. Por isso, considerou importante que se tenha um sistema à parte do tradicional para atendimento dos casos de gripe.
– Essa deficiência faz com que as pessoas se socorram da emergência do hospital. O importante é que haverá um atendimento prioritário para os casos mais grave. O Rio de Janeiro tem problemas graves na sua rede de atendimento básico, e por isto, nesse caso especifico, nós vamos criar uma estrutura paralela para esse atendimento dos casos de gripe suína – ratificou Paes.
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