Presidente ouve explicações de Lupi e espera que ele apresente provas para sustentar declarações. Mas saída já é dada como certa no Planalto
Denise Rothenburg e Guilherme Amado – Correio Braziliense
Quem "ama" o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, tem pedido que ele saia do governo antes que a presidente Dilma Rousseff o demita. É assim que os pedetistas estão tratando seu ministro, numa referência à frase "Dilma, eu te amo", que Lupi usou em depoimento no Congresso. Ontem, os pedetistas foram informados que a decisão de afastar o titular da pasta está tomada e a saída é questão de tempo.
Assessores e políticos ligados ao Palácio do Planalto informam inclusive que já se discute nomes para o cargo, caso dos deputados Vieira da Cunha (RS), João Dado (SP), André Figueiredo (CE), presidente interino do partido, e do ex-senador Osmar Dias (PR). Ao lado de Dilma, Cunha participou dos governos Alceu Collares (PDT) e Olívio Dutra (PT), no Rio Grande do Sul. Afinal, avisam esses assessores, se o feriadão de Lupi foi em busca de provas que justificassem o uso do avião supostamente pago por Adair Meira, presidente da Fundação Pró-Cerrado, o de Dilma foi da mais pura irritação ao ver o seu ministro na tevê dizendo que não conhecia Meira e, em seguida, uma fotografia de Lupi saindo do avião que o presidente da ONG arrumou para uma viagem pelo interior do Maranhão. "Era só o que me faltava", reclamou Dilma.
Até ontem, o ministro não tinha as provas de que o uso da aeronave modelo King Air tinha sido pago pelo governo ou pelo PDT. A nota fiscal do pagamento pelo transporte aéreo continuava um mistério. Por volta do meio-dia, Lupi se reuniu com a presidente Dilma para dar explicações sobre a denúncia de que viajou em avião particular providenciado por Meira. Os dois conversaram a sós por cerca de 30 minutos e Lupi disse que não mentiu sobre o voo e teria como provar. O ministro afirmou que sua negativa anterior teria sido sobre uma viagem em um avião particular de Meira, e não em um avião contratado por ele. A presidente ouviu, mas não saiu convencida. Entretanto, para não afastar o PDT totalmente do governo, decidiu esperar que Lupi se explique no Senado.
A presidente, entretanto, não ficou lá muito satisfeita com tudo o que ouviu de Lupi. Afinal, na avaliação dela e de seus assessores mais próximos, o estrago já está feito. Lupi disse a todo o Brasil que não sabia quem era Adair Meira. Depois, com as fotografias e o vídeo da viagem ao Maranhão, suas declarações caíram como um castelo de cartas e fizeram inclusive com que o PDT retirasse o lastro que dava a Lupi uma estabilidade, ainda que precária. "Como amigo do Lupi, preferia que ele saísse. Mas isso é uma decisão que o PDT vai tomar de forma institucional", comentou o presidente interino do partido, André Figueiredo. O deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força Sindical, é um dos poucos que ainda mantém acesa alguma defesa: "Se ele disse que quer ficar, nós, do PDT, vamos apoiar. Ele quer enfrentar as denúncias e não sair como corrupto do ministério", afirmou ele.
O PDT sabe que, dentro do ministério, assim como no partido, Lupi sempre centralizou decisões. Em encontros políticos, ele costumava dizer que nada saía do Ministério do Trabalho sem a sua assinatura. O próprio ministro disse que seria preciso uma "bala bem pesada" para derrubá-lo. No partido, a avaliação é a de que essa bala foi o King Air e as fotos do ministro saindo do avião onde viajava também Adair Meira.
Defesa
A avaliação do Planalto é a de que, para não ficar mal com o PDT, será dada esta quinta-feira para a defesa do ministro. Até porque, da mesma forma que a presidente Dilma fica irritadíssima ao ver um integrante do primeiro escalão sendo desmentido na tevê, ela também detesta admitir que a imprensa é quem tira seus ministros. Esse, por sinal, é outro dos motivos para a sobrevida de Lupi. Mas, no geral, os palacianos não negam que o pedetista cumpre hoje o mesmo ritual de queda que seguiram Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo) e Orlando Silva (Esporte). Lupi é o sexto e, até agora, nada indica que fugirá à regra.
Problema no ouvido
Diante das fotos, o ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego Ezequiel Nascimento contou a verdade. Disse que o avião foi solicitado por Lupi, que preferiu uma aeronave mais confortável devido a um problema de ouvido. O Sêneca, modelo escolhido anteriormente, não é pressurizado. Foi então que Ezequiel contatou Meira, que providenciou o King Air para a viagem no interior do Maranhão. Uma das paradas foi em Imperatriz, de onde Lupi seguiu até Açailândia de carro. Lá, Lupi, sua comitiva e o empresário Adair Meira almoçaram na casa do prefeito — ou seja, Lupi sabia quem era Meira, embora tenha dito recentemente que não o conhecia.
Colaborou Erich Decat
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