Segundo estudo norte-americano, o hábito de usar o telefone ao volante é mais perigoso do que dirigir após consumir bebidas alcoólicas. Nas ruas da capital, muitos condutores se arriscam, apesar de reconhecerem o aumento dos riscos de se envolverem em acidentes
Adriana Bernardes – Correio Braziliense
A cada 10 minutos, uma pessoa é multada no Distrito Federal por usar o celular enquanto dirige.
Quem cultiva o hábito nem sempre tem consciência do risco que corre. Digitar mensagem de texto ao volante aumenta em 23 vezes o risco de acidente. Quem faz uma simples chamada fica quase seis vezes mais exposto, conforme aponta um estudo do Departamento de Transportes dos Estados Unidos.
O número de flagrantes nas vias da capital é considerado alto pelo Departamento de Trânsito (Detran). É consenso que boa parte dos motoristas escapa impune porque a multa depende exclusivamente da ação de agentes e o quadro desses profissionais é insuficiente para garantir fiscalização eficaz. “Eu falo sempre. Às vezes, saio de casa no Lago Sul e chego ao Tribunal de Justiça falando ao celular. Nunca bati o carro por conta disso”, admite um advogado, que preferiu não revelar o nome. Perguntado se já foi flagrado alguma vez, ele responde que não e sai sorrindo.
Com o avanço da tecnologia móvel, as pessoas falam, enviam mensagens e consultam a internet. Para burlar a fiscalização,utilizam-se do viva-voz ou usam o bluetooth, quando a voz de quem chama é enviada diretamente para o sistema de alto-falantes do veículo.
Práticas que nem sequer estão previstas no código de trânsito, mas são tão ou mais graves que apenas conversar ao telefone.
Pesquisa da instituição inglesa RAC Foundation revela que 45% dos condutores ingleses usam o celular para enviar torpedos. O estudo identificou ainda que o envio de mensagens retarda o tempo de reação em 35%, percentual bem acima da demora provocada pelo álcool (12%) no organismo. Por isso, o hábito é tão perigoso.
O agente de viagem Francisco Lucas Alves, 27 anos, reconhece o erro e concorda ser arriscado usar o telefone móvel ao volante. A mulher dele, a administradora Ana Paula Nogueira, 23, reprova a conduta do marido. “Não quero me esquivar da responsabilidade, mas, antes de pegar o celular, observo bem se o trânsito está viável. Mas que há o risco, isso não tenho dúvida. A gente lê nos jornais diariamente e acha que só acontece com os outros”, analisa.
Na família de Francisco Lucas não falta exemplo das consequências da desatenção ao guiar um automóvel. “Meu irmão foi olhar uma mulher bonita na calçada e colidiu com o carro da frente, que acertou outro veículo. O prejuízo foi de R$ 1,5 mil. Por sorte ninguém se feriu”, relata.
Segundos fatais
Quem insiste em fazer as duas coisas ao mesmo tempo, deve ficar atento aos fatos. A matemática, a física e a medicina já se dedicaram ao estudo desse comportamento e chegaram à mesma conclusão: é impossível ter a competência exigida ao volante falando ao telefone. Mestre em transportes e professor do curso de engenharia civil da Fundação Educacional Inaciana (FEI), de São Paulo, Creso de Franco Peixoto explica o que chama de tempos e perdas de tempos.
Segundo o especialista, é consenso mundial que a pessoa demora 2,5 segundos para começar a frear diante de um imprevisto na rodovia, com o carro a 80km/h ou 100km/h. “É 1,5s para perceber o obstáculo inesperado e 1s para reagir”, explica. “Se a pessoa está na cidade, o tempo de reação é menor: 0,75s.” Os pesquisadores descobriram que o condutor leva 2s para digitar dois algarismos no celular. “Ela tira os olhos da via por 2s, acessa duas teclas, olha de novo para a pista e, assim sucessivamente”, relata Peixoto.
E para quem argumenta que apenas checa quem está ligando, uma outra pesquisa da FEI calculou o tempo necessário para o motorista pegar o telefone — no banco do passageiro — e ler o número de quem está chamando. Os estudiosos descobriram que são necessários 4,5s. “O tempo é cinco vezes maior do que o necessário para você ver o obstáculo e reagir a ele para evitar uma colisão ou um atropelamento na cidade que podem ser fatais”, destaca Peixoto.
Punição
A infração está prevista no artigo 252, dirigir utilizando-se de fones nos ouvidos conectados a aparelhagem sonora ou de telefone celular é infração média, punida com multa de R$ 85,13.
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