Para 259 empresas consultadas pela Fundação Dom Cabral, os dois setores apresentam as maiores deficiências na infraestrutura
RENÉE PEREIRA - O Estado de S.Paulo
Não são apenas os passageiros que sofrem com as deficiências da infraestrutura aeroportuária e rodoviária. O setor produtivo também tem acumulado prejuízos bilionários com a oferta restrita - e de péssima qualidade - dos dois setores, que receberam as piores avaliações por parte das empresas.
Estudo feito pela Fundação Dom Cabral, com 259 companhias responsáveis por 30% do Produto Interno Bruto (PIB), mostra que 70% dos grupos entrevistados estão muito insatisfeitos com a capacidade dos aeroportos e 67% com a condição das rodovias brasileiras.
"O País tem hoje uma capacidade produtiva grande, que exige uma logística mais eficiente. As empresas não trabalham com estoques e, por isso, dependem de um transporte rápido", afirma o professor Paulo Resende, coordenador do Núcleo CCR de Infraestrutura e Logística da Dom Cabral.
O problema é que elas não têm uma contrapartida. O transporte aéreo, embora rápido, é muito caro; o transporte ferroviário é limitado e consegue atender apenas alguns setores, como o agronegócio e o setor e mineração. Nos portos, a burocracia e a precariedade dos acessos terrestres e marítimos reduzem a competitividade do produto brasileiro diante da concorrência.
"Se não houver uma reviravolta na infraestrutura brasileira, o valor do frete rodoviário vai triplicar nos próximos anos. O País terá pouca transportadora e muita carga para movimentar", afirma o presidente da ASA Transportes, Valdir Santos, referindo-se ao fato de empresas menores não estarem suportando os elevados custos para trabalhar no setor. Ele conta, por exemplo, que para descarregar no Porto de Santos um caminhão fica dois dias parados, sendo que as empresas pagam apenas um dia de frete.
Junta-se a isso, obras que deveriam estar prontas há anos e até agora nem os projetos foram apresentados. É o caso da duplicação da Serra do Cafezal, destaca Santos. A obra está entre as dez mais importantes na avaliação da maioria das empresas consultadas pela Fundação Dom Cabral.
A lista inclui ainda a expansão da rede de banda larga, a duplicação da BR-101, o trecho Sul do Rodoanel de São Paulo e a expansão do Aeroporto de Guarulhos. O Trem de Alta Velocidade (TAV), uma prioridade para o governo federal, aparece no último lugar no ranking das 38 obras importantes para as empresas.
Na avaliação delas, a dificuldade para tirar obras prioritárias do papel está na burocracia criada pelo próprio governo federal. Quase 90% das companhias elegeram esse item como a raiz de todos os problemas na infraestrutura, especialmente para a corrupção (83% das empresas citaram a corrupção como fator preponderante para o não cumprimento dos cronogramas de obras).
"É consenso entre vários empresários que a burocracia é a causa da corrupção", afirma o professor Paulo Resende. Segundo ele, processos mais simplificados e transparentes dificultam a vida dos corruptos. "Quanto maior o emaranhado de documentos e regras, mais a corrupção se esconde neles."
Outro item considerado um entrave ao cronograma das obras, na avaliação das empresas, é a influência política e a dificuldade para conseguir licenças ambientais no Brasil.
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