No cartório, dirigente se desliga de Havelange e esconde nome de firma em paraíso fiscal
RODRIGO MATTOS – FOLHA DE SP
DE SÃO PAULO
Sob pressão na CBF, o presidente Ricardo Teixeira tomou medidas para desvincular ou esconder elos com o caso da ISL, ex-parceira da Fifa e centro do maior escândalo de corrupção de sua história.
Fez isso com alterações na sua principal empresa, a RLJ Participações. Em 2001, a CPI do Futebol apontou a firma como responsável por operações financeiras e pela compra e administração de seus bens. As mudanças na RLJ ocorreram no segundo semestre de 2011 e coincidem com o aumento da pressão em Teixeira sobre o caso ISL.
Um ano antes, a rede britânica BBC acusara ele e o ex-presidente da Fifa João Havelange de receberem propina da ISL na década de 90.
Segundo a emissora, Teixeira ganhou US$ 9,5 milhões por meio da Sanud Etablissement, empresa no paraíso fiscal de Liechenstein, na Europa. Havelange teria recebido diretamente, diz a BBC.
No meio do ano passado, Teixeira excluiu Lúcia Havelange da RLJ. Filha do ex-presidente da Fifa, foi casada com o dirigente da CBF - separaram-se nos anos 90.
Lúcia tinha 25% da RLJ até então, mesmo percentual de Teixeira. Apesar de extinta no final da década de 90, a Sanud detinha outros 50%.
Para excluir Lúcia da sociedade, o presidente da confederação conseguiu derrubar uma medida judicial que exigia que ela detivesse cotas dessa empresa. Com ela fora da empresa, acaba o vínculo indireto dele com Havelange.
No final de 2011, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, em litígio com Teixeira, disse que divulgaria o dossiê ISL, que citaria a Sanud e Havelange. A Justiça suíça chegou a derrubar o sigilo do processo, mas houve recurso.
Também no final do ano passado, Teixeira aumentou o capital da RLJ, assumindo o controle com 75%. A Sanud se manteve com 25%. É preciso ter dois sócios pela lei.
Em seguida, transformou a RLJ de companhia limitada em sociedade por ações fechadas. A empresa passa a ter de publicar balanços, mas agora sua composição societária não pode ser conhecida.
Ou seja, o nome da Sanud não aparecerá mais associado a Teixeira como antes.
Um artigo do estatuto da nova RLJ permite retirar acionistas que não concordem com a mudança. Assim, a Sanud pode ser excluída.
Não há consequências jurídicas, pois não há processo sobre esse caso no Brasil. Mas isso desvincularia, enfim, sua empresa do caso ISL.
Por sua assessoria, o presidente da CBF disse que o processo de alterações na empresa foi "legal e declarado no Imposto de Renda". E lembrou que a Sanud foi extinta.
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