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Governo investe 0,15% do prometido no Programa Parques da Copa

Projeto anunciado em 2010 previa injetar R$ 668 milhões em parques florestais do país, mas só R$ 1 milhão foi empenhado até agora


Portal do Meio Ambiente

O plano era ambicioso: investir R$ 668 milhões na infraestrutura de 23 parques federais, que passariam a ter melhores condições de receber turistas durante a Copa do Mundo. Passados quatro anos do anúncio pelo governo federal, o programa Parques da Copa virou mera abstração. O Ministério do Turismo, parceiro do Ministério do Meio Ambiente na ideia, só garantiu investimentos de R$ 10 milhões, mas apenas R$ 1 milhão foi efetivamente empenhado até agora — sendo metade para o Parque Nacional de Anavilhanas (AM), e a outra metade, para o Parque Nacional de Itatiaia, no Rio. O valor gasto representa tão somente 0,15% do total.

O programa que naufragou vinha sendo encarado pela área ambiental do governo como uma excelente oportunidade para destravar o ecoturismo no país. Os 26 parques federais brasileiros que contabilizam seu público — de um total de 69 — receberam cerca de 6 milhões de visitantes em 2013. Tijuca, no Rio, e Iguaçu, no Paraná, reuniram nada menos do que 80% desse contingente. Uma realidade bastante tímida, se comparada à dinâmica das unidades de conservação de países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, os parques receberam 280 milhões de visitantes no ano passado.

Manifesto ambientalista

Organizações ambientalistas lançaram no início do mês, na Câmara dos Deputados, um manifesto em defesa do uso público das unidades de conservação. O documento, assinado por entidades como WWF-Brasil e SOS Mata Atlântica, reforça que a visitação nos parques naturais poderia gerar até R$ 1,8 bilhão por ano até os Jogos Olímpicos do Rio.

— Perdemos uma boa oportunidade de valorizar nosso patrimônio natural — afirmou o vice-presidente da ONG Conservação Internacional no Brasil, André Guimarães. — É uma situação anacrônica, porque o turista, quando vem para o Brasil, tem absoluta convicção de que vai entrar em contato com o meio ambiente. No entanto, o governo não mostra interesse pelas unidades de conservação.

A coordenadora do Programa Mata Atlântica da WWF-Brasil, Anna Carolina Lobo, lamenta que o ecoturismo não esteja na agenda governamental do país.

— O Parques da Copa foi interrompido junto com outros projetos. Não resistiu às mudanças que aconteceram no Ministério do Turismo, um de seus principais financiadores. O turismo ecológico não é uma prioridade dos governos. Tanto é assim que o orçamento anual do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável por todas as 313 unidades de conservação federais, é de apenas R$ 516 milhões. Temos, em média, um funcionário para 150 mil hectares. O Chile tem um funcionário para cada cada 27 mil hectares. E a Argentina, um para 3 mil — compara Anna Carolina.

Fundador do Instituto EcoBrasil, organização focada no turismo sustentável, Roberto Mourão acompanhou de perto a derrocada do Parques da Copa. Ele coordenou um projeto-piloto cujo objetivo era alavancar o turismo no Parque Nacional do Pantanal, na divisa do Mato Grosso com o Mato Grosso do Sul. A ideia era aproveitar o período de reprodução dos peixes para inserir os pescadores da região num programa focado na observação de aves. Quem fosse assistir aos jogos na Arena Pantanal, em Cuiabá, poderia esticar a estada e aproveitar as belezas naturais de um circuito turístico pantaneiro. Um ofício divulgado pela Coordenação Geral de Visitação do ICMBio, em janeiro de 2010, previa aporte de R$ 9,5 milhões no parque. O dinheiro seria investido na construção de um centro de visitantes, postos de informação e controle e infraestrutura viária.

— Me pagaram R$ 18 mil pelo desenvolvimento do programa piloto. E foi só. A gente tinha esperança de que alguma parcela dos R$ 9,5 milhões fosse realmente aplicada. Foi uma ducha de água fria para quem trabalha no parque. Criou-se uma grande expectativa, e não deram um real. Só falta agora inventarem o Parques das Olimpíadas. Que legado é esse? — questiona Roberto.

As áreas verdes federais do Rio também não viram a cor do dinheiro do programa. O Parque Nacional da Tijuca, que espera fechar 2014 com visitação recorde de 3,2 milhões de pessoas — o Cristo Redentor responde historicamente por 80% do contingente —, receberia a maior parcela: R$ 14 milhões. Os parques da Serra dos Órgãos (R$ 6,5 milhões), Itatiaia (R$ 7 milhões) e Serra da Bocaina (R$ 11 milhões) e a Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo (R$ 4,5 milhões) completariam a lista.

Prazo, agora, é 2020

Em nota, o ICMBio explicou que o nome Parques da Copa era “apenas uma marca” para tentar atrair investimentos para a infraestrutura dos parques. Desde o ano passado, o órgão, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, afirma que tem trabalhado com uma “ideia mais ampla de estruturação dos parques nacionais a médio prazo”. Agora, o prazo para efetuar as melhorias necessárias para que os parques recebam visitantes é 2020. “Para isso, além de recursos orçamentários (inclusive via Ministério do Turismo), contaremos com recursos de projetos internacionais.”


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