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O descrédito nas urnas

Os candidatos que lideram a disputa para a Presidência e para o governo do Rio apresentam taxas de rejeição que competem com as de aceitação


Zuenir Ventura | O Globo

Pelo que se pode deduzir até agora, ainda há indefinição e desinteresse em relação às próximas eleições, embora se espere uma mudança quando começarem os debates na TV. Por enquanto, tenho ouvido muito a frase: “Não vou votar a favor, vou votar contra.” É o chamado voto útil, que não é detectado pelas pesquisas de intenção, as quais, no entanto, vêm registrando outra peculiaridade: os candidatos que lideram a disputa para a Presidência e para o governo do Rio apresentam taxas de rejeição que competem com as de aceitação. Em outras palavras, estão ameaçados por eles mesmos, mais do que pelos adversários. Na pesquisa divulgada anteontem, por exemplo, Dilma aparece com 38% de aprovação e 36% de rejeição. Já para o governo do estado, as últimas sondagens mostram Garotinho com 44% de recusa, ou seja, de eleitores que não votam nele em nenhuma hipótese. Trata-se de aversão a candidatos e partidos, e possivelmente também à própria política, o que seria grave, porque essa tendência, se confirmada, ameaçaria o processo de aprimoramento democrático.

Mas onde o fenômeno se manifesta de maneira mais preocupante é entre os jovens. De um lado, uma minoria atuante, mas equivocada, que saiu frustrada da aventura de junho do ano passado, quando achou que podia transformar o país à força, em nome de uma utópica democracia direta. Do outro lado, uma parcela expressiva que não se anima sequer a tirar o título de eleitor para votar; prefere esperar para obter a carteira de habilitação aos 18 anos.

Muitos responsabilizam a imprensa pelo desencanto, alegando que ela privilegia os escândalos ao dar destaque às más notícias, “demonizando” a atividade política como um todo. Será? Para não cair no corporativismo, vamos admitir que sim, que possa haver uma amplificação desses fatos desagradáveis. Mas amplificar não é inventar. Será que a imprensa cria todos os malfeitos que são noticiados? Certamente não. Muitos chegam às redações em forma de dossiês e gravações, como foi o caso recente da mulher que denunciou o ex-marido aqui no Rio. Como não publicar depois de apurar?

Quem reclama do excesso de informações é porque não viveu ou se esqueceu dos tempos de escassez, quando a censura proibia “notícias negativas” — fosse corrupção no governo ou fosse uma epidemia de meningite, como a que ocorreu em São Paulo no começo dos anos 70 e foi impedida de ser noticiada para não macular a imagem do Brasil Grande, do “milagre econômico”. Com sérias consequências para a saúde pública. Em matéria de informação, ainda é preferível tê-la de mais do que de menos. Quanto à condenação da imprensa, a prática é milenar: antigos reis executavam o emissário da má notícia, depois, claro, de recebê-la. Quantos não gostariam de fazer isso hoje!


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