Além da Lava Jato, outras duas investigações da PF têm potencial para complicar a vida do ex-presidente. Telegramas obtidos por ISTOÉ sugerem intervenção do petista no BNDES para financiar construção de rodovia na África
Marcelo Rocha | IstoÉ
Há duas semanas, o ministro do STF, Teori Zavaski, autorizou que o ex-presidente Lula seja interrogado pela Polícia Federal na condição de informante. O petista terá de esclarecer em breve por que o Instituto Lula e a empresa que promove suas palestras figuraram na contabilidade de companhias acusadas de desviar recursos da Petrobras.
OS TELEGRAMAS DO ITAMARATY Documentos abaixo sugerem intervenção de Lula para construção de rodovia no Benin |
A Operação Lava Jato, porém, não é a única na qual Lula aparece enredado. A teia é mais extensa e pelo menos outras duas investigações têm potencial para complicar a vida do ex-presidente: a Zelotes, que esmiuça falcatruas cometidas contra o Carf, o tribunal de recursos contra multas da Receita, e a Acrônimo, que apura irregularidades na campanha do governador de Minas, Fernando Pimentel. Esta última, aos poucos, mergulha nas operações nacionais e internacionais do BNDES. Aí mora o problema para Lula. Há suspeitas de tráfico internacional de influência na liberação de financiamentos.
Na última semana, ISTOÉ teve acesso a um conjunto de telegramas do Itamaraty. Neles, existem relatos de embaixadores na África que sugerem uma intervenção de Lula para ajudar a encaminhar assunto que se arrastava por pelo menos três anos: a liberação de dinheiro do BNDES para financiar a construção de rodovia no Benin. O assunto foi tratado em viagem que o ex-presidente fez ao País em março de 2013. Acompanharam Lula, além de Paulo Okamoto e Celso Marcondes -- seus assessores no Instituto --, executivos de algumas empreiteiras. Estavam lá, entre outros, Marcos de Queiroz Galvão, da Queiroz Galvão e Adelmário Pinheiro, da OAS. As empresas são investigadas pela força tarefa da Lava Jato.
A conversa entre Lula e o presidente Boni Yayi foi narrada pelo embaixador Arnaldo Caiche D’Oliveira em telegrama do dia 19 de março de 2013. Segundo o embaixador, o presidente do Benin reclamou com o ex-colega da dificuldade de liberação do dinheiro para a construção da rodovia Ketou-Savé. “(Boni Yayi) solicitou apoio do ex-PR Lula para a flexibilização das exigências do COFIG/BNDES”, relatou D’Oliveira. A situação não era boa para o Benin. O assunto já havia sido provocado por Yayi durante sua vinda ao Brasil em março de 2012. O líder africano pediu ajuda a presidente Dilma Rousseff, mas o processo não andou, o que motivou Yayi voltar à carga quando Lula por lá esteve em 2013. “Sobre as propostas de projetos apresentadas pela parte beninense, o ex-presidente Lula asseverou: “temos que contribuir com a África (...)vimos que há projetos e os empresários brasileiros vão estudar o que existe e onde podemos intervir”, disse o petista, segundo relatou o então embaixador brasileiro no Benin, Arnaldo Caiche D’Oliveira.
Em maio de 2014, Lula foi à Nigéria para o World Economic Forum on Africa e ouviu novamente as queixas do presidente do Benin, segundo relato do embaixador João André Lima. No fim daquele mês, o financiamento para a construção da rodovia do Benin foi aprovado. Na ocasião, o consórcio previamente contratado para tocar a obra era formado pelas empresas brasileiras Sucesso e Fidens. Em fevereiro de 2015, houve uma mudança na configuração do consórcio. A Queiroz Galvão adquiriu a participação da Fidens no negócio e parte do que detinha a construtora Sucesso, passando a controlar 65% do consórcio.
O Instituto Lula negou irregularidades nas atividades. “A atuação de Lula é legítima, dentro da lei, patriótica e nunca pediu ou recebeu remuneração por isso”, disse à ISTOÉ. Na quinta-feira 8, no contexto da Operação Acrônimo, a CPI do BNDES aprovou a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da OPR Consultoria, antiga empresa do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel.
Outra frente de apuração da PF capaz de implicar Lula é a que investiga irregularidades no Carf. A PF identificou indícios de que uma negociata envolvendo medida provisória editada durante o governo Lula que beneficiou montadoras de veículos com a extensão de desoneração fiscal. Um dos escritórios do lobby fez repasses de R$ 2,4 milhões para uma empresa de marketing esportivo de Luís Cláudio, filho do ex-presidente. A CPI do Carf, no Senado, investiga mais este caso que se soma à já intrincada rede de problemas envolvendo o ex-presidente petista.
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