Dom Antônio Muniz acusa: verba contra drogas banca campanhas
Davi Soares | Diário do Poder
Em um ambiente em que o crack transformou dependentes químicos em máquinas de matar e elevou Alagoas ao posto de Estado mais violento do Brasil por quase uma década, o arcebispo metropolitano de Maceió, Dom Antônio Muniz Fernandes, denunciou nesta quarta-feira (4) que a distribuição de recursos para as comunidades terapêuticas estariam seguindo critérios eleitorais. Após assinar manifesto em tom de repúdio contra “interferências politiqueiras e oportunistas” na política pública do Estado de Alagoas contra as drogas, o líder da Igreja Católica expôs o mal uso do dinheiro público pelo governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB).
Arcebispo Metropolitano de Maceió quer trabalho límpido com as comunidades terapêuticas (Foto: Carlos Roberto/Pascom) |
Sem citar nomes, o líder da Igreja Católica em Alagoas denunciou que instituições usadas por aliados do governador Renan Filho recebem repasses financeiros mais vultosos do que outras comunidades sem compromissos eleitorais. E garantiu que irá às ruas arrecadar dinheiro, caso o governo retalie as 12 instituições cristãs que assinaram o manifesto e seguem conveniadas ao Estado para acolher e tratar dependentes químicos.
“Não podemos admitir que as comunidades terapêuticas sejam massa de manobra, utilizadas como propriedade ou para fins políticos eleitoreiros, a serviço deste ou daquele deputado ou deputada. Todo mundo sabe, já, dos nomes. Estava acontecendo exatamente isto: utilização político-partidária eleitoreira, porque agora já estão montados os palanques para a próxima eleição. Você me pergunta: ‘Estava havendo ingerência?’ Estava; como está havendo ingerência. Queremos que o trabalho com as comunidades terapêuticas seja um trabalho cristalino, límpido”, denunciou Dom Antônio Muniz.
REDE CRISTÃ REAGE
O Arcebispo de Maceió publicou decreto episcopal da Igreja Católica tratando do tema na antevéspera do Natal de 2016. E o manifesto foi encaminhado ao Governo Estadual na última segunda-feira (2) pela Federação da Rede Cristã de Acolhimento e Recuperação do Dependente Químico do Estado de Alagoas (Recriar), composta pela Arquidiocese de Maceió, Casa Dom Bosco, Fazenda da Esperança Santa Terezinha, Nova Jericó, Fundação Rosa Mística, Associação Mãe da Graça, Mãos de Alagoas, Casa do Servo Sofredor, Casa Betânia, Projeto Sarar – Masculina, Projeto Sarar – Feminina e Quebrando Correntes.
“Que não haja essa identificação: ‘Comunidade X, porque é a favor deste ou daquele deputado, recebe tantos’. E assim estava acontecendo. Outros lugares [do Brasil] estão sofrendo esse mesmo tipo de coisa, onde tal deputado ou senador acha que é dono das comunidades. Aqui em Alagoas também”, denunciou o arcebispo à imprensa.
Em um dos trechos do manifesto intitulado “Da participação das Comunidades Terapêuticas em projetos políticos e de poder”, as entidades afirmam que entendem o acolhimento do dependente químico não apenas como questão financeira; denunciam que a questão da prevenção e reinserção social não tem sido prioridade do Governo de Alagoas, o que se constata pelos Orçamentos Públicos aquém das necessidades sociais; e defendem um novo modelo assistencial de Acolhimento ao dependente químico, incorporando a aproximação, o vínculo entre profissionais e acolhidos, fortalecendo humanismo e ética na relação.
SEM TEMER PALANQUES
O decreto episcopal foi elaborado em 23 de dezembro de 2016, mesmo dia em que Renan Filho exonerou Jardel Aderico do comando da Secretaria de Estado da Prevenção à Violência, Seprev. O ex-secretário era afilhado político do deputado federal Givaldo Carimbão (PHS-AL) e trabalhava sua própria candidatura a deputado estadual, no mesmo reduto político dominado pelo padrinho e seu filho, o deputado estadual Carimbão Júnior (PHS). Carimbão indicou a substituta Esvalda Bittencourt e deu ares de tecnicidade à mudança estritamente política.
O documento orientava que todas as comunidades de inspiração cristã, no caso, católicas, tomassem a decisão: "As Comunidades Terapêuticas, que fizeram uma opção político-partidária e de poder, tornando-se subsidiárias, estão proibidas de usar o nome “católica” e beneficiar-se dos ritos católicos", diz um trecho do decreto.
“Sigam como utilizáveis para candidato A, B ou C, aquele que der mais, e a Igreja segue outro caminho”, complementou Dom Antonio Muniz.
Dom Antônio afirmou que as comunidades que seguem a orientação do decreto temem que o governo corte os subsídios. Mas tem uma solução caso isto aconteça: “O bispo vai, com os padres que quiserem, para os sinais [de trânsito] e para as ruas de Maceió pedir alimentos, para não deixar morrer essa experiência. Se cortarem, vamos à rua pedir. Porque, não é o mesmo povo que paga o Fecoep?”, antecipou-se o arcebispo, citando o Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza, que financia as comunidades terapêuticas.
A assessoria de comunicação da Seprev foi procurada pelo Diário do Poder para se manifestar sobre o assunto e respondeu que esperava a secretária Esvalda Bittencourt sair de reunião, para obter dela uma posição sobre as denúncias.
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