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Alfredo da Mota Menezes: 'As instituições de controle público não funcionam no Mato Grosso'

Historiador critica paralisia da sociedade e diz que novas delações podem causar mais estrago em classe política


Afonso Benites | El País

Professor aposentado na Universidade Federal do Mato Grosso, o historiador Alfredo da Mota Menezes diz que, assim como na esfera nacional, Pedro Taques (PSDB), consegue fazer um governo de coalizão. Ao EL PAÍS, Menezes diz que os seguidos escândalos de corrupção no estado ocorreram por falta de controle e que grupo do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) se aproveitou desse momento.

corrupção no Estado do Mato Grosso
O historiador Alfredo da Mota Menezes. RAI REIS

Pergunta. Por que Mato Grosso chegou ao nível de ter escândalos espalhados por tantos poderes?

Resposta.
Primeiro, tivemos um caso inédito, com um ex-governador, o Silval Barbosa, sendo preso por quase dois anos. Agora, o que me encabula na delação do Silval foi como em nosso Estado, as instituições de controle público não funcionam. A Controladoria Geral do Estado, agora, após a denúncia do Silval, a CGE informou que durante o Governo dele havia alertado uma série de problemas, que depois aconteceram. A grande pergunta é como o órgão de controle interno avisa e nada funciona?

P. Por que não funcionava?

R.
Porque o governante não obedece e faz o que quer. A regra de Mato Grosso era de que as empreiteiras financiavam os Governos e, quando tinham um problema, cobravam o favor do governante.

P. Esse é o problema da atual gestão também?

R.
O problema do Pedro Taques até agora é o caso dos grampos ilegais. O grupo político que está com o Taques, deputados estaduais, senadores e federais, vai se manter com o governador. Se ele conseguir sair dessa situação dos grampos, eles seguem com o governador, mesmo que ele esteja um pouco chamuscado. Se ele não conseguir sair, já há dois nomes para substituí-lo. O do vice-governador Carlos Fávaro e o do ex-prefeito da capital Mauro Mendes. Até se discutem a possiblidade de Taques se afastar para concorrer a deputado federal ou ao Senado.

P. Há um clima de paranoia entre os políticos no Estado?

R.
Sim. A classe política está parada esperando a tal delação do José Geraldo Riva [ex-presidente da Assembleia Legislativa]. Pelo tempo que o Riva teve de poder [20 anos] e que uma delação dele não pode repetir a do Silval, espera-se que ela seja mais dura que a do ex-governador. Diz que o Riva tem até recibo de propina. É algo incrível.

P. Além dos órgãos de controle não terem funcionado. O que mais houve?

R.
O Ministério Público de Contas reprovou as contas do Silval, mas o plenário aprovou. A Assembleia Legislativa é um dos órgãos de fiscalização, mas vários deputados recebiam mensalinho. Foi filmado. Teve um momento no Governo do Silval que as pessoas eram escolhidas para compor o seu Governo pela capacidade de achacar. Ele falou isso para a Justiça. Agora, quando você olha o crescimento do Estado, nota que nossa economia melhorou. Por essa razão, tem mais dinheiro para pegar.

P. A sociedade está paralisada?

R
. Eu achava que com as mídias sociais haveria um controle maior. Uma cobrança maior. Não houve. Antes tínhamos dois ou três jornais, as autoridades seguravam e nada acontecia.

P. Mas essa imobilidade não ocorre porque as pessoas não sabiam dos esquemas ilícitos?

R.
Nos governos Bezerra, Jaime, Julio, Dante, havia todas essas desconfianças. É que não aflorou uma delação. Hoje, com essa mudança, abriu-se uma tampa.

P. Qual a gravidade desse escândalo do grampo para o Governo Taques?

R.
Eu sou do interior, de Poxoréo. Fico me perguntando: ‘será que essa questão chega a Querência do Norte? Chega ao eleitor comum? Chega ao nortão do Estado’. Não sei se paga. O cara está preocupado com seus problemas e olha para a capital com olhar enviesado. Assim como todos os Estados olham para Brasília. Diante da delação do Silval e as filmagens de deputados pegando dinheiro o grampo fica quase irrelevante aos olhos da população em geral.

P. O Taques veio na onda de romper um ciclo político. Como ele passa a ser visto diante de um escândalo de interceptações ilegais em sua gestão?

R.
Ainda não te contra o Taques o batom na cueca. Como o Taques cresceu na política no combate ao malfeito, quando isso ocorre em seu Governo é claro que acaba machucando a sua imagem.

P. A migração do Taques do PDT para o PSDB tinha como objetivo lhe dar uma projeção nacional. Diante desse escândalo, essa pretensão diminui?

R.
O PSDB tem problemas tão maior que talvez encobre outro que, em tese, é menor. Atrapalha o Pedro, sim. Mas não acho que ele teria a força de ser um grande projeto do PSDB nacional, como o governador de Goiás, Marconi Perilo, tem caminhado para ser. O Estado de Mato Grosso tem poucos eleitores e aqui temos uma mania que, quando um governador está bem, diz-se que ele pode ser candidato à Presidência da República. Mas Dante de Oliveira [ex-governador] diziam que ele seria candidato. Blairo Maggi também.

P. Nacionalmente, alguns movimentos tentam vincular todos os escândalos de corrupção ao PT. Localmente, há essa tentativa com relação ao Silval?

R.
Tem, mas também há os que dizem que ele herdou um esquema. A delação dele foi muito forte. E ele assumiu que as irregularidades vinham de administrações anteriores. Não foi o PMDB que elegeu o Silval. Foi um grupo que estava no poder e o elegeu. E, agora, ele entrega todo mundo.

P. Onde a oposição local entra nisso tudo?

R.
Aqui você sempre teve uma oposição. Tinha a família Campos em contraposição ao Dante, que era do PSDB. Tinha o Bezerra contra outros. Aí, o grupo do Blairo ganha a eleição de 2002 e o Dante perde para o Senado. O grupo do Blairo se fortaleceu muito pela derrota do Dante e do PSDB nacional. Em 2006, Dante morre. O lado da oposição perde uma liderança. Ficou sem ninguém para enfrentar o outro grupo. E o agronegócio, de maneira hábil, se une com os políticos adversários do Dante e apoiam o Blairo em 2002. Mas, em 2006, é empurrado pelo Blairo para fora de seu Governo. No fim das contas, Blairo ficou sem oposição. Aí, Silval chega ao poder.

P. Por que os opositores são um grupo minúsculo?

R.
Inicialmente o Pedro Taques fez um secretariado técnico. Agora, mudou e passou a dividir o poder. É o mesmo que tem no plano nacional, tem aqui. É o governo de coalizão.

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