Investigações da Polícia Civil mostram que quadrilhas não se limitam a exploração de transporte alternativo ou venda de botijão de gás. Chefe da quadrilha fugiu de festa em sítio.
Por Ari Peixoto e Felipe Freire | RJTV
Investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro mostram que integrantes da milícia que atua na Zona Oeste da cidade influenciam também na eleição da associação de moradores e até pensam em lançar candidatos a deputado federal nas eleições, como mostrou reportagem exibida pelo RJTV nesta quarta-feira (2).
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A Polícia Civil teve acesso a aúdios que mostram o planejamento dos milicianos nessa área. As interceptações foram feitas com autorização judicial.
De acordo com o delegado Fábio Barucke, as gravações mostram que a quadrilha está expandindo seus negócios e não se limita apenas a explorar o transporte alternativo ou venda de botijões de gás.
Veja alguns trechos dos diálogos exibidos pelo RJTV
Associação de moradores
- Moradora - Tem uma moradora na Rua 10 que ela falou pra mim, ela veio me procurar, com quem que ela fala pra poder entrar pra associação. Porque eu fico ali, mas eu não resolvo nada, entendeu? Então ela quer saber com quem que ela pode falar porque ela quer se candidatar presidente. Falei que ia fazer uma reunião hoje com os moradores...
- Miliciano - Fala que não tem nada de presidente, não. Aqui é igual aquele bagulho da China, lá. É tu que fica aí e acabou. Igual à Coreia do Norte, o Ku-xa-xang. Tu que manda nessa p***. Fala pra ela.
- Moradora - (risos) tá bom.
Candidato a deputado federal
- Moradora - aí o "bateria" teve aqui novamente. Falou que tem um pastor, né? Que tá vindo candidato a deputado federal. Que vocês aí desse lado aí tão apoiando, e se eu poderia receber o pastor.
- Miliciano - deixa eu te falar. Deixa eu ir aí pra gente falar de política
- Moradora - tá me ouvindo?
- Miliciano - Não dá pra falar de política no telefone, não, Maria. Política é uma praga.
Fornecimento de energia
- Miliciano - Quarta-feira de manhã cedo, tu trabalha na Light, não trabalha?
- Miliciano 2 - Não, eu trabalho aqui na área aqui, na firma no Sete de Abril, no 3 Pontes.
- Miliciano - Tu trabalha aí com quem?
- Miliciano 2 - Eu trabalho com Ecko.
- Miliciano - Não, eu tô do lado dele aqui. Não precisa ligar pra ele, não. Não tem nenhum problema, não. Tô do lado dele aqui. É da melhor forma, a gente quer resolver.
- Miliciano 2 - Então, mano. deixa eu falar contigo. Tô aqui com um maluco. O que a gente tava querendo com esse amigo aí, que deixou os cabos lá? Tem uns condomínios para ele fazer lá no Cachamorra.
Expansão das atividades
A Polícia Civil afirma que o objetivo das milícias é expandir suas atividades.
"Essa milícia está crescendo as suas atividades. Eles atuam tentando a legitimidade da população, colocando a opinião pública contra a polícia para que eles possam exercer as suas atividades de forma legítima e angariar lucro, porque eles passam para a população uma falsa sensação de segurança e cobram por esse serviço".
Segundo ele, a população está refém desses grupos.
"Colocam a população toda refém e fazendo com que as suas atividades possam crescer. E a intenção da milícia é dominar o maior número de territórios que eles possam alcançar o que eles mais pretendem, que é o lucro", afirmou.
Investigação após prisão em sítio
Após liberar 138 pessoas, presas na festa no dia 7 de abril que, segundo a polícia, seria de milicianos, há ainda 21 presos. Esses detidos podem ser denunciados pelo Ministério Público estadual nos próximos dias.
De acordo com as investigações, no dia da festa, vários milicianos estariam presentes no que a polícia considera que era a comemoração de uma aliança entre grupos criminosos da Zona Oeste e da Baixada Fluminense.
Em uma das imagens obtidas pela polícia, alguns carros estacionados no sítio são veículos de luxo, importados em sua maioria. Um deles, um Ranger Rover Evoque, preto, blindado, que havia sido roubado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na madrugada do mesmo dia.
De acordo com a polícia, Wellington da Silva Braga, conhecido como Ecko, chefe da milícia, chegou à festa nesse carro. Ele conseguiu fugir, mas quatro de seus seguranças foram mortos na ação e 32 armas foram apreendidas.
Recompensa
O Disque-denúncia oferece uma recompensa de R$ 2 mil para quem der informações sobre Ecko. O chefe da milícia não foi policial e entrou para a milícia junto com o seu irmão, Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes. Com a morte de Três Pontes, Ecko assumiu o comando da milícia.
Segundo a polícia, o criminoso tem uma aliança com uma das facções que atuam na Zona Oeste do Rio. Ecko é foragido da Justiça: tem um mandado de prisão por homicídio.
Na operação realizada no sítio, foi apreendido um caderno com informações sobre o arsenal da milícia. Nas anotações foram encontrados detalhes sobre todas as armas e carregadores que circulam entre os integrantes da organização criminosa, segundo a polícia.
Ecko aparece na lista com o seu outro apelido, Didi. Para ele, há a indicação da guarda de dois fuzis: um AR-15 e um HK.
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