Estratégia da Aliança para o Brasil de buscar assinaturas em entidades que apoiam Jair Bolsonaro pode funcionar, mas é preciso verificar legalidade da coleta em igrejas e quartéis, disse especialista à Sputnik Brasil.
Sputnik
Ao deixar o PSL, legenda pela qual foi eleito presidente, Bolsonaro anunciou a criação do Aliança pelo Brasil, sigla que agora precisa obter 492 mil assinaturas para conseguir sua homologação.
©Pedro Ladeira/Folhapress |
O partido tem até 4 de abril para fazer isso. E dessa forma poder participar das eleições municipais de 2020. Como a validade das assinaturas digitais ainda não foi regulamentada e é motivo de controvérsias, a legenda bolsonarista aposta agora na caçada de firmas tradicionais em igrejas evangélicas, quartéis dos Bombeiros e da Polícia Militar, Exército, ruralistas e empresariado.
'A estratégia é perfeita'
Para o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro o plano é correto.
"A estratégia é perfeita. Buscar respaldo nos setores onde já há um apoio declarado ao presidente Bolsonaro. Há inúmeros policiais e bombeiros militares no Brasil inteiro. Só no Rio de Janeiro são 50 mil PMs, e em São Paulo, 100 mil. Eles podem servir não só para as assinaturas, mas para ajudar na coleta", disse o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Monteiro, no entanto, faz um alerta. "Coletar é relativamente fácil, o difícil são os cartórios eleitorais reconhecerem a fidedignidade de cada uma das assinaturas", afirmou.
A mesma ressalva é feito pelo cientista político Ricardo Ismael, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO). Segundo ele, a coleta tradicional acontece em locais públicos e abertos, por isso a busca pelas firmas em entidades como igrejas pode causar questionamentos.
'Repercussão negativa no TSE'
"Isso pode ter uma repercussão negativa lá no Tribunal Superior Eleitoral. A utilização de meios pouco heterodoxos para conseguir a coleta. Acho que essa questão mereceria uma consulta à Justiça Eleitoral. Se pode caminhar dessa forma, mobilizando igrejas, corporações, seja militares ou outras. Geralmente é feita uma coleta em ambientes públicos, de grande circulação. Isso pode ter uma reação negativa e não aceitarem parte das assinaturas", ponderou o especialista.
Por outro lado, Ismael acredita que Bolsonaro tem hoje cacife político para conseguir criar seu próprio partido.
Em circunstâncias normais, um partido dificilmente se formaria em tão pouco tempo, tendo que ter representatividade em nove estados e quase 500 mil assinaturas. Só que está se falando de um partido que o presidente é a principal liderança. Se o Bolsonaro estivesse fora do poder, dificilmente isso ia acontecer num prazo tão pequeno. Como presidente, diante da visibilidade que tem, e até mesmo do apoio que ainda tem, aproximadamente um terço do eleitorado brasileiro, há chances dele conseguir", afirmou o cientista político.
Grande objetivo é 2022
Os dois especialistas apontam ainda que o grande motivo para a criação da legenda é formar um partido para Bolsonaro tentar a reeleição. No entanto, a curto prazo, sua saída do PSL pode dificultar a governabilidade.
"Do ponto de vista da reeleição, o partido que está criando é muito mais cômodo. Ele vai controlá-lo integralmente, é uma legenda que vai servir aos seus propósitos. Mas a questão é: como ele vai governar com um partido minúsculo, que hoje teria 5% da Câmara?", questionou Geraldo Tadeu Monteiro.
Segundo Ismael, mesmo que o Aliança para o Brasil não consiga disputar as eleições do ano que vem, o pleito municipal fica muito mais restrito a "questões locais". E a sigla, se tiver um "bom marketing político, vai aglutinar todas as forças conservadoras que hoje estão alinhadas ao governo".
"O que vai valer mesmo para Bolsonaro é 2022", sentenciou.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
0 $type={blogger}:
Postar um comentário