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Feijó reafirma denúncias contra gestão no Banrisul

Gisele Ortolan - Jornal do Comércio

O vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Feijó (Democratas), revelou na manhã de ontem, parte das denúncias que integram um dossiê sobre a gestão de Fernando Lemos no Banrisul.
Em sessão da Comissão de Serviços Públicos da Assembléia Legislativa, ele citou a concessão através de uma agência do banco na cidade de Vacaria, de dez empréstimos a uma empresa de médio porte, que mesmo não tendo sido pagos, continuaram sendo autorizados. O valor chegaria à R$ 30 milhões.

Afirmou que o Banrisul contratou a empresa de consultoria Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis Atuariais e Financeiras (Fipecafi), sobre a responsabilidade de Lauro Tashiban, sem licitação pública em um negócio de aproximadamente R$ 40 milhões. "Esse contrato foi feito no valor de R$ 1 milhão/mês. Fazem 40 meses que a empresa presta este serviço, e atualmente usa a fachada da Fundação de Apoio à Ufrgs (Faurgs)", disse.

Durante quatro horas de sessão, Feijó disse ainda que o Banrisul é credor de um empréstimo no valor de R$ 100 milhões feito ao Banco Matone. O montante é do dobro do capital líquido da instituição. Com aplicação de juros o valor chegaria a R$ 114 milhões. "Nunca vi um banco fazer um empréstimo superior ao patrimônio líquido da empresa que solicita. Não existem 10 empresas no Rio Grande do Sul que conseguiram um empréstimo nesse valor", sustentou.

Também comentou sobre um suposto empréstimo concedido ao Banco Santos, que teve falência decretada em 2005. "O Banrisul teve uma perda gigantesca nesta operação. Por que fazer um empréstimo para uma um banco de São Paulo? Gostaria de saber quem estava sendo remunerado por isso?".

O vice-governador também mencionou possíveis irregularidades na contratação da empresa de publicidade P&G para a criação da logomarca do Banrisul, na abertura de novas agências, na distribuição dos prêmios de títulos de capitalizações, na remuneração de diretores, e nas licitações para a aquisição de computadores. Questionou ainda por que a empresa norte-americana Icatu Hartford é única que vende seguros no Banrisul. "Por que ela opera com exclusividade sem abrir para empresas locais?".

Em razão das supostas irregularidades, Feijó revelou que caso venha a assumir o executivo gaúcho, em substituição a governadora Yeda Crusius, afastaria o presidente do Banrisul, Fernando Lemos, e a diretoria da instituição. A conduta teria sido recomendado pelo Ministério Público Especial que atua junto ao Tribunal de Contas do Estado (TCE/RS), para que não Feijó não fosse acusado do crime de prevaricação. "Quando busquei orientação sobre qual deveria ser meu procedimento, fui orientado verbalmente pelo Ministério Público Especial a fazer isso", afirmou.

O vice-governador revelou que começou a ter acesso às denúncias em 2004, através de pessoas ligadas ao Banrisul, quando ainda era presidente da Federação das Associações Comerciais do Rio Grande Sul (Federasul). Todas as informações, segundo ele, constam em um dossiê que já teria sido entregue ao TCE/RS, ao presidente da Assembléia, Frederico Antunes (PP), e ao chefe da Casa Civil, Fernando Záchia.

Durante a audiência, Paulo Feijó afirmou que não conseguiu agendar um encontro a governadora Yeda Crusius para apresentar as denúncias contra Fernando Lemos. "Tentei conversar com a governadora no dia 31 de janeiro. Depois, nunca mais participai de reuniões do secretariado ou do governo. E, se eu não sou convidado, não vou abrir a porta e entrar", declarou.

Ele também reiterou que não tem qualquer desavença pessoal com Lemos e reafirmou o seu compromisso em colaborar com o governo. "Como vice-governador, me sinto na obrigação de encaminhar e esclarecer essas questões", complementou Feijó.

Ontem, o documento foi repassado à presidente da Comissão de Serviços Públicos, deputada Stela Farias (PT). Segundo o vice-governador, as denúncias também serão entregues ao procurador-geral de Justiça, Mauro Renner.

Nota oficial considera irresponsável e leviana a atitude do vice-governador

A governadora Yeda Crusius emitiu nota oficial ontem no início da noite lamentando a atitude considerada "leviana e irresponsável" de Paulo Feijó. Disse que mantém total confiança na gestão Banrisul e que não pretende levar adiante denúncias que não são acompanhadas de provas. Para a governadora o Banrisul "tem sido gerenciado com responsabilidade. Ele não é que nem uma empresa ou um armazém de esquina em que quem manda é uma pessoa. O Banrisul é uma SA. O Banrisul é feito de instâncias de decisão e está permanentemente sendo auditado", ressaltou. Ao fazer essas declarações, ainda durante à tarde, a governadora não fez referência direta ao nome do vice-governador, referindo-se a ele apenas como "este senhor". "Eu considero uma imensa irresponsabilidade (os comentários) em um momento que estamos colocando para avaliação do mercado um processo de capitalização do Banrisul", afirmou.

O presidente do Banrisul, Fernando Lemos, também reagiu com veemência as denúncias feitas contra ele por Feijó no Legislativo e se disse vítima de agressões, calúnias e difamações praticadas pelo vice-governador. "O assunto passou dos limites e está agora em jogo a minha honra", afirmou.

Lemos negou ter qualquer ligação com a empresa Gala Frigoríficos, de Vacaria, que, segundo Feijó, teria recebido 10 empréstimos seqüenciais sem ressarcimento ao banco. O presidente do Banrisul ainda justificou a transparência da administração do banco com a auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Estado, no final da gestão de Germano Rigotto, ainda em 2006, quando também comandava as instituições financeiras, que segundo ele teve a aprovação de todas as contas. "A minha gestão é limpa e transparente. Aqui não se esconde nada. Todas as minhas decisões não são só minhas, são de todo o Banrisul", justificou.

Quanto à denúncia de favorecimento ao Banco Matone, em um suposto empréstimo no valor de R$ 100 milhões, Lemos disse não haver irregularidades e que a transação de crédito consignado é legítima. "Não há nenhuma irregularidade no Banrisul", garantiu. Assegurou ainda que não pretende deixar a presidência do Banrisul, apesar das pressões do vice-governador e se disse totalmente contrário a privatização do banco.
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