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Década de páginas vazias

Alunos da rede estadual perderam pelo menos 350 dias de aula, quase dois ciclos letivos em 10 anos, devido a paralisações e falta de professores. No período, setor teve 11 secretários

Carol Medeiros e Maria Luisa Barros - O Dia

Rio - Cadernos em branco e olhares de quem não vê muito futuro pela frente. O atual quadro de abandono na escola pública fluminense é reflexo de uma década perdida. Nos últimos 10 anos, o Estado do Rio teve 11 secretários de Educação que não fizeram o dever de casa e levaram nota baixa em continuidade. Na soma das greves, paralisações e falta de professores ocorridas na gestão de cinco governadores, já se vão 350 dias sem aula. Na ponta do lápis, significa quase dois anos letivos inteiros no lixo. Esse é o tamanho do prejuízo de alunos que ingressaram em 1997 na 1ª série do Ensino Fundamental e hoje estariam no 2º ano do Ensino Médio.

De todas as crises na educação estadual, desde o Governo Marcello Alencar, a de agora é a mais longa. Só este ano, o prejuízo para professores, pais e cerca de 20 mil alunos chega a 98 dias sem aula. Os mais atingidos são turmas inteiras de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental, principalmente na Baixada Fluminense, São Gonçalo e Niterói, que, como as 19 turmas do Ciep 351 — Ministro Salgado Filho, no bairro da Grama, em Nova Iguaçu, aguardam em casa a chegada de professores anunciada em março.

Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a carga horária mínima anual, nas etapas dos ensinos Fundamental e Médio, deve ser de 800 horas, distribuídas por mínimo de 200 dias de aula. Conforme O DIA mostrou no dia 27 de abril, mesmo usando todos os sábados e férias de julho e janeiro será impossível repor, ainda em 2007, todo o conteúdo que deveria estar sendo dado desde 12 de fevereiro, quando teve início o ano letivo na rede estadual.

“Não há política educacional que funcione se não houver continuidade. Não há condição de ter mais de um secretário por ano, sem metas, e diretores de escola escolhidos por indicação política”, critica o matemático Ruben Klein, consultor em educação para a Fundação Cesgranrio.

PAIS NA BAIXADA SE DESESPERAM AO VER SEUS FILHOS OCIOSOS

Mesmo depois de quatro meses do início do período letivo, alunos do Ciep 351 — Ministro Salgado Filho, no bairro da Grama, em Nova Iguaçu, ainda não têm como estudar. Dezenove turmas de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental nunca tiveram professor. Alunos estão com cadernos em branco. Já os da 5ª a 8ª séries estão sem mestres na maioria das disciplinas.

O vigilante Levy Silva de Oliveira, 44 anos, morador da Rua da Roseira e pai de 5 filhos, é retrato do desespero. Entre os cinco, dois deles, Jéssica, 11, e Jéfferson, 4, alunos do Ciep Salgado Filho, ainda não tiveram aula. Júnior, 15, Bruna, 17, alunos do Ciep Barão de Tinguá, e Vítor, 4, que estuda na Escola Municipal Flor de Lis, têm, no máximo, 3 vezes por semana. “Não sei como será o futuro deles. Não tenho condições de colocá-los em colégio particular. Resta torcer para que a situação melhore logo”, diz ele.

Colega dos filhos, Max Ribeiro, 11, também está ocioso. Camila Campos, 12, não tem aulas às quintas.

A dona-de-casa Rosana Ribeiro, 26, vive o mesmo drama. Mãe de Vitor Hugo, 7, na 1ª série, e Jéssica, 10, na 2ª série, ainda não viu os filhos estudarem este ano. “Já perdi a conta das vezes que fui à escola reclamar. Não sei como será até o fim do ano. Será que vão repor as aulas?”, questiona. Na Rua da Roseira, a movimentação de crianças no dia de semana é semelhante ao de um domingo. “Elas não têm o que fazer e vão para a rua brincar”, comenta Rosana Ribeiro.

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