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Eleição com verba da Gautama

Irmão do prefeito de São João de Meriti recebeu verba de braço de empreiteira para campanha
Marcos Galvão - O Dia


Rio - Da cidade de Salvador, na Bahia, até São João de Meriti, na Baixada Fluminense, são quase 1.700 quilômetros. A enorme distância, no entanto, não foi obstáculo para o empresário Zuleido Veras, que mora na Bahia, injetar R$ 100 mil na campanha do vereador Jabes Silva, o Jabes Mocotó (PSDC), irmão do prefeito de São João de Meriti, Uzias Mocotó (PMDB). A verba saiu da Construtora Mandala Ltda., com sede em São Paulo, e apontada pela Polícia Federal como um dos braços da Construtora Gautama, acusada de liderar esquema de fraudes em licitações de obras no país.

Na prestação de contas entregue por Jabes Mocotó ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a construtora é responsável por mais de 50% do total gasto (R$ 175.450,00) pelo vereador na campanha para deputado estadual no ano passado. Ele teve 17.490 votos, mas não foi eleito.
Jabes disse que o dinheiro foi obtido pelo “amigo de um amigo”, mas não quis revelar nomes. “Sou engenheiro e trabalhei em São Paulo. Muitos empresários paulistas me conhecem. É natural o investimento na campanha”, argumentou.


Jabes disse que o dinheiro foi obtido pela coordenação de sua campanha e que ele não tem detalhes de quem o ajudou financeiramente. "O fato é que entreguei minha prestação de contas ao Tribunal Regional Eleitoral e elas foram aprovadas", afirmou, acrescentando: “Exigi apenas que as empresas fossem idôneas".

O Ministério Público Eleitoral informou que vai aguardar as investigações da Polícia Federal, na operação Navalha, para saber se há necessidade de convocar o vereador para maiores esclarecimentos.

A Gautama não é um nome estranho em São João de Meriti. No ano 2001, a Prefeitura realizou um convênio com a empresa para a realização de obras de saneamento nos bairros de Morro do Pau Branco e Parque Juriti. A obra teve convênio estabelecido durante o governo do ex-prefeito Antonio de Carvalho (PMDB), mas ganhou termo aditivo assinado no ano passado, na gestão de Uzias Mocotó, irmão de Jabes e atual prefeito. A Procuradoria do município não deu informações sobre o contrato. O ex-prefeito, atual presidente da Agência Reguladora de Serviços Públicos de Transportes do Estado do Rio (Agetransp), não retornou as ligações de O DIA.

O vereador Padre Adelar de David (PT), que acompanhou o projeto, disse que não existe nenhuma obra no bairro Parque Juriti. Segundo ele, o projeto, no valor de R$ 7 milhões, fez parte do programa Habitar Brasil , do governo federal, e inclui a construção de um posto de saúde, asfaltamento de ruas e a construção de uma pequena vila olímpica. “Os moradores estão cobrando até hoje da prefeitura. Quando chove, as ruas ficam cheias de lama”, disse ele.

Na rua 9, bairro Parque Juriti, o saneamento básico ainda é apenas uma promessa. “As ruas estão sempre cheias de lama. Para sair de casa é um sacrifício”, reclama Maria da Paz.

Vice do STF acusa PF de intimidação

O vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, acusou ontem a Polícia Federal de tentar intimidá-lo ao divulgar informações que segundo ele são falsas de que teria recebido presentes da construtora Gautama.Mendes cobrou providências do ministro da Justiça, Tarso Genro, e do diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e disse para ambos que o fato é extremamente grave e uma “canalhice”. Ele acusou que a PF usa métodos fascistas e que há uma cultura totalitária. Mendes criticou o fato de o conteúdo do inquérito, que é sigiloso, ter sido divulgado para a imprensa.

Até a noite de ontem, 28 acusados de envolvimento nas fraudes em obras públicas haviam sido soltos pela Justiça. Dois foram libertados ontem, após depor no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Um outro também foi liberado antes de depor. O STJ ouviu ontem 10 pessoas. O empreiteiro Zuleido Veras, dono da Construtora Gautama, apontado como líder do esquema, vai depor sábado. O filho dele, Rodolpho Veras, também.

NAVALHA PRENDEU ‘FIGURÕES’

A Operação Navalha foi deflagrada pela Polícia Federal (PF) no dia 17 para desmantelar esquema de fraudes em obras públicas. Quarenta e oito pessoas foram presas, entre elas o ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares (PSB), o deputado distrital Pedro Passos (PMDB-DF) e o assessor do Ministério de Minas e Energia Ivo Almeida Costa, além dos prefeitos de Sinop (MT), Nilson Leitão (PSDB), e de Camaçari, Luiz Carlos Caetano (PT). A maior parte dos presos eram políticos acusados de favorecer a Construtora Gautama, apontada como líder das fraudes. O dono da empresa, Zuleido Veras, também foi preso. O esquema atuaria em nove estados e no Distrito Federal distribuindo propinas e presentes.
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