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Ministério Público denuncia por contrabando os 24 acusados de participar da máfia dos jogos

Adriana Cruz e Flávia Duarte - O Dia

Rio - Os 24 acusados de envolvimento com a máfia dos jogos de azar responderão também por contrabando. A juíza da 6ª Vara Federal Criminal, Ana Paula Vieira de Carvalho, aceitou o pedido do Ministério Público Federal (MPF). Denúncia semelhante foi encaminhada ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, sugerindo que os três desembargadores e um procurador federal que teriam beneficiado a quadrilha também possam ser processados por contrabando no Supremo Tribunal Federal.

A tese do MPF é a de que as máquinas de videopôquer, videobingo e caça-níqueis utilizam dispositivos eletrônicos chamados ‘noteiros’ — peças que fazem o reconhecimento do dinheiro — que são sempre importados. Segundo a denúncia, tanto a Receita Federal quanto a Secretaria Nacional de Comércio Exterior proíbem a importação desses noteiros. Ontem, advogado da Betec — locadora de máquinas para os bingos — foi à 6ª Vara anexar ao processo notas fiscais de compras dos equipamentos de duas empresas paulistas.

O MPF considera que os suspeitos de terem concedido decisões judiciais favoráveis à utilização das máquinas também participaram do crime de contrabando. O grupo é acusado ainda de quadrilha, corrupção e exploração de jogo de azar.

MEDINA SE AFASTA

O ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pediu ontem afastamento do cargo e abertura de sindicância para apurar sua conduta. A iniciativa do magistrado teve como objetivo preservar a credibilidade do STJ e evitar qualquer constrangimento a seus colegas. O pedido será avaliado hoje em sessão secreta por 31 ministros. Entre as medidas que podem ser adotadas está a abertura de inquérito.

Como ministro, Medina concedeu liminar para liberar 900 caça-níqueis, da empresa Betec e de bingos. O advogado Virgílio Medina — irmão do ministro e um dos presos — é apontado na Operação Furacão, da PF, como negociador da sentença. Pela decisão favorável, Virgílio teria recebido R$ 1 milhão.

Segundo a PF, alguns dos presos tinham empresas que alugavam máquinas e outros eram sócios de bingos. A Betec teria como um dos sócios Belmiro Martins Ferreira. Paulo Ferreira Lino, presidente da Associação dos Bingos, seria dono dos bingos Alcântara, São João e Haddock Lobo. Eles são acusados de pagar propina a servidores.

NA PRÓXIMA FASE, FEDERAL VAI PESCAR ‘SARDINHAS’

Polícia Federal (PF) promete Furacão 2. Os novos alvos da operação seriam policiais civis e militares envolvidos com a máfia que explora jogos de azar. Ontem, o delegado Renato Porciúncula, da PF de Brasília, informou que vai concluir até o início da semana que vem o relatório com a análise do material apreendido em 70 endereços, dia 13, de magistrados, bicheiros, advogados, donos de bingos e policiais.

Porciúncula é um dos responsáveis pela primeira investigação que resultou na prisão dos chamados ‘chefões’ da quadrilha. Na nova etapa, os acusados são tratados pela Federal como ‘sardinhas’, peixes que seguem ‘tubarões’, grupo de 28 acusados que reúne os ‘comandantes’ da organização criminosa.

Reunião para legalizar bingos

Ex-gerente do Bingo Icaraí, José Luiz da Costa Rebello admitiu, no interrogatório de ontem na 6ª Vara Federal Criminal, ter participado de reunião com os advogados Sérgio Luzio Marques de Araújo e Virgílio Medina, irmão do ministro Paulo Medina, do STJ, para discutir a legalização dos bingos. Mas Rebello não soube dizer se o assunto envolvia a apreensão de máquinas de bingo e caça-níqueis. Ele afirmou ter intermediado o encontro dos advogados. A secretária da Associação de Bingos (Aberj), Ana Claudia Rodrigues do Espírito Santo, contou que recebia dinheiro dos bingos em envelopes, mas que não os abria. Ele seria usado para pagamento de ex-funcionários. Disse ainda que recebia, no início do mês, dinheiro do policial civil Marcos Bretas, mas não o enviava a nenhum escritório. O advogado Jaime Garcia Dias não respondeu ao interrogatório.

CRUZAMENTO DE DADOS

A corregedora da Polícia Civil, Ivanete Araújo, pretende cruzar dados de duas investigações da Polícia Federal para responsabilizar administrativamente os agentes acusados de receber propina da máfia dos jogos de azar. Em setembro, a Federal apreendeu pen-drive — arquivo portátil de computador — na prisão do ‘capo’ do jogo Rogério Andrade. Como O DIA noticiou à época, o equipamento tinha informações de pagamentos de propinas a agentes, batizados de ‘obras filantrópicas’, relacionando batalhões e delegacias. Esses dados serão confrontados com relatório da Furacão, que descobriu que o policial civil Marcos Bretas, um dos presos, pagava ‘mensalão’ a outros agentes para beneficiar a quadrilha. “Já pedi cópia do relatório. Vamos reunir os dados para identificar e punir aqueles que recebiam propina”, afirma Ivanete. Eles responderão administrativamente e poderão ser demitidos.

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