Denúncia sobre venda da VarigLog pode dar em nada
junho 10, 2008
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O escândalo da venda da VarigLog e da Varig, que envolve a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e sua secretária-geral, Erenice Guerra, tem potencial explosivo bem maior do que todas as denúncias que municiaram a oposição, até agora, contra aquela que é a candidata preferencial do presidente Lula à sua sucessão, nas eleições de 2010. Todavia, ele caiu no colo de uma oposição que, despreparada, apostou por meses a fio no desgaste da preferida de Lula forçando sucessivas denúncias em torno de um suposto dossiê, que reuniria supostas irregularidades com uso de cartão corporativo no governo de Fernando Henrique Cardoso e suas supostas autorias. Em meio a tantas suposições, ganharam centralidade no Congresso e na mídia gastos com tapiocas e pequenas despesas supostamente irregulares que banalizaram a denúncia de corrupção a tal ponto que ficou difícil para a opinião pública discernir o que realmente importa, quando se fala em uma ação de um agente público - o que é, afinal, ilegal? Quando é legítima uma ofensiva em nome da ética?
A forma patética como terminou a CPI dos Cartões, na semana passada, combinou com a fraca reação do Congresso às denúncias feitas pela ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil Denise Abreu - uma ex-procuradora que deu uma versão com razoável grau de detalhamento sobre a atuação de Rousseff no episódio da venda da VarigLog para o fundo americano Matlin Patterson e seus três sócios brasileiros que, já se suspeitava, seriam os laranjas do comprador estrangeiro para burlar a lei brasileira, que exige 80% do capital nacional em empresas aéreas.
Teoricamente, Abreu ofereceu à oposição tudo o que ela sempre quis: acusações suas, corroboradas por mais dois diretores da anac, de que a Casa Civil atuou para que a venda fosse efetuada à margem das exigências legais, atingem diretamente a ministra que pode disputar a Presidência; e, de quebra, trouxe de volta ao noticiário o compadre de Lula, o advogado Roberto Teixeira, cujo escritório teria atuado em favor dos compradores da Varig e da VarigLog. Como diriam os parlamentares oposicionistas que apostaram tudo no desgaste de Lula em 2005, quando paralisaram o governo devido aos escândalos do mensalão, tudo aconteceu na ante-sala de Lula.
Mais do que isso: a venda forçada pelas autoridades revelou-se completo desastre. A sociedade de mentira acabou na Justiça, que concluiu, por seus próprios meios, que o único dono da VarigLog era, de fato, o sócio americano, e tirou da sociedade os três brasileiros. Ao agir dessa forma, eliminando os laranjas da empresa, a Justiça expôs duplamente as decisões de governo corroboradas - mesmo que sob pressão - pela anac, na medida em que legalizou uma situação que existia de fato - tornou claro que a VarigLog foi vendida a um único sócio - e, ao mesmo tempo, expôs a ilegalidade da situação - o fato de a empresa estar totalmente sob as mãos do capital estrangeiro.
É sobre essa realidade que a Comissão de Infra-Estrutura do Senado pretende trabalhar amanhã, ao receber a ex-diretora Denise Abreu e mais seis pessoas para depor sobre a venda das duas Varigs. Note-se, no entanto, que o cenário não será uma CPI. Não é hoje tão fácil para a oposição mobilizar governistas para conseguir, com apoio de dissidentes, abrir comissões de inquérito, e o encurtamento desse espaço deve-se, ironicamente, à reação dos partidos da base ao cerco montado em torno da ministra no caso dos cartões corporativos do governo. De alguma forma, os governistas se obrigaram a uma organização mais articulada para a "blindagem" da ministra. É a mesma "blindagem" que agora conta a seu favor. A bancada do governo se profissionalizou. Os deslizes do passado oposicionista do PT são cada vez menos freqüentes.
Do lado da oposição, a ação política reduziu-se à amplificação de pequenos fatos - uma tendência que se consolidou na fracassada CPI dos Cartões. Ao despir a ação parlamentar de qualquer conteúdo crítico, banalizou a denúncia. A liderança oposicionista não deu à opinião pública a exata dimensão de cada uma das guerras que travou contra o governo. Corre o risco, agora, de equiparar a denúncia de venda irregular da Varig e da VarigLog à compra de tapioca com uso do cartão corporativo.
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