"Os atores do atraso são os mesmos. Enganam-se os que pensam que a UDN e as vivandeiras fazem parte do passado, como peças de um museu dos horrores. Atualmente, com novas vestes, cerram fileiras na grande imprensa, no PSDB e no DEM". ( Gilson Caroni Filho, professor de sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, em "Brizola e a poética do desengano")
Pedro Porfírio
Não é de hoje que pesquisas revelam o descrédito dos partidos e dos políticos, na proporção inversa da credibilidade de instituições como as Forças Armadas, Igreja Católica e Polícia Federal.
Os dados mais recentes, revelados pela Associação dos Magistrados do Brasil, chegam a ser brandos, na medida em que indicam que 22% dos entrevistados ainda confiam nos partidos políticos.
Uma outra consulta, realizada também pela AMB na primavera de 2007, aponta o descrédito dos próprios políticos: apenas 11,1% dos entrevistados manifestaram confiança, enquanto 81,9% responderam negativamente. Então, os partidos somavam 16,1% positivos e 75,9% negativos.
Esses números, às portas de uma nova campanha eleitoral, deveriam ser leitura obrigatória de todos os políticos e dirigentes partidários. O desprezo por essa avaliação só serve aos que não estão nem aí para a necessidade de preservar as instituições e a confiança no regime democrática.
O prestígio acumulado pelas Forças Armadas, hoje discretamente dedicadas às suas finalidades constitucionais, pode ter muitas interpretações. Não exagera quem conclui pela idéia de que o povo faz uma avaliação política no trato com o poder. Isto é, prefere os militares aos políticos à frente do Estado brasileiro.
Claro que não é isso. Se não o mesmo se aplicaria à Igreja Católica e à Polícia Federal. No entanto, deduz-se que a população considera que essas instituições estão cumprindo corretamente seus papéis e merecem o seu respeito.
Mas não precisava que os políticos, escolhidos por esses mesmos consultados, ficassem tão mal na fita. É como se os cidadãos exercitassem uma certa ambivalência: não confiam naqueles em que, na hora da urna, depositam seus votos. Pesquisas, afinal, não são mais do que sondagens que devem ser lidas com toda prudência. Há momentos em que algumas atitudes de políticos encantam, outros em que produzem efeitos contrários. São, portanto, sujeitas a mudanças de climas.
Falta de espírito público
Quem vive por dentro desse mundo deformado sabe, porém, que há uma escassez gritante de homens com espírito público. Infelizmente, você conta nos dedos de uma mão aqueles que atuam com a preocupação de prestar serviços, seja ao país como um todo, seja aos seus ideários, seja a categorias ou a comunidades.
Lamentavelmente, muitos dos que fazem belos discursos e aparentam defenderem grandes causas estão preocupados exclusivamente com o proveito eleitoral que podem tirar dos seus posicionamentos.
Sobre esse ponto, sou forçado a concordar com o escritor peruano Mário Vargas Llosa, para quem todo político, seja de direita, centro ou esquerda, só tem uma mira - o poder. A ele chegar, nele permanecer ou a ele retornar.
Os políticos se beneficiam do baixo nível de interesse dos cidadãos pela atividade pública. O processo de alienação é alimentado pelos laboratórios do poder, que instrumentalizam, exploram e manipulam os eleitores mal informados e com limitada capacidade crítica de discernimento.
Em alguns casos, os cidadãos assumem posturas críticas e demonstram capacidade de escolha.
Mas não se sentem motivados a um trabalho maior no apoiamento àqueles que consideram merecedores de seu voto.
As campanhas eleitorais transformaram-se em conflagrações definidas pelo poder econômico e pela esperteza. No seu limite, a Justiça Eleitoral procura agir no sentido de assegurar alguns princípios, como o da igualdade de oportunidades no acesso aos eleitores.
Essa vigilância é circunscrita aos períodos em que a campanha é deflagrada ou às violações próximas da campanha. Até hoje, ninguém ousou questionar o uso de onerosos sistemas de atendimento social, responsáveis pela eleição da maioria dos vereadores de uma cidade como o Rio de Janeiro, tida e havida como repositório de algum acervo de exigências.
Dividir para continuar
A compensação se dá no ambiente da chamada eleição majoritária. Se os parlamentares - estaduais e municipais - podem recorrer ao clientelismo e ao uso das máquinas públicas para alimentarem suas urnas, na escolha do chefe do Executivo há a possibilidade de uma avaliação tão diferente que um prefeito pode ser eleito com um número mínimo de vereadores de sua legenda.
Aí, no entanto, o sistema de poder atua com maior sofisticação e recorre a todo tipo de astúcias no atacado. De uns tempos para cá, criou a figura do marqueteiro, que pode ser fundamental, como aconteceu na eleição do bispo Crivella para o Senado, em 2002. O talento do seu marqueteiro trabalhou uma imagem baseada na exaltação de um projeto social de alcance limitado, mas que passou para o povo a idéia de um grande investimento em favor de comunidades rurais.
Antes do marqueteiro operar, entram em campo os articuladores, que recorrem a velhos e surrados artifícios, que foram atualizadas a partir da adoção de dois turnos para presidentes, governadores e prefeitos de cidades com mais de 200 mil habitantes.
A grande tarefa desses articulares é fragmentar os adversários. Neste momento, existe a possibilidade de uma frente para unir os partidos do campo progressista no Rio de Janeiro.
Essa é a preocupação dos que amargaram as derrotas nas três últimas eleições municipais, em que esses partidos ficaram fora do segundo turno, embora tenham aqui os maiores números de filiados e as militâncias mais atuantes.
Neste momento, porém, os articuladores da continuidade das mesmas políticas adotadas desde 1993 jogam todas as suas fichas para impedir que essa aliança seja cristalizada e obtenha o mesmo sucesso de 1998, nas eleições para o governo do Estado.
Para isso, contam com a insensatez de alguns, que colocam suas vaidades e seus projetos futuros em primeiro lugar. E mais: acrescentam ao seu estoque de peripécias o poder de sedução de suas máquinas administrativas e de seu poderio econômico.
Isso acaba embaralhando a cabeça dos cidadãos, para os quais, invariavelmente, todos os políticos têm por hábito exercerem seus mandatos em causa própria, independente dos seus discursos.
É aí que reside o grande perigo. Ou os homens públicos deixam de pensar como se essa fosse uma atividade privada, ou o regime democrático deixará de ser considerado um mal necessário, passando à condição de desnecessário e nocivo.
Os dados mais recentes, revelados pela Associação dos Magistrados do Brasil, chegam a ser brandos, na medida em que indicam que 22% dos entrevistados ainda confiam nos partidos políticos.
Uma outra consulta, realizada também pela AMB na primavera de 2007, aponta o descrédito dos próprios políticos: apenas 11,1% dos entrevistados manifestaram confiança, enquanto 81,9% responderam negativamente. Então, os partidos somavam 16,1% positivos e 75,9% negativos.
Esses números, às portas de uma nova campanha eleitoral, deveriam ser leitura obrigatória de todos os políticos e dirigentes partidários. O desprezo por essa avaliação só serve aos que não estão nem aí para a necessidade de preservar as instituições e a confiança no regime democrática.
O prestígio acumulado pelas Forças Armadas, hoje discretamente dedicadas às suas finalidades constitucionais, pode ter muitas interpretações. Não exagera quem conclui pela idéia de que o povo faz uma avaliação política no trato com o poder. Isto é, prefere os militares aos políticos à frente do Estado brasileiro.
Claro que não é isso. Se não o mesmo se aplicaria à Igreja Católica e à Polícia Federal. No entanto, deduz-se que a população considera que essas instituições estão cumprindo corretamente seus papéis e merecem o seu respeito.
Mas não precisava que os políticos, escolhidos por esses mesmos consultados, ficassem tão mal na fita. É como se os cidadãos exercitassem uma certa ambivalência: não confiam naqueles em que, na hora da urna, depositam seus votos. Pesquisas, afinal, não são mais do que sondagens que devem ser lidas com toda prudência. Há momentos em que algumas atitudes de políticos encantam, outros em que produzem efeitos contrários. São, portanto, sujeitas a mudanças de climas.
Falta de espírito público
Quem vive por dentro desse mundo deformado sabe, porém, que há uma escassez gritante de homens com espírito público. Infelizmente, você conta nos dedos de uma mão aqueles que atuam com a preocupação de prestar serviços, seja ao país como um todo, seja aos seus ideários, seja a categorias ou a comunidades.
Lamentavelmente, muitos dos que fazem belos discursos e aparentam defenderem grandes causas estão preocupados exclusivamente com o proveito eleitoral que podem tirar dos seus posicionamentos.
Sobre esse ponto, sou forçado a concordar com o escritor peruano Mário Vargas Llosa, para quem todo político, seja de direita, centro ou esquerda, só tem uma mira - o poder. A ele chegar, nele permanecer ou a ele retornar.
Os políticos se beneficiam do baixo nível de interesse dos cidadãos pela atividade pública. O processo de alienação é alimentado pelos laboratórios do poder, que instrumentalizam, exploram e manipulam os eleitores mal informados e com limitada capacidade crítica de discernimento.
Em alguns casos, os cidadãos assumem posturas críticas e demonstram capacidade de escolha.
Mas não se sentem motivados a um trabalho maior no apoiamento àqueles que consideram merecedores de seu voto.
As campanhas eleitorais transformaram-se em conflagrações definidas pelo poder econômico e pela esperteza. No seu limite, a Justiça Eleitoral procura agir no sentido de assegurar alguns princípios, como o da igualdade de oportunidades no acesso aos eleitores.
Essa vigilância é circunscrita aos períodos em que a campanha é deflagrada ou às violações próximas da campanha. Até hoje, ninguém ousou questionar o uso de onerosos sistemas de atendimento social, responsáveis pela eleição da maioria dos vereadores de uma cidade como o Rio de Janeiro, tida e havida como repositório de algum acervo de exigências.
Dividir para continuar
A compensação se dá no ambiente da chamada eleição majoritária. Se os parlamentares - estaduais e municipais - podem recorrer ao clientelismo e ao uso das máquinas públicas para alimentarem suas urnas, na escolha do chefe do Executivo há a possibilidade de uma avaliação tão diferente que um prefeito pode ser eleito com um número mínimo de vereadores de sua legenda.
Aí, no entanto, o sistema de poder atua com maior sofisticação e recorre a todo tipo de astúcias no atacado. De uns tempos para cá, criou a figura do marqueteiro, que pode ser fundamental, como aconteceu na eleição do bispo Crivella para o Senado, em 2002. O talento do seu marqueteiro trabalhou uma imagem baseada na exaltação de um projeto social de alcance limitado, mas que passou para o povo a idéia de um grande investimento em favor de comunidades rurais.
Antes do marqueteiro operar, entram em campo os articuladores, que recorrem a velhos e surrados artifícios, que foram atualizadas a partir da adoção de dois turnos para presidentes, governadores e prefeitos de cidades com mais de 200 mil habitantes.
A grande tarefa desses articulares é fragmentar os adversários. Neste momento, existe a possibilidade de uma frente para unir os partidos do campo progressista no Rio de Janeiro.
Essa é a preocupação dos que amargaram as derrotas nas três últimas eleições municipais, em que esses partidos ficaram fora do segundo turno, embora tenham aqui os maiores números de filiados e as militâncias mais atuantes.
Neste momento, porém, os articuladores da continuidade das mesmas políticas adotadas desde 1993 jogam todas as suas fichas para impedir que essa aliança seja cristalizada e obtenha o mesmo sucesso de 1998, nas eleições para o governo do Estado.
Para isso, contam com a insensatez de alguns, que colocam suas vaidades e seus projetos futuros em primeiro lugar. E mais: acrescentam ao seu estoque de peripécias o poder de sedução de suas máquinas administrativas e de seu poderio econômico.
Isso acaba embaralhando a cabeça dos cidadãos, para os quais, invariavelmente, todos os políticos têm por hábito exercerem seus mandatos em causa própria, independente dos seus discursos.
É aí que reside o grande perigo. Ou os homens públicos deixam de pensar como se essa fosse uma atividade privada, ou o regime democrático deixará de ser considerado um mal necessário, passando à condição de desnecessário e nocivo.
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