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Os vereadores do crime

Seis vereadores que hoje têm assento na Câmara Municipal do Rio foram beneficiados por alta concentração de votos em currais eleitorais controlados pelo tráfico de drogas ou por milícias nas zonas Oeste, Norte e Sul da cidade. A conclusão se baseia em dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Dois dos vereadores do crime estão presos: Jerominho (PMDB) e Nadinho (DEM). Os outros são Dr. Jairinho (PSC), Deco (PR), Liliam Sá (PR) e Jorginho da SOS (DEM).

CPI da Alerj e PF investigam indícios de que pelo menos seis vereadores tenham conquistado seus mandatos por força de milícias ou do tráfico


Fernanda Thurler
Pedro Vieira
Paula Máiran


Dados revelados pelo mapa eleitoral de 2004 põem mais de 10% dos vereadores do Rio sob a mira, ao mesmo tempo, da CPI das Milícias, da Polícia Federal e da Polícia Civil.

Por meio do cruzamento de informações do TRE, com os nomes de parlamentares eleitos no último pleito e os endereços das urnas que renderam mais votos para cada um, o Jornal do Brasil identificou seis vereadores beneficiados por alta concentração de votos de moradores de currais eleitorais instalados em terrenos sob poder de milícias ou do tráfico de drogas.

De acordo com o levantamento, quatro vereadores obtiveram mais da metade de seus votos na eleição passada em currais milicianos da Zona Oeste. Outros dois foram favorecidos por votação majoritária em áreas dominadas pelo tráfico, nas Zonas Sul e Norte.

O JB iniciou série de reportagens na edição do dia 13 sobre a interferência do tráfico, das milícias e do clientelismo no processo eleitoral, por meio da formação de currais eleitorais.

Jerominho (PMDB), atualmente na cadeia, reuniu em 12 das 97 zonas eleitorais do município 82,68% dos seus 33.373 votos, todas em Campo Grande e Santa Cruz, na Zona Oeste.

Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras (DEM), concentrou em oito zonas eleitorais de Rio das Pedras 80,77% dos 34.764 votos que o elegeram. Nadinho é suspeito do assassinato do inspetor de Polícia Civil Félix Tostes e enfrenta neste ano disputa, no seu reduto antes exclusivo, com um ex-aliado, o capitão da PM reformado Epaminondas de Queiroz Medeiros Júnior, investigado por envolvimento na milícia de Rio das Pedras e também do DEM.

O vereador Dr. Jairinho (PSC) conquistou o seu mandato com 70% de um total de 23.941 oriundos de territórios sob controle paramilitar na Zona Oeste. Com concentração em Bangu e representação relevante também em Realengo, Vila Kennedy, Senador Camará, Padre Miguel, Campo Grande, Santa Cruz, Paciência, Cosmos, Vila Kennedy, Inhoaíba, Magalhães Bastos, Vila Kennedy. No caso de Jairinho, o cruzamento de dados do TRE revelam que o sucesso eleitoral na região, ele herdou do pai, o deputado estadual Coronel Jairo, de mesmo partido, que obteve 66,75% dos votos concentrados na Zona Oeste.

O vereador Luiz André Ferreira da Silva, o Deco (PR), pode ser considerado um nanico perante os exemplos acima. Ainda assim, na última eleição, o ex-pára-quedista do Exército ganhou o posto de suplente com 52% de votos em Jacarepaguá, onde tem fincada suas bases nas comunidades do Mato Alto e Chacrinha, em região disputada, nesta campanha municipal com o policial militar Luiz Monteiro, o Doem (PTC).

O mapa do TRE demonstra também o poder de votos de candidatos beneficiados pelo tráfico, em áreas reservadas a campanhas com exclusividade às vezes total, outras, parcial. Os dados revelam indícios desse tipo de apoio a vereadores eleitos em 2004.

Eleita com 24.282 de São Conrado, Gávea e Vidigal, Lilian Sá (PR) teve, por exemplo, 4.013 votos em uma única zona eleitoral da Rocinha.

Líder comunitário do Complexo do Alemão, Jorginho da SOS (DEM), em sete zonas eleitorais, todas no Complexo do Alemão, atraiu os votos de 51,53% eleitores.

Autonomia precária

Para o cientista político Marcos Figueiredo, do Iuperj, currais tornam comunidades reféns de políticos locais: Esses políticos se sentem no direito de fazer o que quiserem. Os moradores têm plena consciência da situação política, estão coagidos e, se não obedecerem, serão expulsos. A ação do Estado tem que ser contundente porque essas organizações têm substitutos imediatos.

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