Correio do Brasil
Da Redação - de São Paulo
Ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o engenheiro Luiz Antonio Pagot comandou a instituição desde 2007, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até 2011, quando foi demitido pela presidenta Dilma Rousseff, após uma série ruidosa de notícias veiculadas na mídia conservadora, capitaneada pela revista semanal de ultradireita Veja, com base em dados produzidos pela quadrilha do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, segundo provas recolhidas por agentes da Polícia Federal (PF). Pagot conversou longamente com repórteres da revista semanal de centro IstoÉ, que está em bancas, e denunciou a existência de uma rede de corrupção, comandada por integrantes do PSDB, com objetivo de drenar os recursos das obras do Rodoanel, em São Paulo, para a campanha presidencial de José Serra, em 2010.
Nesta manhã, parlamentares da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira disseram que pretendem convocar Pagot para depor na comissão. Segundo ele, o ex-presidente da estatal Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), Paulo Vieira de Sousa, vulgo Paulo Preto, responsável pelas obras do Rodoanel, pediu-lhe, em 2009, que aprovasse um aditivo de R$ 264 milhões para a obra viária. Pagot teria negado, alegando que o governo federal já havia pago sua parte na obra. Mas em seguida, segundo ele, os tucanos teriam conseguido a aprovação dos recursos sem a necessidade da aprovação do Dnit. Pagot diz que, na ocasião, o procurador de uma empreiteira denunciou o desvio de 8% dos recursos do trecho sul do Rodoanel.
– Veio procurador de empreiteira me avisar: ‘Você tem que se prevenir, tem 8% entrando lá’. Era 60% para o Serra, 20% para o Kassab e 20% para o Alckmin – afirmou.
Em 2010, Preto foi acusado de desviar recursos de um suposto caixa dois dos tucanos. Na época, ele negou as acusações e processou os acusadores. Serra primeiro negou que o conhecesse. Paulo Preto disse então, em tom de ameaça:
– Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro.
Logo em seguida, Serra foi à imprensa para dizer que se confundiu por conta do apelido quando questionado “se conhecia algum ‘Paulo Preto“.
A reportagem da revista apurou que o comitê de Serra recebeu R$ 40 milhões em doações oficiais de empreiteiras que construíram o Rodoanel. Pagot também disse que que o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) teria lhe pedido ajuda a pagar as dívidas contraídas por ele com a Delta Engenharia, como se estivesse cobrando a empreiteira. Ele ainda afirmou, categoricamente, que o desvio de verbas da obra para o caixa 2 da campanha de José Serra era amplamente conhecido nos meios empresariais.
– Todos os empreiteiros do Brasil sabiam que o Rodoanel financiava a campanha do Serra – afirmou Pagot.
Ele, porém, duvida do possível convite para falar ao Congresso, na CPMI do Cachoeira e desdenha de seus participantes:
– Duvido que me chamem. Muitos ali têm medo do que posso contar – diz ele que, caso reafirme suas denúncias perante os deputados e senadores, poderá provocar a convocação de Serra para depor na CPMI, em plena campanha eleitoral.
Apoio a Dilma
Segundo Pagot. ainda na entrevista, o deputado federal José de Filippe, tesoureiro da campanha presidencial da então candidata Dilma, em 2010, também lhe pediu para arrecadar recursos junto a entidades do setor da construção civil e forneceu o número de contas bancárias da campanha. Neste caso, os recursos teriam entrado legalmente na campanha petista. O deputado federal do PT paulista, porém, respondeu à entrevista de Pagot dizendo que na campanha ele teria tido apenas um encontro com ex-diretor do Dnit quando este lhe ofereceu três aviões do então governador de Mato Grosso (atualmente senador), Blairo Maggi (PR), seu padrinho político. Mas que isso não se concretizou.
Filippe ainda disse que teve um segundo encontro com Pagot, após as eleições. Segundo ele, ”para buscar recursos para saldar as dívidas da disputa eleitoral”. Na ocasião, a campanha devia cerca de R$ 28 milhões.
Serra nega
Procurados pelo Correio do Brasil, assessores do ex-governador José Serra, hoje pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, afirmaram que tudo não passa “de uma calúnia pré-eleitoral aloprada”. “A acusação é inconsistente e a credibilidade dos envolvidos é zero”, disse o comitê de Serra, em nota distribuída à imprensa, neste sábado, na qual afirmam que o candidato tomará as “medidas judiciais” cabíveis.
Ainda na nota, o PSDB afirma que “a matéria é caluniosa. As campanhas do governador Geraldo Alckmin e de José Serra sempre contaram com doações declaradas à Justiça Eleitoral”.
Em outra nota, o prefeito Gilberto Kassab afirmou que a acusação é “improcedente e mentirosa” e que também acionará a Justiça. José Luiz de Oliveira Lima, advogado de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, foi pelo mesmo caminho e diz que também irá processar Pagot por “calúnia e difamação”.
Serra, diante das acusações de Pagot, entra na mira da CPMI do Cachoeira
junho 17, 2012
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