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Pacientes denunciam falta de estrutura e superlotação em hospitais públicos de Macapá

Corredores com pacientes 'internados' em bancos de madeira ao lado de lixeiras são rotina

Portal Amazônia

MACAPÁ - Filas de espera por atendimento, consultas adiadas e pacientes em corredores dos hospitais. A realidade dramática de quem depende da saúde pública no Amapá é desanimadora até para o paciente mais otimista. A concentração maior de pessoas em busca de atendimento está no Hospital de Clínicas Alberto Lima (HCAL) e no Hospital de Emergências Osvaldo Cruz - único pronto-socorro da cidade -, ambos na capital.

A dona de casa Edna Santos (50) está há três meses tentando realizar dois procedimentos no HCAL. O primeiro é agendar uma consulta para apresentar os resultados dos exames solicitados pelo médico em junho deste ano. O marido sofre com dores abdominais. Ela contou à reportagem doPortal Amazônia que semanalmente tenta também marcar uma consulta para o filho, com um urologista - sem sucesso.

"Quando chega a minha vez tem sempre uma história: não há vagas no momento, o médico está de férias ou pedem para voltar amanhã. Eu tenho outras coisas pra fazer e a saúde não pode esperar”, revoltou-se.

No Pronto-Socorro Osvaldo Cruz a situação é similar. A reportagem flagrou a chegada de um idoso com 103 anos que foi obrigado a andar com a ajuda de familiares até a sala de atendimento. O local não tinha cadeira de rodas ou maca disponíveis.

Por falta de leitos, pacientes são obrigados a receberem tratamento nos corredores. Eles ficam em bancos de madeiras desconfortáveis e ao lado de lixeiras, com risco de desenvolver infecção hospitalar. Sem estrutura adequada, as pessoas são obrigadas a improvisar e trazer de casa cobertores e travesseiros, que são inspecionados na portaria. Os funcionários responsáveis pela inspeção disseram que o procedimento é feito para evitar que bactérias de fora da unidade contaminem o ambiente; entretanto, eles não se mostraram preocupados com pacientes alocados perto de lixeiras dentro do próprio hospital.

A dona de casa Carmem Brasão (57) acompanha a mãe Maria Brasão de 77 anos no Hospital de Emergência Osvaldo Cruz para receber uma transfusão de sangue. O procedimento é feito no corredor há quase 24 horas. “Não permitiram a entrada de colchonete. Temos que aguentar o desconforto porque precisamos", lamentou.

Tratamento fora do Estado

Quem pode pagar por tratamento médico não mede esforço. O senador eleito pelo Amapá José Sarney (PMDB) foi internado com infecção respiratória no hospital particular UDI Hospital, em São Luís (no Maranhão), no último dia (28). Após receber alta no dia 31, deixou o UDI Hospital para internar-se no hospital Sírio-Libanês (em São Paulo), para check-up.

Como publicado no jornal Folha de São Paulo, o Senado gastou de fevereiro a julho deste ano 70% a mais com despesas médicas no hospital Sírio-Libanês, frente ao total pago em 2012 para atender congressistas, dependentes, servidores e até ex-senadores e seus cônjuges no hospital paulista. Os dados são Portal de Transparência do próprio Senado.

O Sírio-Libanês é o hospital preferido pela maioria dos políticos brasileiros para fazer de check-ups a tratamentos e cirurgias. Já quem busca assistência fora do seu Estado de origem, não tem dinheiro suficiente para hospitais particulares e precisa recorrer ao poder público tem somente o Programa de Tratamento Fora de Domicílio (PTFD). No Amapá, o programa atende cerca de 1,5 mil pacientes cadastrados.

O governo estadual custeia a passagem aérea para paciente e acompanhante. O paciente que consegue uma "vaga" no PTFD recebe R$ 24,75 por dia para manter-se enquanto faz tratamento.

Outro lado

A reportagem questionou a Secretaria de Estado da Saúde do Amapá (Sesa) sobre a situação precária dos hospitais visitados - todos de administração do governo estadual. O órgão informou que cada unidade de saúde está com obras previstas ou em andamento para melhorar o atendimento aos pacientes. Confira as mudanças em cada unidade:

Hospital de Clínicas Alberto Lima - localizado na Avenida FAB, no Centro de Macapá, o prédio passa por reforma e ampliação com custo superior a R$ 13 milhões. As obras contemplam a modernização das redes elétricas, hidrossanitárias, telefônicas, de dados e sistema fechado de televisão. Paredes, forros, telhados e sistema de tratamento de esgoto também serão trocados. Está prevista, ainda, a construção de outros dois centros cirúrgicos e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) com dez novos leitos, além da ampliação de laboratórios. Com as obras de reforma e ampliação, o número de leitos passará de 80 para 220. A reforma começou em junho deste ano e tem previsão para terminar em dez meses.

Hospital da Criança e do Adolescente - Com reforma orçada em R$ 15,9 milhões, o hospital que foi construído na década de 1970 terá área aumentada de 3 mil para 7 mil metros quadrados. O número de leitos vai de 92 para 151. As obras foram anunciadas em maio de 2013 e tem previsão de serem executadas em um ano e dois meses. O hospital fica na Avenida FAB, no Centro de Macapá.

Hospital Estadual de Santana (a 25 quilômetros da Macapá) - Obra com previsão de conclusão até 2014. A prioridade é a reforma da parte de nefrologia, onde pacientes que precisam de diálise são encaminhados para Macapá para realizar o tratamento. A Sesa não divulgou o custo da obra que inclui construção de dois pavimentos. O hospital terá 110 novos unidades hospitalares, totalizando 220 leitos.

Hospitais de Laranjal do Jari (distante 264 quilômetros da capital) - A unidade terá 103 leitos após a reforma, além de três novos blocos. As obras foram anunciadas em junho deste ano e tem prazo de execução em até 480 dias, ao custo de R$ 17 milhões.

Hospital de Oiapoque (a 560 quilômetros da Macapá) - Até o final deste semestre a reforma termina. A obra custa R$ 6 milhões e vai permitir atendimento em fisioterapia, psicologia e serviço social. Faltam 20% da obras. A ampliação do hospital deve "desafogar" o atendimento no local onde hoje funciona provisoriamente a Unidade Mista de Saúde de Oiapoque, que, segundo estatísticas da própria unidade, absorve mais de 80% do atendimento básico em saúde dos 20 mil habitantes da cidade.


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