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O PIB que tira o sono de Dilma

Economia brasileira cai 0,5% no terceiro trimestre, no pior resultado em quatro anos, e leva empresários e especialistas a aumentarem as críticas contra a presidenta


Luisa Purchio | IstoÉ

Por mais que o desempenho do Produto Interno Bruto dependa de uma rede complexa de fatores, ele funciona também como um medidor da eficiência da autoridade máxima de um país. Para a presidenta Dilma Rousseff, que gosta de ser vista como uma supergerente que controla todas as decisões do governo e que é chamada pelo empresariado de “economista-chefe” da nação (afinal, não foi ela que disse, sobre o programa de concessão, “o modelo, meu querido, é meu?”), isso é ainda mais verdadeiro. Sob esse aspecto, a divulgação, na semana passada, da queda de 0,5% da variação do PIB no último trimestre em relação aos três meses anteriores deve ter causado enorme aborrecimento a Dilma. O resultado foi o pior em quatro anos e coloca o Brasil na rabeira dos países emergentes quando os dados econômicos são comparados. Pior ainda: os números ficaram abaixo do de nações como Espanha e Portugal, até recentemente mergulhadas em profunda recessão.

O índice negativo reflete a queda da performance de diversas áreas. A agropecuária, que nos últimos trimestres foi o motor que impulsionou o crescimento econômico, caiu 3,5%. O saldo dos investimentos também foi ruim, com redução de 2,2%. “Os empresários brasileiros pararam de investir porque não confiam que o governo vai resolver os problemas econômicos”, diz Paulo Roberto Feldmann, professor de economia da USP. “Há uma queda de braço entre Dilma e o empresariado, que enxerga o governo como estatizante.” As críticas vêm de diversos especialistas. “Uma das coisas que fazem o investimento crescer é a estabilidade”, afirma Silvia Matos, pesquisadora de economia aplicada da Fundação Getulio Vargas. “O problema é que falta clareza nas regras. A taxa de juros, por exemplo, vai subir ou cair?” O investimento do próprio Estado, que depende de uma administração que equilibre gastos e arrecadação, também está baixo em comparação com o de outros países. O pequeno superávit primário é considerado por especialistas como um problema que precisa de solução imediata. “É hora de repensar as políticas fiscais”, afirma André Sacconato, diretor de pesquisa da Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN).

É consenso entre especialistas que destravar os programas de concessões de rodovias, aeroportos e do pré-sal pode ser o fator determinante para a retomada do crescimento. Na semana passada, o jornal “Folha de S. Paulo” publicou que assessores presidenciais avaliaram que o governo errou em fixar taxas baixas demais de retorno para os leilões de infraestrutura. Isso, na análise interna do próprio governo, afetou a confiança do empresariado e reduziu o interesse pelos programas de concessão. Uma boa notícia veio há duas semanas, com os leilões dos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte. Juntos, eles renderam R$ 21 bilhões ao governo.

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não há motivo para pânico. Mantega afirmou que o baixo resultado do PIB se deve à base de comparação com o segundo trimestre, quando a economia brasileira cresceu bem: 1,8%. “O PIB acumulado está em 2,3%”, disse o ministro. Para ele, ainda é possível fechar o ano com alta de 2,5%, conforme projeções recentes. Na quarta-feira 4, um novo indicador divulgado pelo IBGE demonstrou que o resultado do quarto trimestre pode, sim, ser bem melhor. Em outubro, a produção industrial brasileira cresceu 0,6% ante setembro. Detalhe: a maioria dos analistas previa drástica redução desse indicador. Os números positivos da produção industrial indicam o aumento significativo da demanda por produtos, o que por sua vez é resultado da volta da confiança do consumidor. Outro bom sinal é a geração de empregos. Em 2013, o Brasil criou 1,4 milhão de vagas com carteira assinada, marca que já supera o resultado do ano inteiro de 2012. A economia brasileira parece mesmo capaz de surpreender.



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