Metade dos municípios brasileiros, inclusive o Rio de Janeiro, pode sofrer falta de água no próximo ano, mas alertas não chegaram à campanha eleitoral
Zuenir Ventura | O Globo
Os alertas não chegaram ainda à campanha eleitoral e não se sabe por que, pois têm a ver com uma necessidade vital à sobrevivência humana. De um lado, o aviso de que a metade dos municípios brasileiros, inclusive o Rio de Janeiro, pode sofrer falta de água no próximo ano, como já está acontecendo em SP. Parece incrível que isso venha a acontecer no país com o maior potencial hídrico do planeta, mas o diagnóstico é da ANA (Agência Nacional de Águas), que até calculou o investimento para evitar essa escassez, que atingiria 125 milhões de pessoas: nada menos que R$ 22 bilhões. De outro lado, a matéria do “Fantástico” de domingo, revelando que essa crise nas cidades é consequência da devastação desenfreada da Amazônia, cuja floresta lança na atmosfera a umidade que vai se transformar em chuva nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Várias entidades e instituições estão preocupadas com o problema. A Confederação Nacional da Indústria, por exemplo, acaba de fazer um estudo mostrando que a redução das perdas no abastecimento é fundamental também do ponto de vista econômico, pois geraria ganhos de quase R$ 30 bilhões. Em SP, o Ministério Público Federal recomendou ao governador Geraldo Alckmin que apresente projetos para a implementação do racionamento nas regiões do Sistema Cantareira, a fim de impedir o colapso do manancial que abastece 45% da região. Por sua vez, a relatora da ONU para a questão, analisando a crise hídrica paulista, responsabilizou o governo, que não tomou providências. Citou o exemplo do Japão e da Suíça, onde a água do esgoto é tratada e, misturada à comum, tem excelente qualidade.
No Rio, não se fazem nem mesmo campanhas educativas para evitar o desperdício. Aqui molham-se canteiros e lavam-se carros à vontade, sem falar no hábito de “varrer” as calçadas não com vassouras, mas com mangueiras, diariamente, num ritual lúdico de esbanjamento. E não se adotam práticas como fechar a ducha enquanto se ensaboa ou a torneira da pia durante o ato de barbear. Quando há anos Gisele Bündchen recomendou que, como ela, as pessoas fizessem xixi tomando banho de chuveiro, foi tida como extravagante, embora o seu conselho fosse ecológica e economicamente saudável, porque, evitando dar descarga, poupam-se, segundo cálculos, doze litros por vez ou dois mil litros por ano. Multiplique-se o exemplo pela população de uma cidade, e o resultado será significativo.
Se até nossa famosa e rica top model mobilizou-se contra o desperdício, engajando-se num trabalho pedagógico de conscientização, não se entende por que nossos presidenciáveis estão indiferentes ao problema, sem apresentar sequer um estudo ou uma proposta para evitar a grave crise que se aproxima.
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