Em 2013, o partido arrecadou R$ 1,6 milhão para custear sua estrutura
Sérgio Roxo | O Globo
SÃO PAULO — Política e negócios se misturam na vida do eterno candidato a presidente da República José Maria Eymael. A sua empresa de eventos e o Partido Social Democrata Cristão (PSDC), que comanda desde a fundação, em 1997, funcionam no mesmo endereço, com o aluguel bancado pela legenda.
José Maria Eymael (PSDC) |
Por 12 anos, o partido e a Grunase, empresa de eventos do presidenciável famoso pelo jingle que exalta o seu nome, tiveram, no papel, a mesma sede, segundo documentos disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e na Junta Comercial de São Paulo. Em janeiro de 2010, Eymael transferiu oficialmente a Grunase para a sua casa. Mas um segurança e uma recepcionista do PSDC localizados pelo GLOBO garantem que funcionários da Grunase ainda trabalham no local, uma casa de 594 metros quadrados no Alto de Pinheiros, bairro de alto padrão da Zona Oeste de São Paulo.
Eymael reconhece que, no passado, partido e empresa funcionaram no mesmo endereço. Ele diz que a empresa ajudou a fase inicial do PSDC.
— Aqui era a sede da Grunase. Aos poucos, o partido foi tomando conta. Hoje só funciona o PSDC .
Eymael dá outra versão para a informação de que funcionários da Grunase ainda trabalham na sede do PSDC. Segundo ele, os funcionários só vão à sede do PSDC esporadicamente:
— A minha empresa tem como sede legal a minha residência, e temos funcionários que atuam de maneira virtual. (Eles vêm aqui) De passagem, para conversar comigo, para despachar.
Em 2013, o PSDC arrecadou R$ 1,6 milhão para custear sua estrutura. Desse total, 82% veio do Fundo Partidário. Segundo prestação de contas apresentada ao TSE, o partido gastou R$ 124.591,77 com aluguéis e condomínios, dos quais R$ 94.819 saíram da parcela de recursos públicos. Foi a terceira maior despesa da sigla naquele ano.
Criada em 1974, a Grunase tem como sócios, além de Eymael, a sua mulher e os dois filhos do casal. Com capital de R$ 396 mil, o objeto social da empresa vai de suporte técnico em tecnologia a serviços de publicidade. Mas, segundo Eymael, o foco da Grunase é a área de relações públicas e eventos. O democrata cristão diz que hoje a empresa tem ficado de lado na sua rotina diária:
— Já tenho uma vida estabilizada e posso me dar ao luxo de concentrar grande parte das minhas atividades no partido.
Patrimônio pessoal aumentou
Apesar de os negócios terem ficado em segundo plano nos últimos anos, Eymael tem conseguido enriquecer. O seu patrimônio declarado passou de R$ 1,5 milhão (em valores corrigidos pela inflação) em 2006 para R$ 5,1 milhões em 2014.
— Todo o meu patrimônio é fruto do meu trabalho. É uma coisa transparente — afirma Eymael.
O dirigente alega que ganhou dinheiro com vendas de imóveis no condomínio de luxo Alphaville, na Grande São Paulo, e por isso seu patrimônio cresceu. A comparação entre as declarações de bens apresentadas nas eleições de 2006 e 2014 mostra que o presidente do PSDC se desfez de dois imóveis que tinha na região no período entre uma disputa eleitoral e outra. Os registros no cartório indicam, porém, que o ganho obtido com as duas vendas foram de R$ 113 mil, enquanto o aumento real de seu patrimônio superou os R$ 3,5 milhões.
A principal diferença no patrimônio de Eymael são as aplicações financeiras, que não apareciam na declaração de bens de 2006. Em 2014, somavam R$ 2,2 milhões.
O líder da democracia cristã brasileira já disputou quatro vezes a Presidência da República: em 1998, 2006, 2010 e 2014. O melhor desempenho foi obtido em 2010, quando ficou em quinto lugar entre nove candidatos, com 89 mil votos. Antes de fundar o PSDC, ele foi duas vezes candidato a prefeito de São Paulo pelo PDC, em 1985 e 1992. Pela mesma legenda, elegeu-se deputado federal em 1986 e 1990.
O sempre presidenciável defende os partidos nanicos e se diz contra propostas que possam inibir a atuação dessas legendas. Argumenta que as siglas pequenas são as grandes responsáveis pela renovação na política brasileira atualmente — apesar de ele próprio ser o presidente do PSDC há 18 anos.
— Os companheiros é que querem. Acreditam que é importante a minha permanência — justifica o dirigente, ao falar sobre sua perpetuação no comando do partido.
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