Série de movimentações financeiras favoreciam empresa do ex-governador.
Pelo menos duas outras empresas estariam envolvidas.
Carlos Brito | G1 Rio
A investigação feita pelo Ministério Público Federal (MPF) que resultou na Operação Calicute mostra como foi montada uma rede de movimentações financeiras para abastecer a empresa Objetiva Gestão e Comunicação Estratégica, fundada em 2014 pelo ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, preso na quinta-feira pela manhã. As pistas seguidas pelos promotores mostram a existência de um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo pelo menos duas outras firmas: a Creações Opção Ltda. e a Trans-Expert Vigilância e Transporte de Valores.
Ao tratar do assunto na decisão, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, afirmou que, de acordo com o levantamento feito pelo MPF, o investigado Sérgio Cabral estaria, ao menos a partir de seu desligamento do Governo do Rio de Janeiro, atuando em atividades ilícitas de lavagem de dinheiro.
Ainda segundo despacho do juiz, por meio da quebra de sigilo bancário, telefônico e eletrônico da secretária de Cabral, Luciana Rodrigues, os promotores descobriram detalhes do contrato firmado entre a Objetiva e a Creações Opção - que seria uma firma de fachada. Segundo o levantamento, a Objetiva deveria prestar serviços de assessoramento estratégico a Creações por R$ 60 mil mensais durante seis meses. No entanto, o contrato extrapolou o período de vigência e a empresa do ex-governador recebeu R$ 675.720,00, conforme se constatou após a quebra de sigilo bancário de Cabral.
O contrato-padrão, que segundo o juiz possui termos vagos e imprecisos, o que possibilita a utilização por parte de qualquer contratante, foi fornecido por Branislav Kontic, assessor pessoal do ex-ministro Antonio Palocci, indiciado por corrupção passiva na 35ª fase da Operação Lava-Jato.
Segundo o levantamento feito pelo MPF, a Objetiva, que seria especializada em serviços de comunicação, jamais teria prestado os serviços que afirma desempenhar. Nas palavras do magistrado, proferidas no despacho, a empresa "estaria promovendo contratações fictícias, com o fim de legitimar o ingresso de recursos financeiros espúrios em seu patrimônio, típica atividade de lavagem de dinheiro". A firma, portanto, serviria apenas de fachada para ocultar movimentações financeiras que beneficiavam o ex-governador.
Os procuradores também descobriram documentos que indicam uma possível guarda de dinheiro do esquema de corrupção feita pela empresa Trans-Expert, firma de segurança gerida por David Augusto Câmara Sampaio, policial civil lotado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Ele seria muito próximo a Hudson Braga, ex-secretário de estado de Obras durante a gestão Sérgio Cabral e apontado como operador financeiro da organização criminosa desbaratada pela Operação Calicute. Segundo a investigação do MPF, a Trans-Expert guardaria dinheiro em espécie de Braga. Os valores seriam repassados para a Objetiva de Cabral.
"O que leva o Ministério Público Federal a suspeitar, com total coerência, que a empresa Trans-Expert, por meio de seu gestor, David, possui atividade suspeita que aponta para uma possível utilização de seus serviços para lavagem de dinheiro através da internalização de dinheiro em espécie nas contas da empresa Creações posteriormente repassado à Objetiva de Sérgio Cabral", afirmou o juiz, em sua decisão.
O G1 entrou em contato com a Trans-Expert para que a empresa se posicionasse sobre o assunto. Até o encerramento deste texto, porém, nenhum representante da firma havia retornado o contato. Por sua vez, a assessoria de Sérgio Cabral afirmou não ter os contatos de seus advogados para que estes pudessem falar sobre o caso.
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