Lideradas pela CDU de Merkel, as legendas do país redescobriram o valor de tocar a campainha para ganhar votos nas legislativas de setembro. Medida parece antiquada, mas também tem um aspecto moderno.
Jefferson Chase | Deutsch Welle
Rumo às eleições parlamentares de 24 de setembro, que deverão definir quem ocupará a cadeira de chanceler da Alemanha nos próximos quatro anos, os partidos políticos buscam ganhar todas as vantagens possíveis entre o eleitorado. Uma forma de fazer campanha que vem despontando entre as preferências das legendas alemãs é a militância porta a porta.
Militantes do Partido Verde alemão em campanha porta a porta |
A social-democrata Maja Lasić, legisladora regional em Berlim, é uma das entusiastas dessa técnica. Na última eleição, ela conquistou 7% a mais de votos que o próprio partido em seu distrito eleitoral – uma diferença que ela atribui à sua disposição em tocar as campainhas dos cidadãos.
"Consegui esse bônus pessoal principalmente por causa do intenso contato pessoal com eleitores", diz Lasić à DW. "A campanha porta a porta é ideal para isso. Você conhece as pessoa bem melhor do que em estandes de informação nos quais as pessoas não param porque não tem tempo."
A técnica da campainha não pode ser aplicada de forma universal. Lasić admite que o contato pessoal, exclusivamente, não conquista conservadores convictos, e uma pesquisa recente do instituto de pesquisas de opinião YouGov (de origem britânica, mas ativo internacionalmente) descobriu que a maior parte dos entrevistados disse que não conversaria com angariadores de voto porta a porta.
Porém, para alguns grupos, uma breve visita a domicílio pode levar a resultados impressionantes. O cientista político Simon Kruschinski, da Universidade de Mainz, diz que essa forma clássica de fazer campanha é particularmente eficaz com pessoas inclinadas a votar num certo partido, mas nem sempre confirmam o alinhamento político. Outro grupo com boa recepção para a técnica seriam os eleitores indecisos, segundo o pesquisador.
"Muitas pessoas esperam até o último minuto para decidir em quem ou que partido vão votar", explica Kruschinski. "Com eles, uma visita em casa realmente pode ser decisiva."
"Frequentemente, encontramos pessoas que não têm certeza se o SPD ainda representa seus interesses", concorda Lasić. "Um candidato que faz campanha além do usual e se esforça para estabelecer o contato pessoal com os eleitores os tranquiliza."
"Que bom que você disse isso"
Tradicionalmente, a campanha porta a porta não é tão popular na Alemanha como em outros países como os Estados Unidos. Mas, como destaca Kruschinski, estudos mostraram que a confirmação das inclinações dos eleitores aumenta em locais onde os políticos tocam a campainha. Assim, os voluntários de todos os partidos alemães – desde a agremiação populista de direita AfD (Alternativa para a Alemanha) até a legenda A Esquerda – estão sendo instruídos a ir para as ruas.
Esta semana, a conservadora União Democrata Cristã (CDU) promoveu a disposição de políticos de mobilizar os eleitores em suas casas como um dos fatores determinantes para três vitórias em votações regionais neste ano. A página do Facebook do partido de Angela Merkel até apresentou imagens de uma equipe da CDU, incluindo o secretário-geral da legenda, Peter Tauber, em campanha para conquistar votos na cidade de Würselen (oeste), reduto do candidato social-democrata a chanceler, Martin Schulz (ele já foi prefeito da cidade entre 1987 e 1998).
A CDU oferece sessões especiais de treinamento para ensinar a voluntários – frequentemente jovens – como abordar eleitores potenciais, e vários websites do partido contêm instruções sobre como fazer a campanha porta a porta corretamente. Segundo o SPD, uma boa "visita a domicílio" é composta de dois militantes partidários usando camisetas ou bottons que resistem à tentação do convite para entrar e tentando não ultrapassar uma média de três minutos para falar.
Já A Esquerda disponibiliza exemplos de respostas se um eleitor em potencial indicar um interesse num assunto específico, que pode ir de preços de aluguéis na Alemanha a exportações de armamentos. Chega a ser engraçado que todas as respostas comecem da seguinte forma: "Que bom que você disse isso – nós concordamos com você".
Porta a porta 2.0
Bater à porta dos eleitores pode parecer antiquado e quadrado, mas os partidos alemães estão combinando esse método testado e aprovado em campanhas anteriores com tecnologias modernas. O deputado federal do Partido Verde Michael Kellner afirma que os voluntários de sua legenda podem utilizar uma plataforma online para planejar as rotas rumo às casas dos eleitores.
A CDU foi mais longe, criando uma iniciativa chamada Connect17. As leis de privacidade alemãs proíbem o tipo de campanha eleitoral baseada em big data conhecida nos EUA, mas a CDU espera que o aplicativo, que cria uma rede de feedback entre as sedes do partido e os voluntários porta a porta, signifique uma vantagem decisiva ao atingir apoiadores potenciais, convencendo-os a votar num país onde ir às urnas é voluntário.
"Para nós, a campanha porta a porta é especialmente importante porque vemos muitos eleitores inclinados a votar na CDU que podemos mobilizar", diz o assessor interino de imprensa do partido, David Emres. "É mais uma mobilização, uma chamada à ação do que propriamente um ato de persuasão."
Mas apenas ir às ruas não basta – os voluntários precisam saber para onde direcionar os seus esforços. Kruschinski diz que gosta de "falar sobre a campanha porta a porta 2.0. Ela inclui os mecanismos tradicionais de comunicação interpessoal e o contato direto combinados com o apoio tecnológico, com os aplicativos e a análise de dados", avalia.
Resposta ao cansaço dos eleitores
O Partido Liberal Democrático (FDP) preferem se concentrar nas redes sociais. Nils Droste, assessor de imprensa da legenda, alude à campanha da CDU como "uma espécie de vodu". Mas se é ou não o segredo para o sucesso, a nova tendência poderia ajudar a combater o sentimento de desconexão que o eleitorado tem em relação aos políticos.
"Nessa era digital, na qual os partidos tem mais canais de mídia e os membros do partido ficaram em segundo plano, chegamos a uma encruzilhada e os políticos dizem: ok, temos que voltar às raízes. Temos que tentar conquistar as pessoas na porta de casa, e temos que usar os militantes do partido para a mobilização, ao mesmo tempo em que tentamos dar uma boa impressão aos cidadãos", afirma o cientista político Kruschinski.
O porta-voz do partido A Esquerda, Hendrik Thalheim, concorda. "Talvez isso combine com a mentalidade do eleitor. Há muita insatisfação [entre os eleitores], com as pessoas sentindo que não estão sendo ouvidas e que não têm contato com 'os lá de cima'. Isso [a campanha porta a porta] permite que rompamos um pouco com essas impressões, sinalizando que estamos aqui e que estamos procurando conversar, buscando o diálogo. Dá para fazer isso olho no olho numa soleira de porta", descreve.
A política Maja Lasić afirma que as interações pessoais às vezes ultrapassam os três minutos de conversa.
"Fui convidada para uma refeição, e alguns eleitores flertaram comigo. Outros contaram suas histórias", lembra a social-democrata. "Pessoas que gostam de pessoas sempre vão se divertir indo de porta em porta."
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