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Cooperativa indígena desafia máfia de alimentos na Amazônia

Uma cooperativa agrícola de uma pequena aldeia indígena na Amazônia desafia as máfias que controlaram há décadas a exploração e comercialização de alimentos na região.


Felipe Corona | EFE, Cacoal (Brasil)

Com a criação, em outubro, da Cooperativa de Produção e Desenvolvimento Indígena Paiter (Coopaiter), que permite a comercialização de alimentos sem a intervenção de terceiros, e a expulsão de madeireiros, em novembro, a aldeia Nabecob Abalakiba começou a ser ameaçada.


EFE/Beethoven Delano
EFE/Beethoven Delano

Depois do confronto entre indígenas e madeireiros expulsos, homens armados supostamente a mando dos invasores atacaram Naraimi Suruí, filho do cacique Anine, e sua esposa, Elisângela Dell-Armelina Suruí, eleita educadora do ano no Brasil, que lideram a cooperativa e saíram ilesos do ataque.

Cacoal, a 485 quilômetros de Porto Velho, é o único município de Rondônia onde os indígenas participam do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do Governo Federal.

Na aldeia Nabecob Abalakiba, a 45 quilômetros do centro de Cacoal, 20 famílias da etnia Paiter-Suruí comercializam através do PPA produtos cultivados por eles mesmos, como bananas, café, mandioca e castanha.

O estímulo à agricultura familiar, sob parâmetros de desenvolvimento sustentável, gera mensalmente para essas famílias indígenas aproximadamente R$ 6 mil.

"O que sentimos no trabalho do PAA é a valorização da nossa produção e buscamos melhorar a qualidade. Nós temos várias aldeias dentro do PAA: a aldeia Lobó, a Lapetanha e a Nabecob Abalakiba. É um início do nosso mercado", disse à Agência Efe Naraimi Suruí, um dos coordenadores do programa.

Entre os produtos vendidos pelos Suruí ao governo, que são destinados a alimentar comunidades carentes em todo o país, há cinco variedades de banana.

A aldeia também produz outros alimentos para consumo próprio, como amendoim, amêndoas, batatas, laranjas e tangerinas.

Com a organização adquirida através da cooperativa, as aldeias pretendem, além de melhorar a qualidade dos seus alimentos, conseguir melhores preços e evitar os "atravessadores", como são conhecidos os intermediários que antes ficavam com a maior parte dos lucros da produção agrícola indígena.

"Acredito muito que podemos nos fortalecer, e na união do trabalho, porque nós somos um povo que precisa de fortalecimento no trabalho e com o desenvolvimento sustentável", comentou Lana Suruí, uma das encarregadas da colheita de castanhas.

"A cooperativa vem reforçar tudo aquilo que nós estamos precisando" e, com o passar do tempo, "vai trazer um futuro melhor para os nossos filhos", apontou Lana.

O surgimento da cooperativa se deu meses depois de uma série de ações das autoridades para desmantelar uma rede de pecuaristas e fazendeiros acusados de provocar grande parte do desmatamento na floresta amazônica.

Em 2016, a Polícia Federal deteve os supostos líderes de uma máfia acusada de falsificar títulos de terras e desmatar 300 quilômetros quadrados de floresta no Pará com o propósito de extrair madeira de forma ilegal e depois converter essas áreas em pastos para gado e cultivos de soja e arroz.

A operação, que descobriu sete empresas de fachada para encobrir os crimes ambientais e a formação de um cartel, foi organizada após denúncia apresentada no Ibama por indígenas da região que acusaram os pecuaristas de invadir suas terras.


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