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Onde está o novo?

Mais do mesmo, infelizmente, é o que teremos dessas urnas que, inocente e idealisticamente, imaginava-se, seriam plebiscitárias, renovadoras


Por Nelson Paes Leme | O Globo

A menos de três meses das eleições, as pesquisas e a mobilização partidária retratadas pela mídia demonstram claramente que teremos as mesmas caras da velha política, os mesmos caciques e coronéis e a mesma ordem perversa que nos fez chegar ao descalabro jurídico-policial na práxis da representação popular a que chegamos nestes estertores da Nova República — inaugurada há 30 anos com a Constituição erroneamente congressual de 1988. 

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O único partido realmente inovador, com propostas concretas de mudança, o Partido Novo, não tem merecido qualquer atenção dos meios de divulgação e comunicação. Seus candidatos simplesmente são ignorados pela mídia, que só cobre e só dá espaço à velha politicagem de alianças espúrias e barganhas de conveniência, não ideológicas e não programáticas, em torno apenas de maior tempo na televisão, por exemplo.

De outro lado, o TSE silencia, irresponsável e conivente, com o status quo ante. Não entendeu a História nem as mudanças exigidas pela esmagadora maioria do povo brasileiro. Nenhuma mudança se vê nas regras antigas que nos levaram ao caos eleitoral responsável por impeachments e prisões de autoridades por malversação de fundos públicos, roubalheira deslavada de “caixas 2” e outros expedientes espúrios notórios. Com exceção da aplicação da Lei da Ficha Limpa, de iniciativa popular, não se vê um gesto do tribunal para tentar melhorar o sistema de eleições e essa vergonhosa propaganda eleitoral “gratuita” herdada dos grilhões da ditadura militar, como se fosse a coisa mais natural e corriqueira em democracias consolidadas, com seu vergonhoso escambo escancarado para a exposição pública dos candidatos.

Mais do mesmo, infelizmente, é o que teremos dessas urnas que, inocente e idealisticamente, imaginava-se, seriam plebiscitárias, renovadoras e de grande mobilização popular. Ao contrário, a decepção generalizada com a política faz com que o “candidato” mais cotado nas pesquisas seja a o voto nulo. Ou a abstenção. Ou ambos, pouco importa, o que é ainda mais terrível para a democracia.

Veja-se o quadro atual: a esquerda se aglutina em torno de um personagem de fancaria, completamente descompensado, com propostas mirabolantes de um socialismo do século passado, enquanto a direita se reúne em torno de um capitão de tropas reacionário e igualmente destemperado, que nunca apresentou um projeto de lei razoavelmente plausível em anos a fio de presença no Legislativo e defende as ideias mais retrógradas e reacionárias possíveis, chegando à apologia explícita da tortura. Ambas em busca desesperada do apoio de um assim chamado e notório “centrão”, fisiológico e pragmático em termos de assalto sistemático ao butim de um Estado paquiderme e centralizador. Sobra o multipresidenciável e multiderrotado ex-governador de São Paulo, insosso como só ele, como opção ao centro. Nenhuma proposta de mudança da Constituição. Nenhum enfrentamento das questões estruturais que travam o país a despeito de sua pujante economia potencial.

O Brasil é hoje a oitava economia do planeta, com mais de 200 milhões de almas. O FMI já o coloca na quinta posição em termos de PIB até meados do século, tendo apenas China, Índia, EUA e Indonésia (nessa ordem) à nossa frente. À frente da Rússia, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. Temos menos de 6%, em média, de população favelada e uma classe média pujante e sólida. Nossa indústria aeronáutica é reconhecida como uma das mais bem-sucedidas do planeta e é cobiçada pela Boeing e congêneres. Mas importamos caças suecos e franceses para nossa defesa... Seremos brevemente o maior exportador de commodities do mundo, como já somos hoje o maior exportador de proteína animal e um dos maiores de soja. Mas insistimos numa política de republiqueta de bananas. Na manutenção de uma infraestrutura modal de transportes, portuária e de armazenamento anacrônica. Numa divisão federativo-tributária da República Velha e em regras inacreditáveis de representação política como essa vergonhosa barganha de segundos de televisão.

E o que fazem os tribunais superiores? Situam-se sistematicamente na direção do atraso. Do gongorismo e do barroco, quando suscitados esses quesitos. O Brasil das ruas e da economia real nada tem a ver com o Brasil do Plano Piloto de Lúcio Costa. Ali se situa a mais retrógrada, régia e medieval burocracia. Aqui se produzem riqueza e impostos escorchantes para a manutenção daquela máquina obsoleta. Onde estão esses dados nos discursos dos candidatos que se apresentam e que são diariamente expostos por uma mídia sem imaginação nem criatividade? Mais do mesmo é o que teremos com esses nomes que a imprensa irresponsavelmente abana e insufla. Nada de novo no front. Lamentavelmente.

Nelson Paes Leme é cientista político

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