Empreiteira UTC doou R$ 1,3 milhão para o PT, 88% do que distribuiu na campanha
Dono da UTC, Ricardo Pessoa também preside a Abemi, associação que tem convênio sem licitação de R$ 228,7 milhões com a estatal
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL - FOLHA DE SÃO PAULO
Cinco empreiteiras associadas da Abemi (Associação Brasileira de Engenharia Industrial) e que mantêm contratos com a Petrobras doaram, juntas, R$ 2,5 milhões para políticos do PT em vários Estados.
As empresas UTC, Genpro, Engevix, Potencial e Odebrecht mantêm pelo menos R$ 775,6 milhões em negócios com a petroleira, segundo levantamento feito pela Folha.
Ontem, o jornal "O Globo" revelou que em março último a Petrobras e a Abemi assinaram um convênio, sem licitação, no valor de outros R$ 228,7 milhões, com validade até 2008.
Em nota divulgada ontem, a Petrobras afirmou que os recursos enviados à Abemi, para um programa de qualificação profissional, não chegam às empresas filiadas. A estatal não confirmou se mantém contrato direto com as empresas filiadas da entidade.
Contratos
A análise da base de dados da estatal confirmou dois contratos com a UTC, no valor de R$ 177,4 milhões, dois com a Genpro, de R$ 20 milhões, sete com a Engevix, no valor de R$ 460,5 milhões, 20 com a Potencial Engenharia, no valor de R$ 100,7 milhões, e um no valor de R$ 17 milhões com a Norberto Odebrecht.
A maioria dos contratos foi feita pela modalidade de convite, que prevê uma disputa entre concorrentes.
A Abemi, entidade sediada em São Paulo que reúne empresas de engenharia, é presidida por Ricardo Ribeiro Pessoa, proprietário da UTC Engenharia. A empreiteira doou R$ 1,3 milhão para políticos do PT -88% do total que distribuiu na campanha.
A maior parte das doações da UTC, de R$ 700 mil, foi para o candidato derrotado ao governo de Mato Grosso do Sul, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Antes de entrar no partido, Delcídio foi diretor da área de gás da Petrobras, em 1999.
O último repasse da UTC para Amaral, de R$ 400 mil, ocorreu no dia 26 de outubro. Um dia depois, a Genpro, outra empreiteira com negócios com a Petrobras, depositou R$ 300 mil na conta do comitê financeiro único do PT de Mato Grosso do Sul.
Outra empresa integrante da Abemi, a Potencial Engenharia, fez uma única doação em seu nome. Foram R$ 60 mil para Jaques Wagner (PT), governador eleito da Bahia.
Integrante da Abemi, a Engevix Engenharia também privilegiou políticos do PT. De um total de R$ 880 mil em doações, a empresa destinou R$ 365 mil para políticos do partido. Como nos casos da UTC e da Genpro, a Engevix destinou recursos à campanha de Delcídio Amaral (PT-MS), R$ 200 mil.
Depois do PT, o partido que mais recebeu da Engevix foi o PMDB, com R$ 150 mil. O governador reeleito do Espírito Santo, Paulo Hartung, aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ficou com R$ 100 mil.
Do grupo de cinco empresas, a construtora Odebrecht foi a única que não privilegiou políticos do PT. Ela doou, ao todo, R$ 1,5 milhão, dos quais R$ 325 mil foram para candidatos do PT, principalmente para o candidato derrotado ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante (R$ 300 mil). Outros R$ 657 mil foram doados a políticos do PSDB e R$ 180 mil para nomes do PMDB.
Em 2002
Segundo a UTC, as doações das últimas eleições repetiram o comportamento da empresa nas campanhas anteriores. Os números do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), contudo, revelam que, em 2002, a UTC destinou apenas R$ 20 mil a políticos do PT, do total de R$ 1,04 milhão doado (valor da época).
Naquela eleição, o principal destino foi a campanha de Álvaro Dias, então no PDT, hoje senador pelo PSDB, ao governo do Paraná. A campanha recebeu R$ 781 mil da UTC.
Em 2002, a empreiteira Engevix doou R$ 290 mil para dois comitês financeiros e sete candidatos -nenhum filiado ao PT. A Odebrecht doou R$ 2,4 milhões, dos quais apenas R$ 100 mil foram políticos do PT.
A Genpro e a Potencial não fizeram doações em 2002.
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