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Telefonemas ligam deputado do PT a envolvido com dossiê

ANDRÉA MICHAEL
RANIER BRAGON
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A quebra do sigilo telefônico dos envolvidos na tentativa de compra do dossiê antitucano revela o nome de mais um deputado federal do PT que manteve contato com os envolvidos no episódio. Trata-se de Carlos Abicalil (MT), que trocou pelo menos 20 ligações com Expedito Veloso, um dos negociadores da documentação.

As ligações entre os aparelhos celulares dos dois ocorreram entre 17 de agosto e 12 de setembro e se concentram nas datas em que Veloso --ex-diretor de Gestão de Riscos do Banco do Brasil e integrante da campanha de Lula-- esteve em Cuiabá para negociar a compra dos papéis.

No dia 22 de agosto, por exemplo, véspera da primeira de três idas de Veloso à capital de Mato Grosso, os dois, Veloso e o deputado, trocaram sete ligações, segundo as quebras de sigilo sob análise da CPI dos Sanguessugas e da PF.

Além de Veloso, os dados mostram que o gabinete de Abicalil em Brasília recebeu, no dia 5 de setembro, pelo menos duas ligações de Valdebran Padilha, escalado pela família Vedoin, apontada como coordenadora do esquema dos sanguessugas, para negociar com o PT o dossiê contra tucanos.

Os empresários Darci e Luiz Antonio Vedoin pretendiam vender a petistas, por R$ 1,7 milhão, documentos e informações que supostamente incriminariam candidatos do PSDB, em especial o hoje governador eleito de São Paulo, José Serra. O principal adversário do tucano na disputa pelo governo paulista era o senador petista Aloizio Mercadante (SP).

Abicalil disse ontem à Folha que as ligações telefônicas com Veloso foram provavelmente motivadas pela ida do diretor do BB a Cuiabá. Segundo o deputado, Veloso afirmou que iria a Mato Grosso "tratar de assuntos da campanha", mas não teria dito quais assuntos. Abicalil negou ter conversado com Valdebran.

O primeiro nome de um deputado que surgiu na investigação sobre o dossiê foi o do ex-presidente do PT Ricardo Berzoini (SP). Na ocasião, Berzoini era coordenador da campanha de reeleição do presidente Lula. Deixou o cargo e se afastou da presidência do partido devido ao episódio.

Conforme a PF, o "articulador" da negociação para a compra do dossiê foi Jorge Lorenzetti, então coordenador de inteligência da campanha de Lula e subordinado a Berzoini.

A análise do sigilo telefônico indicou que o comitê de campanha de Berzoni fez ligações para Osvaldo Bargas, também investigado pela PF como um dos negociadores do dossiê. Outras chamadas foram feitas para a Caso Sistemas, empresa em nome da mulher do ex-secretário particular do presidente Freud Godoy.

As quebras de sigilo mostram ainda que o escritório nacional do PT em Brasília também fez ligações para o celular de Abicalil. O número foi apresentado à PF por Lorenzetti, em depoimento, como sendo de seu local de trabalho.

Outro lado

Deputado federal mais votado em Mato Grosso, Carlos Abicalil, 44, negou que tenha participado ou sido informado da negociação entre a família Vedoin e petistas para a compra do dossiê. Ele afirmou que "provavelmente" conheceu Expedito Veloso.

"A única pessoa com quem conversei foi com esse senhor, provavelmente na data em que ele foi a Cuiabá. Eu o conheci através desses telefonemas. Talvez tenha estado como ele no comitê nacional. Quando ele foi a Cuiabá, quis saber o endereço do meu escritório", disse.

O deputado afirmou que, pelo que se lembra, as conversas giraram apenas em torno da ida de Veloso a Mato Grosso, mas disse não saber o que o diretor do BB faria na cidade.

"Provavelmente, o Expedito, que trabalhava no comitê nacional, faria alguma questão em relação à campanha. Mas precisamente que assunto seria... (...) não troquei esse tipo de informação", afirmou.

Abicalil negou ter falado com Valdebran Padilha.

A Folha deixou recados para Expedito Veloso na noite de ontem, mas não recebeu resposta.

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