Relatório preparado antes do acidente reclama de uso de material inadequado em outras partes da obra do Metrô
Um dos relatos mais impressionantes trata da futura estação Faria Lima; fiscais citam "gambiarras" no sistema de encanamento
ROGÉRIO PAGNAN e KLEBER TOMAZDA
REPORTAGEM LOCAL - FOLHA DE SÃO PAULO
Relatórios da equipe de fiscalização do Metrô de São Paulo revelam que o Consórcio Via Amarela usou na execução das obras da linha 4 material de "qualidade questionável" e inadequado, além de desprezar o veto dos próprios fiscais para o uso desse tipo de material.
As irregularidades constam de um relatório com 46 itens produzido por engenheiros e técnicos do Metrô, entre maio de 2005 e dezembro de 2006 e enviado pelo Metrô na semana passada à Assembléia e ao Ministério Público. Ainda não teriam sido solucionadas.
Não há registros no relatório de problemas no local das obras da futura Estação Pinheiros, onde no dia 12 de janeiro sete pessoas morreram.
Um dos relatos mais impressionantes, de outubro passado, diz respeito às obras no local da futura estação Faria Lima. Os fiscais presenciaram os trabalhadores do consórcio fazendo "gambiarras" com o sistema de encanamento das obras, avaliadas em R$ R$ 2,1 bilhões.
"Os tubos e conexões, de aparente qualidade questionável, não foram fornecidos pelo mesmo fabricante. Tendo sido usado o procedimento de aquecimento do tubo para ligação com as conexões. Este procedimento é condenável em todos os manuais de fabricantes", afirma trecho do documento.
As obras da linha 4 são realizadas pelo Consórcio Via Amarela, formado pelas maiores construtoras do país: OAS, CBPO (do grupo Odebrecht), Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.
Outro relato revela ainda que o consórcio continuou a utilizar material inadequado mesmo após ser alertada pelos fiscais da irregularidade. Isso aconteceu, segundo documento, durante a implantação da drenagem pluvial do Pátio Vila Sônia, em agosto de 2006.
"Mesmo com a não conformidade número 44 do dia anterior, com a presença do representante da pedreira constatando que a pedra enviada não estava dentro dos padrões, o consórcio continuou usando o material inadequado, lançando-o nas valetas de drenos da via. Portanto, os sete primeiros drenos executados não estão conforme especificado no projeto", diz trecho do relatório.
Das 46 "não conformidades" relatadas pelo fiscais, 19 se referem à utilização de concreto, como rachaduras e fissuras.
Um relato de novembro passado, sobre as obras da estação Paulista, os fiscais encontraram um "acostelamento" no túnel, traduzido como "falta de concreto projetado".
Ainda na estação Paulista, o fiscais apontam outro problema, também com concreto.
"[A] AICE n.º 025/2006 determina a espessura do concreto projetado da parede do poço 1 [Belas Artes]. Porém, no campo outros critérios estão determinando a sua espessura. Solicito detalhar as espessuras reais do poço 1 e a sistemática para a sua definição", diz relato.
"Não-conformidades"
Além dos 46 itens do relatório, há registros de outras 245 "não-conformidades", mas que já teriam sido resolvidas.
No texto não há descrição dessas outras constatações. Sobre a estação Pinheiros, há apenas um registro, na lista dos sem descrição. O Metrô informou que se tratava de uma pendência ambiental, já resolvida.
Procurado pela Folha, o Metrô disse não considerar grave os problemas relatados pelos fiscais, já que serão solucionados pelo consórcio. Isso mostraria também o bom trabalho de fiscalização da companhia.
Fiscais citam 46 problemas na linha 4 do metrô de SP
fevereiro 08, 2007
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