Polícia Legislativa registrou no ano passado 603 infrações, de 23 tipos diferentes; as mais usuais são extravios e estelionatos
Relatório interno relata também casos de corrupção de menores, ameaças por telefone e sorteios falsos de automóveis na Casa
ADRIANO CEOLINDA
SUCURSAL DE BRASÍLIA - FOLHA DE SÃO PAULO
Mais conhecida pelos escândalos de corrupção e manobras políticas, a Câmara dos Deputados também é usada como local para a prática de uma série de golpes e crimes comuns como furtos, roubos e até a corrupção de menores.
Os casos são registrados e investigados pelo Depol (Departamento de Polícia Legislativa), formado por um efetivo de 256 agentes. Sua principal arma é um circuito interno de TV com 293 câmeras posicionadas em pontos diversos da Casa.
A Folha obteve acesso a trechos de um relatório de atividades do Depol que deverá ser entregue à direção da Câmara após o Carnaval.
O documento mostra que, em 2006, foram registradas 603 ocorrências, 63 a mais que em 2005 (aumento de 12%). O relatório classifica 23 tipos de infrações -as mais comuns são extravios e estelionatos.
Entre os estelionatários, há diversos golpistas. Em fevereiro passado, por exemplo, Rômulo Magno Rodrigues foi detido pelo Depol por "vender vagas de trabalho" na Câmara.
O rapaz foi surpreendido no estacionamento da Casa "vendendo vagas para a função de brigadista". Segundo relatório específico do caso, Rodrigues cobrava entre R$ 300 e R$ 1.000 das vítimas.
Ele teria dito a agentes do Depol "que não tem idéia de quanto já recebeu" e que "através de sua lábia as pessoas acreditavam". Até deputados acabam sendo vítimas.
Em outubro de 2005, Josevan Martins da Silva, 33, apresentou-se ao então deputado Marcos de Jesus (PFL-PE) como vereador pernambucano.
Dizendo-se correligionário dele no Estado, Josevan convenceu Marcos a lhe dar quantias entre "R$ 150 e R$ 220". Descobriu-se depois que Josevan mora em Samambaia (DF).
Telefonemas
Outros casos aplicados contra deputados são ameaças por telefone. Em 2006, o Depol recebeu várias ocorrências sobre uma pessoa que se identifica como "Dr. Maurício" antes de pedir dinheiro.
Com o auxílio da Polícia Federal e da Polícia Civil, descobriu-se que as ligações de "Dr. Maurício" foram feitas dentro de um presídio localizado no Rio de Janeiro. Há registros também de seqüestro virtual e sorteios falsos de automóveis.
Outra trapaça comum é chamada "golpe do defunto". Uma pessoa liga para o gabinete do deputado e diz que precisa de dinheiro para pagar o enterro de uma pessoa conhecida dele.
O Depol não foi criado para investigar deputados, mas uma denúncia enviada ao órgão resultou num processo no Supremo Tribunal Federal contra o ex-deputado Lino Rossi (PP-MT). Antes, foi aberto um inquérito na Procuradoria Geral da República, ao qual a Folha teve acesso.
Licenciado da Câmara em 2005, Rossi usou indevidamente passagens aéreas do gabinete de sua suplente, Thaís Barbosa (PMDB-MT).
Segundo o relatório, Rossi também se apropriou de 8.500 selos do gabinete de Thaís. Rossi responsabiliza os assessores pelos desvios.
Corrupção de menores
Em 2006, as câmeras do circuito interno de TV ajudaram a desvendar um caso de tentativa de corrupção de menores para fins libidinosos. Como o caso está sob segredo de Justiça, a Folha cita o acusado apenas por suas iniciais. Dois adolescentes que trabalham como aprendizes na Casa acusaram V.F.P, 26, de assédio sexual.
Segundo os menores, V.F.P. ofereceu até R$ 1.000 para manter relações sexuais com eles. Em depoimento, V.F.P. confirmou ter abordado as vítimas com oferta de dinheiro, mas não com propostas para manter relações sexuais.
Ocorrência de crime "comum" aumenta 12% na Câmara
fevereiro 18, 2007
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